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O Merceeiro

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Autor Eduardo Paes Ferreira Netto

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 3/6/2008 9:19:35 AM



O MERCEEIRO

Nos tempos em que “se amarrava cachorro com lingüiça” ainda não havia supermercados e a mercearia ou venda, como era comumente conhecida em muitas cidades do país, exercia um papel muito importante na economia das famílias.

As compras eram efetuadas através de cadernetas que ficavam com o freguês. Nessas cadernetas o comerciante fazia as anotações das compras, manuscritamente, e ao fim do mês ou do período somava-as e recebia o valor correspondente.

Concomitantemente o merceeiro à medida que fazia as anotações na caderneta do freguês, fazia-as igualmente em um livro maior onde mantinha o controle de suas vendas, freguês por freguês.

Alguns comerciantes mais simples mantinham apenas as cadernetas dos fregueses, confiavam neles e mantinham apenas na memória o que lhes vendia.

Contam-se muitas estórias sobre essas cadernetas. Pessoas desonestas, abusando da confiança do merceeiro, rasgavam uma ou duas folhas cujos valores eram mais vultuosos e assim tentavam enganar o comerciante; como já dissemos, muitos deles muito simples, nem ao menos se apercebiam da necessidade de numerar e rubricar as folhas das mesmas e assim eram alvo de tentativas de serem enganados. Vivia-se ainda um pouco do tempo em que se dava "um fio de bigode" como garantia de débitos.

Naqueles tempos, entretanto, o povo tinha mais memória, esses comerciantes principalmente, dificilmente se deixavam enganar pelos que queriam ser mais "espertos", mas ficava a palavra dele contra a do freguês; muitas vezes pessoas de posse, que pelo menos aparentemente não precisavam se utilizar desses expedientes tentavam ludibriar o comerciante Em outros casos, acontecia de o comerciante manter uma família necessitada por seis e até mais meses, aguardando que um chefe de família, desempregado, bom freguês, conseguisse arrumar um outro emprego e então passasse a pagar todos os meses um pouco do atrasado. Outros casos difíceis eram os de doenças na família. O coitado do merceeiro era quem sofria junto com a família, pois sem dinheiro para pagar a conta, a família deixava a caderneta no "prego".

A soma mensal dessas cadernetas representava, muitas vezes, pequenas fortunas. A situação tornava-se muito difícil, pois o comerciante precisava pagar também seus fornecedores e muitas cadernetas em atraso, sem possibilidade de recebimento levavam-no em alguns casos, até à falência.

Aqui no país um grande número desses pequenos comerciantes eram lusitanos e conta-se o caso de um desses "patrícios", que em situação difícil devido ao grande número de fiados foi procurar um outro em boa situação, para conhecer o segredo do seu sucesso.

-Manoel, estou numa situação desesperadora, tenho algumas cadernetas em atraso que me estão criando problemas, pois estou começando a atrasar o pagamento dos meus fornecedores a ponto de perder o crédito com eles, que é que eu faço, compadre?

-Isto é muito fácil, Antônio, você ali na parede aqueles dois preguinhos cheios de papéis? - perguntou Manoel, apontando para uma das paredes.

-Sim!

-Pois bem! Num dos preguinhos eu ponho as contas que eu tenho a receber e no outro as contas que eu tenho a pagar; tomo sempre muito cuidado para que os papéis das contas que eu tenho a pagar não sejam em maior número do que as contas que eu tenho a receber. Nessas condições, eu nunca vou passar por dificuldades! É muito fácil.
-Mas, Manoel eu tenho muito bons freguês que estão com problemas. Uns com familiares doentes, outros desempregados, como fazer com essa gente?

-Você tem que escolher, compadre. São eles ou você. Quando a coisa estiver chegando a um ponto perigoso você tem que cortar o fornecimento. Não tem jeito não.

-Isso vai me cortar o coração, compadre.

-Se você prefere ir à falência, esse é um bom caminho! Como é que vai ficar sua família?

-É mesmo, compadre. Muito obrigado. Eu vou também colocar dois preguinhos na parede.

Havia na França, muito tempo atrás, um filósofo, conhecido como Mestre Philippe de Lyon, tido por seus seguidores, como reencarnação do profeta Amós, citado nas escrituras cristãs. Esse filósofo era muito conhecido por suas curas miraculosas e por sua grande compaixão; em seus ensinamentos dava uma grande ênfase ao sentimento de gratidão. Nada cobrava por suas curas, dizia serem graças de Deus.

Em seu tempo, naquele país também proliferava o sistema de vendas a crédito por meio das tais cadernetas e não raras vezes acontecia por lá o mesmo que por aqui. Muitos deixavam de pagar, seja por doença, seja por desemprego, dificuldades outras, ou mesmo por vigarice.

Certa vez bateu às portas do mestre um abastado merceeiro pedindo-lhe para salvar a esposa de uma doença incurável pela medicina oficial.

-Eu posso curar sua mulher, mas há um preço muito alto a pagar.

-Pago o que o senhor pedir doutor.
-Eu não cobro pelos meus serviços, mas em troca da cura de sua esposa desejo que o senhor em sinal de gratidão faça um benefício a todos os que lhe devem e não estão podendo pagar.

-Como assim, doutor?

-Rasgue as cadernetas de fiado de todos os que estiverem em situação difícil.

O comerciante deu um pulo da cadeira e quase teve um ataque.

-Mas doutor!

-Meu filho, as pessoas que estão lhe devendo, estão em alguns casos sofrendo mais do que o senhor. Da mesma forma que o senhor está pedindo misericórdia para salvar sua esposa, eu também a estou pedindo para todos aqueles seus devedores; assim o fazendo você estará manifestando sua gratidão a Deus pela cura de sua amada esposa.

-Tudo bem doutor. Solenemente lhe prometo que se minha mulher ficar boa eu rasgarei todas as cadernetas de fiado que estejam com muito atraso e mais ainda, voltarei a servir a todas aquelas pessoas como se nunca me tivessem devido.

-Muito bem. Volte para casa que sua esposa já está curada.

Ao chegar em casa o comerciante ao ver sua esposa curada sentiu em seu coração um tal sentimento de gratidão e reconhecimento ao filósofo que pegou todas as cadernetas que tinha atrasadas, que não eram poucas, e tocou fogo em tudo.

O sentimento de amor e compaixão do mestre era tão grande que em geral os benefícios que fazia, aproveitavam o grande número de pessoas.

Nos tempos atuais, grandes mestres da humanidade têm enfatizado o valor da gratidão, entre eles, citamos o caso do mestre japonês, Masaharu Taniguchi, que chegou a dizer que a gratidão é um espelho a refletir as graças que recebemos, querendo dizer com isto, que quando agradecemos de coração às graças que recebemos, estamos criando condições para que essas graças se multipliquem.

FIM












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