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O PONTO CEGO DA MENTE

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Autor Maria Clara Gallicchio Valerio

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 6/16/2008 6:25:31 PM


Todos aprendemos que há no interior do globo ocular humano um ponto cego, que vem a ser o ponto onde o nervo ótico se encaixa. Não como existe maneira de enxergar nada que incida nesse ponto cego porque não existem células receptoras visuais ali. Não obstante, quando olhamos para qualquer lado, não vemos um ponto obscuro a acompanhar nossa visão. Por que razão?

Simplesmente porque o cérebro (leia-se corpo mental via cérebro) usa informações visuais das áreas em redor do ponto cego para compor um "remendo", que é uma aproximação razoável daquilo que estaríamos vendo, se não houvesse o ponto cego! Há, assim, um claro processo de criação de uma imagem que efetivamente não existe!

Ao fixar a atenção visual em dois botões colocados a esquerda e a direita, em dado momento, o botão direito desaparece, o que já era esperado, mas o surpreendente é que, em seu lugar, não aparece um ponto obscuro, o que seria de esperar como sinônimo de ausência de percepção visual. O que vemos no lugar do botão direito é o mesmo fundo branco!!! Ou seja, diante da falha visual, nosso cérebro preenche o vazio com o padrão visual mais plausível do momento, isto é, o fundo branco! Como ao redor do ponto só há branco, o cérebro supõe que aquilo que o ponto cego não está vendo também é branco.

Este é um processo autônomo, isto é, não temos o poder de escolher o padrão visual que desejamos para substituir o ponto cego. Não importa quantas vezes façamos o teste. O cérebro sempre fará a escolha por nós.

Vamos a outro teste, para comprovar a construção que o cérebro faz diante de certas situações, agora, em relação à memória.

Leia-se a lista de palavras abaixo. A seguir, quando terminar, cubra-a com a mão.

Cama
Descansar
Acordado
Cansado
Sonho
Acordar
Sesta
Cobertor
Modorra
Cochilar
Roncar
Soneca
Paz
Bocejar
Sonolento


Agora responda: quais palavras não constam na lista: cama, modorra, dormir ou gasolina?

Se vc. respondeu "gasolina" acertou, mas certamente não percebeu que a palavra "dormir" não está na lista... Isso acontece porque as palavras da lista estão tão intimamente relacionadas que o cérebro considerou que "dormir" fazia parte dela... ou seja, nosso cérebro criou uma situação inexistente!

Ou seja, quando tentamos nos lembrar (memória) de algo que aconteceu, sempre aparece algo mais em relação às imagens, sons e demais percepções que registramos em relação ao evento que desejamos resgatar. Isso sem contar que o que foi gravado passou pela capacidade de percepção sensorial, emocional e mental do observador. Talvez por isso se costume dizer que "quem conta um conto, aumenta um ponto"...

Mas, o mais interessante é que fazemos também essas "construções" em relação ao futuro... e aqui o campo de criação é ainda mais vasto, pois não existem percepções registradas! "Quando imaginamos o futuro, sempre o fazemos no ponto cego de nossas mentes, tendência que pode nos levar a imaginar equivocadamente eventos futuros cujas conseqüências emocionais constituem exatamente aquilo que estamos tentando levar em conta." (Gilbert, 2006).

Quantas vezes imaginamos situações, estados, condições que, quando vivenciados, se revelam completamente diversos da construção imaginativa que fizemos? Se os evitássemos, recusando a experiência, viveríamos apenas da construção mental que criamos deles, mas quando passamos por eles, passamos a conhecer realidades inteiramente novas! Por isso a experiência é o mais importante...

Locke era defensor da idéia de que nossos sentidos nos forneciam imagens fiéis da realidade (realismo). O mesmo faziam os escolásticos. Mas, no século XIX, Kant criou a teoria do idealismo e expôs a mente humana como uma grande farsante. "Segundo a teoria kantiana do Idealismo, nossa percepção não é o resultado de um processo fisiológico por meio do qual nossos olhos enviam uma imagem do mundo para o cérebro; em vez disso, ela resulta de um processo psicológico que combina o que nossos olhos vêem com o que já pensamos, sentimos, sabemos e queremos, e que depois usa a combinação da informação sensível com o conhecimento a priori para formular nossa percepção da realidade" (Gilbert, 2006). "O mundo, tal como o conhecemos, é uma construção, praticamente um produto finalizado - poderíamos dizer - um artigo manufaturado, ao qual tanto a mente contribui com suas formas modelares quanto as coisas contribuem com seus estímulos" (Will Durant).

Na década de 20, Piaget descobriu que as crianças não fazem distinção entre as características reais de um objeto e a percepção que têm dele; acreditam que as coisas são como parecem ser, e ainda que os outros as vêem da mesma maneira. A criança não entende como mentes diferentes podem conter coisas diferentes. De acordo com a classificação acima, são "realistas", mas conforme amadurecem, vão chegando à conclusão de que percepções não passam de pontos de vista e que o vêem não corresponde necessariamente ao que a coisa é; além disso, que duas pessoas podem perceber a mesma coisa e acreditar nela de maneiras diferentes. Tornam-se, assim, gradativamente, "idealistas". Piaget concluiu que a criança tem um pensamento realista e que seu desenvolvimento consiste em escapar desse realismo inicial. Entretanto, mesmo entre adultos, as "recaídas" realistas são muitas e presentes, isto é, não há, na prática, uma real superação do realismo. No adulto, há sim a tendência a disfarçá-lo. A primeira percepção de algo é sempre realista. Em seguida, o objeto é comparado com o que temos na memória e com o que nossa imaginação sugere. Criamos então uma opinião pessoal sobre o assunto, que certamente será razoavelmente falsa, pois é baseada nas construções fictícias do cérebro.

A esta altura, a noção de como estamos sujeitos a ilusão, latu sensu, já começa a fazer sentido. Ao mesmo tempo, a constatação de que somente a experiência, ou seja, a interação com o objeto pode nos fornecer uma noção mais fiel (ainda sim filtrada por nossas limitações de percepção e ação.
Por isso não se deve obstar a experimentação, com todos os seus eventuais erros e acertos, pois somente assim podemos reduzir o impacto do mundo ilusório sobre nosso ser.

(Baseado no livro "O que nos faz felizes", de Daniel Gilbert)


Maria Clara Gallicchio Valerio
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