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O Feminino equilibrado

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Autor Cristina Ragazzi

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 5/15/2005 8:04:01 PM


Recentemente li numa revista o caso (não tão recente) de duas mulheres que se submeteram à cirurgia estética numa clínica e que sofreram danos irreversíveis à saúde; uma vindo a falecer e a outra contraindo complicações cardíacas que não tinha antes.

Chocou-me o fato de que ambas buscavam um ideal de beleza, convictas de que os atributos que a natureza lhes deu não eram satisfatórios; eram insuficientes para lhes proporcionar um estado de equilíbrio e de bem-estar necessários para sustentar sua auto-estima, a ponto de pagar o preço das conseqüências que sobrevieram.

Não se trata de questionar a busca da beleza em si, mas, sim, o conceito de beleza, que posiciona a mulher como subserviente às imposições de um esquema consumista, que tem como referência padrões de beleza ditados pela mídia e pelo mercado. Padrões que estão muito distantes da realidade de mulheres simples e mortais que tomam ônibus e metrô para trabalhar, enfrentam fila no supermercado, levam os filhos à escola, fazem compras na feira, preparam as refeições da família, limpam a casa e fazem acrobacias para o orçamento chegar até o fim do mês.

A própria mulher passou a vivenciar seu corpo como um produto em exibição num mercado competitivo, ficando insensível ao importante fato de que o envelhecimento do corpo é acompanhado por processos psíquicos interiores que, se interrompidos, podem inibir vivências valiosas e comprometer sua evolução. Ela troca, dessa forma, os significados plenos de sua jornada natural através do tempo vivido, por uma imagem falseada e irreconhecível, calcada em ideais emprestados de fora dela. Sob este prisma, a mulher, vale apenas pelos seus aspectos atraentes ditados pelas normas de consumo de uma sociedade mercantilista.

Nossa cultura consumista destaca a velhice como uma etapa indesejável da vida, gerando angústia e sentimentos de inadequação e de rejeição, principalmente para a mulher ingênua, que assimila tais valores sem analisar o que melhor lhe convém. Muitas mulheres, na atualidade, apresentam disfunções emocionais, onde a desagregação psicológica promove um processo de baixíssima auto-estima, que atua não só alterando padrões de comportamento, como também afetando sua vida psíquica mais profunda e inconsciente. Observamos nos consultórios terapêuticos inúmeras mulheres desajustadas, angustiadas com seu aspecto físico, lutando constantemente com a balança e com os sinais do tempo que passa inexorável, deixando as marcas indeléveis da vida em seus rostos e em seus corpos.

Ao renegar o envelhecimento natural, essas mulheres desconectam-se de sua realidade e de seu ser mais profundo, criando um desajuste psíquico e emocional entre a imagem interna e idealizada que fazem de si mesmas e a imagem que o espelho reflete.

Desde a revolução feminina, na década de 60, nós mulheres, baseadas no modelo masculino, corremos atrás de um ideal independente e grandioso: a chamada múltipla jornada de trabalho, tendo que ser fortes, competentes e atuar com perfeição como mulher, amante, amiga, mãe, dona-de-casa e, adicionalmente, como profissional bem sucedida. Conciliar tantas atividades e obrigações virou uma espécie de armadilha pós-moderna: a vocação para Mulher-Maravilha. Com tantas atividades e cobranças, percebemos que o tempo corre contra nós, deixamos nossos interesses sempre para depois, nunca sobra tempo para nós mesmas. Sem conseguir atender a tantas expectativas, passamos a nos sentir frustradas.

Na abordagem holística, diz-se que o ser humano se desequilibra porque se fragmenta e se desconecta do Todo; a Unidade falha, ocorre a desconexão da alma. Cada indivíduo é uma unidade ligada ao restante do Universo e dele é parte integrante, como uma pequena peça de um grande “quebra-cabeça”. O corpo, então, registra os sintomas de um sofrimento psíquico que, muitas vezes, por mais que se pesquise, debalde se encontram explicações de causa puramente física, porque a ciência usa o mesmo modelo dissociativo para olhar o ser humano.

Há muitos séculos, a mente humana sofre pela dissociação entre espírito e matéria, deixando o Homem longe de experienciar a matéria como algo ligado ao sagrado. Vivemos na sociedade da imagem, da mídia, onde a mulher, inserida neste contexto, se torna submissa à tirania da eterna beleza e juventude, submetendo-se a diversas intervenções para manter uma imagem idealizada, pré-estabelecida. A mulher moderna vem se tornando escrava dessa imagem corporal, distanciando-se de seus valores mais genuínos de feminilidade.

No passado, nascimento, juventude, menstruação, sexualidade, menopausa e morte eram vivenciadas como fases de suma importância na vida da criança, da menina, da mulher e da anciã, que passava sua sabedoria e experiência para as mais jovens. O corpo feminino assumia a arte de envelhecer com dignidade, era um corpo que pulsava de alegria e prazer ao experimentar o passar do tempo, absorvendo conhecimento e valiosas experiências para compartilhar com as outras mulheres lá na frente. Era possível enxergar a essência feminina em cada uma de nós. Não era necessário utilizar recursos que mascarassem nossos corpos, não éramos “siliconizadas” nem exageradamente “turbinadas” nas academias de ginástica, sem tempo para mais nada, a fim de atender às expectativas de outros, seguindo um padrão de beleza pré-concebido e pautado na futilidade e no consumismo. O próprio ciclo do tempo representava uma bússola segura para as vidas de nossas ancestrais.

Será que valeram a pena todas essas conquistas? O que obtivemos, afinal? Agora não temos mais tempo de contemplar as manhãs ensolaradas, sentir a brisa tocar nossa pele, olhar as flores, as estrelas; estamos tão atarefadas que nem mesmo vemos nossos filhos crescerem – quando nos damos conta, percebemos estupefatas que eles já estão adultos, saindo de casa! Precisamos resgatar e extrair prazer do comum em nossas vidas, das coisas simples, de como fazer um bolo, cuidar das plantas, arranjar tempo para passear, conversar sem se preocupar em ser genial, brilhante e resolvida. Redescobrir o feminino, reconhecer que delicadeza, carinho e entrega são características nossas, naturalmente femininas – e não sinais de fragilidade ou dependência; permitirmo-nos ser mais sensíveis, sem ser necessariamente mais frágeis.

Que o princípio feminino nos oriente na busca da primazia do “Ser” sobre o “Ter”, invertendo nossos valores distorcidos, rompendo esses hábitos mentais, afetivos e espirituais que nos afastam de nossa verdadeira essência. Que possamos reencontrar nossa verdade no mais profundo de nosso coração, integrando o amor por nós mesmas, a sensibilidade, a ternura e a sensualidade dentro de nós. Enfim, que possamos nos entregar à alegria e ao prazer de ser simplesmente Mulher, mulher jovem ou mulher madura, aceitando-nos e amando-nos como a natureza nos fez, sem nos escravizarmos aos ditames da moda! Que possamos nos olhar no espelho e gostar do que vemos.

Cristina Ragazzi Cocco
analista junguiana; fornece consultoria para empresas
[email protected]

Texto revisado por Cris

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