O PRÍNCIPE DESENCANTADO
Autor Inês Bastos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/11/2008 2:59:35 PM
Antes, sem mesmo eu saber, buscava o Príncipe Encantado por incentivo popular. Era tão intrínseco viver isso que era como quem vai ao bazar comprar adornos... afinal o que todo mundo faz é fácil fazer também! No mesmo dia já sentia uma radiação estranha que me trazia uma urgência em estar com ele no peito, enfeitando a alma, alegrando o dia, fortalecendo minha auto-estima e trazendo um brilho de fora para dentro que, honestamente, não sabia o que eu havia sido antes, sem aquela aquisição!!! Eu até perguntava: “Onde você esteve todo este tempo?” Era como se quisesse saber se ele era mesmo real. Nunca tive a intenção de ouvir a resposta. Estava diante dos meus olhos e essa minha realidade era o bastante. Não sabia que esperava e procurava por esse Príncipe Encantado porque não sentia a existência ou necessidade dele no meu mundo!
Vimos alguns espécimes encantadores na juventude que viraram fumaça, mas só fomos saber o que eles realmente significaram quando saíram de cena. Alguns nada, outros muito. Ah, o lendário amor! Podemos chegar à conclusão de que este outro encantado existe, saídos dos contos de fadas, e que fomos arrebatadas, envolvidas por esses seres de poderes supostamente sobrenaturais, que nos transformam em outros seres melhores, mais amorosos, sadios, calmos e mais alegres, quase invisíveis com sua magia inebriante! Quem quer aparecer numa hora dessas? Melhor sumir mesmo, nos apagarmos no meio dessa chama que flameja! Parece que ao mesmo tempo estamos descansando do vigor da busca pelo outro. Isso dá um trabalhão e vale o descanso!
Escondido bem no fundo do poço dos desejos está o medo. A paixão faz o coração acelerar de medo das perdas e da transitoriedade humana e do querer a simbiose com angústia. Assim descobri que o Príncipe Encantado existia fora das páginas dos livros e havia virado uma figura pré-concebida para todas as mulheres!
Seguindo a vida debaixo dessa bruxaria - porque a megera já nos atacou por sermos as princesas - é muito fácil ao sairmos de nós, irmos para o outro e nos perdermos. As roupas principescas começam a mostrar que existem para abafar o não tão bom perfume da intimidade, os fru-frus perdem a goma e os veludos ficam sem viço, os títulos parecem menos oficiais, a voz suave da princesa muda de tom e até o cavalo do príncipe, que faz a parte imponente da cena, perde o vigor!!! Com o passar do tempo vamos também, crescendo e ativando outros centros. Comecei a não entender o processo, desprezar, maldizer e correr da simples idéia dos príncipes encantados existirem. História velha em que existe uma busca, encantamento, conquista, vivência cheia de dramas, alguma tragédia e o final sempre surpreendente com uma moral reformadora! Talvez precisemos de uns magos bem tarimbados e mais poderes mágicos para nos aliarmos e superarmos os desafios, como nos contos mais recentes. Bom, pelo menos sabemos que alguma inteligência consegue retomar tudo um dia, se for favorável à natureza e é a mesma que preserva o existente, caso ainda seja valioso para ela! Vamos suspirar! Relax! Vamos subir uma oitava acima! Observe o coração, pulso normal? Ahh...
Como conciliar nossa vida no aqui e agora, com a certeza de que nossa melhor fase tenha sido quando em unicidade com a Fonte e logo após, talvez em idas e vindas, no aconchego simbiótico com outro ser humano encarnado? Meio subjetivo, mas parecia calmo e seguro. A qualquer momento poderia advir uma novidade fora do contexto. Éramos prontos para o inusitado. Mas, se viemos até um segundo momento passamos pela dependência total de alguém que nos fez florescer, configurando nosso primeiro sentimento de falta do princípio e ao mesmo tempo de aconchego no outro. Esse outro que buscaremos sempre. Nosso erro deve ser de buscar no outro um de nós, e não um outro que é apenas um elo da corrente que é a Fonte.
Buscamos um Príncipe para uma Princesa, um par, um igual. Achamos, com certeza, essa figura idêntica à nossa, o nosso espelho para nos vermos através dele, já que não conseguimos nos olhar direto nos olhos. E, conforme os óculos cor de rosa desaparecem, não gostamos nele tudo o que vemos em nós! Usando nossa capacidade de entendimento, agora finalmente em expansão, podemos fazer as pazes com o príncipe, com o encantado e com todas as magias.
A novidade boa é que o Príncipe pode ser promovido... Tempos depois, mais evoluído e amadurecido, ele pode virar um Rei Desencantado para nós. E desencanado, como se diz na gíria, para o bem dele mesmo, livre de artimanhas, crises pegajosas, atitudes infantis e espertezas traiçoeiras. Peguemos nosso cajado, que representa a sabedoria já adquirida, com lucidez e bravura, e vamos retomar a caminhada, observando o trajeto, sem julgamentos e ansiedade, na paz dos redescobrimentos ou dos encontros futuros, que serão apenas trocas de vivências pelo caminho porque tudo e todos a ele pertence.
De forma clássica, este Rei, como na antiguidade – talvez até hoje mal interpretado - volte a ser para nós um elemento divino como sempre foi; porém, este transmutado e amadurecido não nos fará sucumbir aos seus muitos encantamentos naturais porque não será mais necessário, afinal somos a ala feminina, as deusas e rainhas desse mesmo condado.
Texto revisado por Cris
Imagem da Internet: O Homem Vitruviano de Leonardo DaVinci
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