O ESTAGIÁRIO E O MENDIGO
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Autor Maísa Intelisano
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/12/2010 9:55:54 PM
O estagiário (texto que circula na internet há algum tempo)
Prestem atenção nessa interessante pesquisa de um estagiário...
Um sinal de trânsito muda de estado em média a cada 30 segundos (30 segundos no vermelho e 30 no verde), então, a cada minuto, um mendigo tem 30 segundos para faturar pelo menos R$ 0, 10. O que, numa hora, dará 60 x 0, 10 = R$ 6, 00. Se ele trabalhar 8h por dia, 25 dias por mês, num mês terá faturado 25 x 8 x 6 = R$ 1.200, 00. Será que isso é uma conta maluca?
Bom, R$ 6, 00 por hora é uma conta bastante razoável para quem está no sinal, uma vez que quem doa nunca dá somente R$ 0, 10 centavos e, sim, R$ 0, 20, R$ 0, 50 e, às vezes, até R$ 1, 00... mas tudo bem. Se ele faturar a metade, R$ 3, 00 por hora, terá juntado R$ 600, 00 no final do mês, o que corresponde ao salário de um estagiário (bem remunerado) com carga de 35 horas semanais ou 7 horas por dia.
Ainda assim, quando vc consegue uma moeda de R$ 1, 00 (o que não é raro), você pode descansar tranqüilo debaixo de uma árvore por mais nove viradas do sinal de trânsito, sem nenhum chefe para encher por isso. Mas tudo isso é teoria, vamos ao mundo real.
De posse destes dados fui entrevistar uma mulher que pede esmolas, a qual sempre vejo trocar seus rendimentos na padaria em frente ao CEFET.
Então lhe perguntei quanto ela faturava por dia. Imaginam o que ela respondeu? O que foi? Será? É isso mesmo, de 20 a 25 reais em média, por dia, e ela disse que não mendiga 8h por dia.
Moral da História:
É melhor ser mendigo do que estagiário. Estagiário é sinônimo de mendigo. Esforce-se como mendigo e ganhe mais do que um estagiário. Estude a vida toda e peça esmolas. É mais fácil e melhor que arrumar emprego.
Assinado: Estagiário Revoltado
PS.: Você tem R$ 0, 10 para me dar?
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O Estagiário e o Mendigo
Não sei se a história acima é verdadeira ou não, mas, levando a teoria ao pé da letra, o estagiário tem razão... mas, convenhamos, é relativamente fácil levantar alguns dados, depois compará-los superficialmente e sair, em seguida, divulgando conclusões precipitadas. Difícil mesmo é saber captar e entender os dados, interpretar as diferenças e semelhanças e, depois, ter a coragem de divulgar as conclusões desse estudo, isentas de personalismo, doa a quem doer.
Pode até ser que um mendigo, pedindo num cruzamento de São Paulo ou do Rio de Janeiro, consiga arrecadar, por mês, um valor maior ou equivalente ao do salário médio de um estagiário. Mas será que só esse dado basta para tirar conclusões? Será que é o estagiário que ganha pouco? Será que o engano ou o desvio está mesmo no salário do estagiário, como dá a entender a mensagem acima, assinada pelo rebelde em estágio?
Mendigos são pessoas em situação de miséria, levadas a esta condição pelas circunstâncias, e não pela preguiça. Sim, também conheço um ou dois mendigos que o são por opção, mas, venhamos e convenhamos, eles são extrema minoria, já que a maioria estaria em outra situação, se tivesse tido a oportunidade de viver de outra forma ou, simplesmente, de escolher.
Mendigos são o reflexo de uma sociedade cheia de contrastes violentos, desigual, injusta e incapaz de cuidar bem de seus membros. Uma sociedade que é obra de cada um de nós e que se alimenta, minuto a minuto, de nossas próprias posturas, escolhas e atitudes.
Pode não parecer, mas, ao contrário do que muitos pensam, mendigos não são o resultado funesto de governantes corruptos, administrações falidas ou leis furadas, simplesmente porque tudo isso - governantes, administrações e leis - são, em si mesmo, produtos da sociedade; são, eles mesmos, reflexos da sociedade que regulam e de suas escolhas. De quem é, então, a responsabilidade por existirem mendigos?
A própria sociedade, portanto, coloca as pessoas em situação de mendicância e depois se exime da responsabilidade, culpando governantes e brincando de caridoso, distribuindo esmolas nos sinais da vida para aliviar a própria consciência e melhorar sua imagem.
O que essa mesma sociedade não percebe é que, em sua suposta tentativa de ajudar, comete um segundo erro, talvez mais grave que o primeiro, incentivando e perpetuando uma situação que, em si mesma, já não é natural.
O que essa sociedade não entende é que, cada centavo distribuído nos sinais tem uma mensagem, um recado muito sutil, mas claro e objetivo: "Por favor, continue aí mendigando, para que eu tenha como aliviar a consciência, ajudando os MENOS FAVORECIDOS. Fique tranqüilo! Pode continuar a pedir suas esmolas, porque eu sempre estarei aqui para lhe dar alguns trocados, para poder fazer bonito, doando alguns centavos aos MAIS NECESSITADOS."
Menos favorecidos por quem? Quem os desfavoreceu? Mais necessitados por quê? Quem lhes negou as condições para atender suas necessidades básicas?
O que a sociedade, na verdade, faz, e não reconhece, é tirar com uma mão e fingir que devolve com a outra, garantindo que tudo continue como está, para que ninguém perceba qual é a realidade.
Não é o salário do estagiário que está baixo em relação ao que o mendigo arrecada. O desvio não está no que o mendigo "arrecada" ou no salário do estagiário, como dá a entender a mensagem, mas na existência do mendigo e na perpetuação da mendicância, pelo péssimo hábito que a sociedade tem, inclusive o estagiário e sua família, de dar esmolas a mendigos nos cruzamentos da vida, acomodando-os a uma situação que é boa só para quem dá e fazendo-os acreditar que não precisam buscar outra opção de vida, já que ganham o bastante para viver, sem fazer muita força: basta apelar para a consciência pesada da sociedade que o "inventou".
Concordo que o estagiário merece e precisa ganhar mais, mas não creio que a "renda" dos mendigos seja o melhor argumento para justificar seu aumento. Se for assim, teremos mais uma razão para continuar a "criar" e "sustentar" mendigos nas ruas: garantir que os estagiários tenham um salário maior.
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Psicoterapeuta com formação em Abordagem Transpessoal, Constelações Familiares, Terapia Regressiva, Florais de Bach e Reiki II, é também tradutora e revisora; palestrante e instrutora em cursos sobre espiritualidade e mediunidade; e fundadora e presidente do Instituto ARCA de Mediunidade e Espiritualidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |