O Carvalho e a Flor
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Autor Claudette Grazziotin
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/23/2005 6:27:26 PM
Um imponente e antigo carvalho
entorpecido
no seu soturno desencanto e dor,
viu explodir em festa, à sua sombra,
a beleza sem igual de
linda flor.
E, ela era tão jovem e tão bela
com suas delicadas pétalas a ondularem
exalando tal perfume, tal frescor
que o solitário carvalho sentiu-se
invadir, subitamente, por um frêmito de
apaixonado ardor,
extasiado diante do encanto irresistível
do olhar tão pleno de azul daquela flor.
E renasceu a vida no seu tronco
bebendo ávido na seiva juvenil,
tão feminino vigor. E a eternidade,
sonhou possível ao seu lado,
na felicidade de contemplá-la
a desnudar-se linda,
a revelar-lhe seu encanto,
sem pudor. Mas, em seu enlevo,
não percebeu que tanta luz,
aroma, graça, assim,
se derramava em tons de céu
para o ousado carinho
que lhe eriçava as pétalas,
o roçar de um viçoso talo de capim.
E, quando um dia,
ofuscado pelo dourado
que reveste os campos, à hora do albor,
viu arrancados por mãos apaixonadas,
o talo de capim e sua pequena e bela flor,
sentiu-se morrer atraiçoado,
trespassado por flecha tão cruel,
envenenada de ilusão, de tão imensa dor.
No lugar onde tanta beleza
seu coração extasiara,
restou um pequeno diamante reluzente, azul,
da cor do olhar da amada
para sempre ausente,
nascido do pranto de seus olhos tristes
ou do orvalho que brotou da terra,
desejando germinar um novo alvor.
Imerso em tanto desespero, insanidade
e dor, o velho carvalho não viu
enlaçada num esquecido canto
de seus fortes ramos, sofrida,
delicada, paciente
exalando um perfume inebriante,
desabrochada em plenitude de cores,
sazonada, uma orquídea,
puro deleite sedutor,
que só para ele tinha olhos,
e, ignorada, o fitava apaixonada,
não menos linda que sua jovem flor;
sonhando e esperando
o momento de felicidade
de ter para si, uma só mirada do seu
amado carvalho sofredor.
Nesse dia, luminosa, inteira,
ao abraço do velho carvalho,
ela se entregaria,
com a imortalidade lhe presentearia
e, então, ele conheceria
a beleza, a força e o fulgor
do inebriante prazer de, enfim, viver
um grande e verdadeiro amor!
P.Alegre, Equinócio de Outono de 2005
ILUSTRAÇÃO: MERLIN E NIMUE - Gustave Doré
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 11
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