O simples
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Autor Zaida Miranda Rebêlo da Silva
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/10/2007 7:02:27 PM
À humanidade, às vezes, falta simplicidade, por causa dessa duplicação de si para si que ela supõe. Julgar-se e levar-se a sério demais. Ele não se aceita nem se recusa. Não se interroga nem se contempla; não se considera. Não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação, ou antes - pois SER lhe parece uma palavra grandiosa demais para tão pequena existência. Faz o que faz, como todos nós, mas não vê nisso matéria para discursos, para comentários, nem mesmo para reflexão. Ele é como os passarinhos de nossas florestas: leve e silencioso sempre, mesmo quando canta, mesmo quando pousa. O real basta ao real e essa simplicidade é a sua própria realidade.
Assim é o simples: um indivíduo reduzido à sua expressão mais simples. O canto? O canto, às vezes; o silêncio, mais frequentemente; a vida, sempre. O simples vive como respira, sem maiores esforços nem glória, sem maiores efeitos nem vergonha. A simplicidade não é uma virtude que se some à existência. É a própria existência, enquanto nada a ela se somar. Por isso é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a mais rara. É a vida sem frases e sem mentiras, sem exagero, sem grandiloquência. É a vida insignificante, a verdadeira vida.
Qualquer virtude sem a simplicidade é pois pervertida, como que esvaziada de si mesma e ao mesmo tempo cheia de si mesma. Inversamente, uma simplicidade verdadeira, sem suprimir os defeitos, torna-os mais suportáveis: ser simplesmente egoísta, simplesmente covarde, simplesmente infiel, nunca impediu ninguém de ser sedutor ou simpático. Ao passo que o imbecil pretencioso, o egoísta, o hipócrita ou o covarde exibidos são insuportáveis, assim como o bonitão vazio que banca o romântico ou alardeia suas conquistas. A simplicidade é a verdade das virtudes e a desculpa dos defeitos. É a graça dos santos e o encanto dos pecadores.
O simples é aquele que não simula, que não presta atenção, que não calcula, que não tem artimanhas nem segredos, que não tem segundas intenções, programações, projetos... Virtude de infância? Não creio muito. É antes a infância como virtude, uma infância reencontrada, reconquistada, como que liberta de si mesma, da imitação dos adultos, da impaciência de crescer, da grande seriedade de viver, do grande segredo de si mesmo...
A simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos.
Taróloga
Texto revisado por Cris
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