O fanatismo faz mal à saúde e à democracia!
Atualizado dia 3/31/2016 8:10:11 AM em Autoconhecimentopor Flávio Bastos
Sob a ótica da psicologia, os fanáticos são descritos como indivíduos dotados das seguintes características: agressividade excessiva, preconceitos variados, estreiteza mental, extrema credulidade quanto a um determinado sistema, ódio, intolerância, sistema subjetivo de valores e intenso individualismo.
No século 19, o pensador francês Gustave Le Bon já havia atentado para o comportamento bizarro das pessoas ao se unirem em grupos, formando uma espécie de mentalidade única irracional. Na obra Psicologia das Multidões, Le Bon escreveu:"Nas grandes mulltidões, acumula-se a estupidez, em vez da inteligência. Na mentalidade coletiva, as aptidões intelectuais dos indivíduos e, consequentemente, suas personalidades se enfraquecem. É como se, ao unirem aos seus pares, as pessoas deixassem de usar a razão e passassem a deixar a emoção tomar conta, tornando-se presas fáceis de manipuladores. A não aceitação de ideias diferentes e a cegueira causada pela crença absoluta em "verdades reveladas" ainda insistem em aparecer nas mais diferentes esferas da sociedade, ameaçando a liberdade e o conceito básico de democracia".
Para a filósofa política Hanna Arendt "o extremismo político não respeita as contradições do jogo democrático e rejeita a ideia de saber lidar com o outro. No caso do nazismo, a lei de que só o líder tinha razão, e os judeus eram os culpados de todas as mazelas, fazia com que as reflexões sobre os problemas perdessem o sentido".
Segundo o historiador Jaime Pinski, "o argumento racional faz parte do gênero humano, e o debate entre ideias diferentes é importante para que as coisas se esclareçam. Mas o limiar disso está na racionalidade. Quando passa a ter dogmas, você extrapola a racionalidade e se torna um fanático".
Neste sentido, Hannah Arendt, no livro "Eichmann em Jerusalém", descreve o julgamento do oficial nazista: "Vemos o ser humano que já perdeu todos os laços de solidariedade, isolado e sem consciência de classe ou de família, ele se torna um número na massa e é capaz de perpetrar as maiores atrocidades como quem carimba um papel".
No caminho da tolerância, que percorre o caminho inverso do fanatismo, a incapacidade de compreender opiniões distintas é uma ameaça à democracia, mas existe uma forma de combater isso? "A liberdade deve ser sempre a maior possível, mas isso significa colocar certos limites para garantir o direito e a integridade dos outros", afirma Ricardo Bins Di Napoli, professor de filosofia da Universidade Federal de Santa Maria e especialista em temas ligados à ética política. "Para que isso seja possível, é necessário construir uma cultura de tolerância que passe por todos os elementos que compõem uma sociedade. É a capacidade de se abster de intervir na opinião do outro, mesmo que se desaprove ou se tenha o poder de calá-la, cerceá-la ou prendê-la", conclui o professor.
A seguir, extraído da revista Galileu, alguns fatores que levam as pessoas a cometerem atos de intolerância:
1. Ao separarmos o mundo em categorias como "cristão" ou "fã do Apple", nos incluimos em grupos que correspondem às nossas necessidades.
2. Em coletivo, somos sugestionados a exaltar pontos que o beneficiam, ignorando as fragilidades e tudo o que vai contra suas ideias e criando assim um inimigo a ser combatido.
3. Este sentimento de conexão é aumentado pelo poder de narrativas. Nosso cérebro precisa de histórias, como a de Jesus Cristo, por exemplo, para criar relação emocional.
4. Quando o grupo é uniforme, ele cria uma mentalidade coletiva, com os mesmos valores e objetivos. Sentir-se parte do grupo é o que os psicólogos chamam de identidade social.
5. Os que têm identidade social intensa abrem mão de outras referências, estreitando sua percepção e reforçando as emoções que o ligam ao grupo.
6. Sob influência do meio (e, em muitos casos, de um líder carismático), multidões podem lutar por benefícios comuns ou por catástrofes, como a ascensão do nazismo.
7. Com o devido incentivo, as pessoas são capazes de fazer em grupo coisas que não fariam sozinhas.
Comentário
Amadurecimento implica em autodisciplina e senso de responsabilidade consigo próprio e com o mundo de relações que nos cerca. Conviver na crítica exagerada, com sarcasmo ou com posicionamentos radicais como forma sutil e indireta (transferencial) de agressão, é atitude infantil de defesa que exige, no mínimo, reflexão.
Prestar atenção às suas tendências negativas, ou vícios comportamentais, é dever de quem pretende amadurecer na esfera de suas emoções e sentimentos.
Hoje temos a clareza em relação à somatização de doenças, como a úlcera gástrica, o câncer e a depressão, originadas pelo fato da pessoa ser amarga ou excessivamente crítica e severa consigo mesma, com o outrem e com o mundo.
A vida em sociedade em um mundo pós-moderno onde as informações estão indo e vindo em ritmo alucinante pelos meios de comunicação, com tecnologias cada vez mais avançadas, está nos levando a um processo de despersonalização pelo consumismo excessivo e pela manipulação das mídias. Por este motivo, torna-se importante e até imprescindível para a nossa integridade física e mental, fazermos uma triagem das informações que diariamente recebemos através dos sentidos. Questionar e fazer análises críticas destes conteúdos são princípios básicos para quem não quiser se deixar levar pela influência consumista e manipuladora das mídias.
O estar focado no "aqui e agora" é como estar protegido por um para-raio ou fio-terra, onde a energia externa negativa é descarregada sem nos atingir, pois, à medida que estivermos com a mente limpa, saberemos direcionar a nossa própria energia interna no comando de nossas ações e decisões de vida.
O fanatismo nos leva ao vício e à dependência psicológica. É quando, exageradamente, transferimos o nosso amor -ou a falta dele- a um objeto, uma pessoa ou uma causa. A partir desta situação de submissão nos "prendemos" a ícones ou dogmas que passam a comandar nossas vidas e a ditar regras e padrões de comportamento.
A mente liberta do fanatismo é aquela que percebe, observa e analisa. Porém, não busca refúgio em si mesma escondendo-se como se fosse um caramujo, mas na relação com o outro e na natural busca da evolução mediante o uso consciente de códigos próprios que escolheu para si na sua forma de agir e interagir com o mundo.
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 104
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |