O dedo ou a Lua...
Autor Nuno Michaels
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/31/2007 5:42:16 PM
Conta a história que vivia em Ishafan um rapaz que trabalhava para um mercador rico. Uma vez, o rapaz foi ao mercado para comprar carne, frutas e vinho. Quando lá chegou, encontrou a Morte, que lhe fez um sinal como se lhe quisesse dizer alguma coisa. Assustado com a visão da Morte, o rapaz fez o cavalo dar meia-volta e fugiu a galope, pela estrada que levava a Samara. Ao anoitecer chegou a Samara e como estava cansado e sujo, alugou um quarto numa estalagem da terra.
A meio da noite bateram-lhe à porta, e no umbral ele viu a Morte parada, de pé, sorrindo amavelmente. "Por que é que está aqui?", perguntou-lhe o rapaz, pálido e trémulo. "Não estava no mercado, em Ishafan?". E a Morte respondeu: "Ora, eu vim buscá-lo, conforme está escrito. Quando o encontrei esta manhã em Ishafan, tentei dizer-lhe que tínhamos um encontro esta noite em Samara. Mas você não me deixou falar e simplesmente fugiu disparado..."
Esta história popular permite explorar muitos temas, e talvez o mais óbvio deles seja o Destino. Nas entrelinhas existe uma declaração básica e paradoxal: o Destino é irrevogável, e no entanto depende da vontade humana para se realizar.
Em muitos outros aspectos da vida as leis são as mesmas: existem, regem-nos - quer as conheçamos ou não -, e quanto mais as negamos mais demonstramos que somos exactamente como elas nos descrevem.
O facto de vivermos numa época de valores relativos, em que tudo é objecto de discussão, de opiniões e de argumentos mentais, não significa que não hajam Leis Cósmicas que nos regem. O facto de dizermos que a Verdade é relativa não implica que a Verdade seja relativa, ou à medida de cada um. Só quando estamos presos da mente analítica (a que os esoteristas chamam de mente inferior) é que tomamos as nossas opiniões como verdades, ou a verdade como relativa.
Nas palavras magistrais de Krishnamurti, "a verdade é uma terra sem caminho. Os homens dela não se podem aproximar por qualquer organização, por qualquer credo, por qualquer dogma, sacerdote ou ritual, nem por qualquer conhecimento filosófico ou técnica psicológica. O Homem tem de encontrar a verdade através do espelho das relações, através do percebimento do conteúdo da sua própria psique, pela observação, e não por qualquer dissecação intelectual e analítica."
Não interessa, por isso, discutir a Verdade. Essa é a descoberta individual de cada um. O que interessa, sim, é ser consciente - porque é a consciência que nos guia nessa descoberta. E não interessa a discussão. Quem disse que da discussão nasce a luz viveu às escuras e emparedado no seu ego solitário. A luz nasce, sim, de ser capaz de ver além da forma. Para encontrar a Unidade na dualidade, a perfeição do espírito na imperfeição da matéria, o silêncio nos intervalos das palavras.
Ou como dizem os mestres zen: "um dedo aponta para a Lua. Uma vez reconhecida a Lua, só um tolo fica a olhar para o dedo..."
Nuno Michaels
Avaliação: 5 | Votos: 7
Conselheiro Astrológico, Formador, e Life-Coach. A sua abordagem à Astrologia é Esotérica na lente, Psicológica no trabalho com clientes, Existencial nos pressupostos, e Terapêutica na abordagem. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
