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O poder da aceitação

Atualizado dia 6/11/2007 9:38:00 AM em Autoconhecimento
por Alex Possato


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Aquela cerca nunca fora tão bela! Os fios lineares percorriam toda a extensão do campo, até quase se perder de vista, para então, num ângulo de 90º, continuar por um montão de espaço, contornando as construções acinzentadas. Por detrás dela, erguiam-se os morros queimados pelo inverno rigoroso. A vegetação era muito rala, mas mesmo assim, contrastando com o fundo do céu de um azul profundamente azul, deixava uma impressão de um quadro impressionista. O ar estava frio e entrava feroz em minhas narinas, e um vento leve castigava o meu rosto, já meio desidratado e avermelhado. Mas mesmo assim, a sensação de liberdade era indescritível.
O divino parecia presente. Não, não era verdade. Ele estava presente! Era a única presença que se podia perceber! Descobri neste momento que ele sempre estivera presente, antes mesmo de existirem as cercas, os guardas, os prisioneiros.
Ele estava presente em cada um dos gestos dos algozes, em cada grito de desespero dos meus companheiros, em cada lágrima derramada pela dor e fome, em cada berro enraivecido dos soldados que se fizeram violentos.

O arame farpado carregava pedaços de tecidos do uniforme listrado dos meus amigos, e também pedaços de carne, que ali ficaram como marcas do desejo de liberdade, que os fugitivos achavam que estava do lado de lá da cerca...
E eu estava livre! Do lado de dentro da prisão e... absolutamente livre! Não havia raiva dos soldados, nem medo da dor ou da perda. Eu estava livre como os corvos que voavam grasnando por sobre minha cabeça.
A liberdade, descobri, estava dentro da minha mente. E o sofrimento também. A vida não acontecia fora de mim, mas dentro. E eu podia escolher viver livre ou viver sofrendo! E escolhi a liberdade, mesmo vivendo num campo de horrores!

A vida como ela é...

Presto uma homenagem no texto acima à vida e obra do psiquiatra austríaco Viktor Frankl, judeu, prisioneiro durante quatro anos em Auschwitz, o temível campo de concentração polonês. Este excepcional homem, intelectual respeitabilíssimo e fundador da chamada Terceira Escola Vienense de Psiquiatria, contemporâneo de Freud e Adler, criador da logoterapia, podia ter visto toda a sua carreira e trabalho naufragado, deixando-se abater pelo desânimo, medo e sofrimento diante de uma morte quase certa.
Mas ele transformou este destino que poderia ser trágico no grande aprendizado da sua vida, e percebeu na prática, convivendo com as terríveis condições do campo de extermínio, que não é o sofrimento físico e emocional que derruba o homem: é a recusa em aceitar a vida como ela é: suas doenças, suas crises, seus acidentes, suas tragédias, seus problemas...
Frankl descobriu que a falta de aceitação é uma fuga da mente, que impede o ser humano de viver integralmente e descobrir o sentido da própria vida. A mente está fechada em si, no que acha que são seus problemas, e não consegue ver mais nada que isso.

O que temos que aceitar?

Em nosso trabalho diário, encontramos muitas pessoas perdidas em seus problemas. Não há nenhum problema em... ter problema! A questão é: o fato de ficar transitando em torno dos problemas só traz mais... problemas! Muitas das coisas que carregamos conosco não são nossa bagagem: verificamos que um fator extra-mente faz com que tenhamos um estranho senso de responsabilidade pelos problemas dos nossos familiares, sejam eles pais, irmãos ou filhos.
Aceitar os nossos problemas, porém, deixando os problemas dos outros, mesmo que sejam parentes próximos, para eles, é prova de amor e sabedoria. Esta percepção é trabalhada em nosso consultório através da terapia de constelação familiar e sistêmica, com resultados fantásticos: a sensação de liberdade pode chegar à mesma sensação que Frankl sentiu, ao perceber-se livre, mesmo vivendo num campo de extermínio, estando perto da morte em vários momentos.
Aceitar é extremamente simples, mas pode ser também muito doloroso, porque teremos que transformar crenças que permaneceram em nossas mentes durante anos, décadas... Aceitar que o gordo é belo. Aceitar que existe a morte e a perda. Aceitar que é possível ser feliz com dívidas. Aceitar a separação. Aceitar a injustiça para conosco. Aceitar inclusive o próprio medo, ciúme ou inveja. Aceitar até o não conseguir aceitar. Este trabalho de autoconhecimento realizamos com programação neurolingüística, embora existam diversos outros caminhos que podem ser utilizados.
A partir daí, o ser humano está apto a perceber o seu sentido de vida, que será absolutamente individual, único. Somente livre do peso desnecessário, estará pronto para voar. Somente livre de crenças limitantes, o ser poderá tomar posse da sua própria missão, que não é nada criada pela mente, mas surge como uma energia arrebatadora, onde fica impossível de resistir ao seu apelo.

Convido você a repensar a sua vida: se por um instante, um milagre eliminasse todos os problemas que o preocupam, qual seria o rumo da sua vida? Alguma força arrebatadora o impeliria rumo a um lugar desconhecido, mas excitante? Não? Sim? Se a resposta é afirmativa, talvez esta seja a sua missão. Se não, que tal descobrir este caminho prazeroso, onde os problemas perdem o sentido, e o verdadeiro sentido de vida surge radiante? Para isso, só é necessário uma coisa: querer.

Alex Possato é professor de constelação familiar sistêmica e terapeuta sistêmico. clique aqui e saiba mais sobre seu trabalho

Texto revisado por: Cris


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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
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