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O TRAUMA DO NASCIMENTO

Atualizado dia 4/16/2006 8:07:05 PM em Autoconhecimento
por Vera Bassoi


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Ninguém nunca parou para pensar como foi a sua própria experiência de passagem do útero materno para o meio exterior. Você quer saber a resposta?
Foi traumatizante. É isso mesmo, traumatizante para todos nós, seres humanos. Sem exceção. Não importa se você nasceu de parto normal, cesária ou fórceps. Foi igual para todos.
Igual não, minto.
Para uns foi um pouco pior do que para outros.

Bem, a coisa se passa assim: imagine-se um bebê crescendo tranqüilamente no ventre da sua mãe. Você não precisa se preocupar com nada porque ainda não sente necessidade alguma. Não precisa respirar, pois o oxigênio vai para todas as células através do sangue que entra pelo cordão umbilical. Não precisa se alimentar, pois os nutrientes também vêm através do cordão. Não precisa de agasalho, pois ali dentro a temperatura é constante. Não precisa, na verdade, fazer nenhum esforço. A natureza se encarrega de tudo. Você só vai crescendo e se sentindo seguro.
Sentindo-se seguro? Nem sempre.
Há aqueles casos, e não são poucos, dos bebês que, ainda dentro da barriga da mãe, já se sentem rejeitados.

Porém, voltando a considerar que você é um bebê esperado, querido, que não teria motivos para se sentir um intruso na vida da mãe, mesmo assim, de uma hora para outra começa a perceber uma coisa diferente. Já se coloca em estado de alerta porque, de repente, sem que ninguém lhe contasse, você começa a sentir uns empurrões, uns apertos, e não entende o que está acontecendo.
Nessa hora, pela própria natureza, o corpo da sua mãe começa a se contrair para expulsar você lá de dentro. É isso mesmo! Você está sendo expulso, mas você não sabe.

Não entendendo o que está acontecendo, você é obrigado a se mexer e a se virar de cabeça para baixo.
Por acaso lhe avisaram que sua cabeça teria que sair antes que o restante do corpo? Pois é, ninguém avisa nada e a gente tem que adivinhar. Há alguns teimosinhos que não seguem a regra, que não querem virar de jeito nenhum e tentam ficar sentados, plantados ali como se dissessem:- “Quero ver quem me tira daqui”.
Ai, ai. Esses danadinhos! Quase matam a mãe e ainda quase se enforcam no cordão umbilical!
Supondo que você não seja um desses teimosos, conseguiu virar e agora sente que é empurrado em direção a uma passagem que ainda se encontra fechada. E cabe a você ajudá-la a abrir dando cabeçadas.
Nossa! Aí já começam as cabeçadas na vida!
Aí já começa a dor.
Se você já tivesse capacidade de pensar, estaria pensando mais ou menos assim: “O que está acontecendo? O que estão fazendo comigo? Alguém está querendo me matar”!
Pronto, aí já se instalou o medo! O medo da morte.

Entretanto, eis que a passagem se abre e você tem que passar por um estreito túnel. É preciso se espremer tanto que até seu nariz fica amassado. Pergunte pra sua mãe, se ela ainda for viva, se não é verdade que você nasceu com o nariz amassado e a cara quase roxa de tanto esforço. Isso só não aconteceu para quem nasceu de cesariana. Em contraposição, nem quero falar no medo da morte que sentiram aqueles que foram tirados a fórceps!

Bem, daqui para a frente, do que vou descrever, não escaparão nem os cesariados.
- “O que será que tem do lado de lá”? “O que vai acontecer agora”? Seriam seus pensamentos, se pudesse pensar, como já disse acima.
Eis que, de repente, você é colocado de cabeça para baixo e as duas pernas esticadas para o alto, presas por um enorme gancho.
Vou lhe contar agora que aquele gancho é a mãozona do médico, e que foi necessário lhe colocar de cabeça para baixo para que você não se afogasse com as gosmas que estavam dentro da sua boca. Sabia? Claro que não! Ninguém lhe comunicou que era por isso, não é mesmo?

Bem, agora chegou a hora fatídica! Você vai ser separado da sua mãe. Eu sei, não lhe contaram, mas a partir de agora você vai ter que respirar por conta própria. O cordão umbilical vai ser cortado. O oxigênio terá que entrar pelas narinas e pela boca. O quê? Você não sabe como fazer isso? Então espere um pouco que já vai descobrir.

E já vai descobrir mesmo, porque assim que se corta o cordão e se dá um nó, o bebê toma um susto e reage com o choro. Para chorar ele inspira, instintivamente, e o ar vai para o pulmão. Mas o pulmão, que nunca recebeu ar, ainda se encontra com a película interna aderida, a exemplo de um saquinho plástico, desses que são usados nos supermercados, nas bancas de verduras e frutas. De maneira abrupta o ar entra irrompendo as aderências e, obviamente, causando desconforto e dor. Nessa primeira manifestação de independência, a leitura inconsciente que ocorre no bebê é: “viver dói”.

Porém, há casos em que o bebê não chora nessa hora. O médico, então, imediatamente usa um recurso para provocar o choro – dá um tapa no bumbum do recém nascido. É importante que o ar entre nas vias respiratórias para que o oxigênio não falte no sangue que vai irrigar, principalmente, as células do cérebro. Qualquer descuido poderá deixar graves seqüelas.
Pois é, você terá que respirar na marra!

Nessa altura, você que está lendo isto agora, deve estar pensando: “Graças a Deus, já acabou o sufoco!”
Acabou nada. O bebê ainda não está livre. Agora ele é entregue nas mãos da ajudante que vai limpá-lo e vesti-lo.
E pega daqui, e pega dali, com aqueles guindastes (as mãos gigantescas) que viram e reviram o corpinho do bebê, esfregando e esfregando. Enrolam umas coisas esquisitas que passam pelo bumbum e pelo pipi do bebê, em seguida enfiam seus bracinhos e perninhas noutras coisas estranhas e dizem: “Pronto, já está vestido”!
Se mais uma vez o bebê pudesse pensar, seria assim: “O que é isso? Ah, já sei! Isso é uma capa protetora para eu poder sobreviver fora da barriga da minha mãezinha. Lá dentro eu estava protegido, aqui eu tenho que me proteger”.

E é verdade! A partir daí, nós, seres humanos, começamos a desenvolver mecanismos de defesa para nos proteger de todas as situações que gerem medo e dor. Fazemos isso de maneira inconsciente, o tempo todo, e não percebemos. Vamo-nos revestindo de camadas e camadas protetoras que vão moldando a nossa personalidade. Assim, cada vez mais nos afastamos e nos esquecemos da nossa verdadeira essência. Nem nos lembramos do trauma que passamos por ocasião do nascimento!

Ainda se faz importante lembrar dos casos em que o bebê recém nascido apresenta algum problema, assim como icterícia, por exemplo, e por esse motivo a criança permanece na incubadora enquanto a mãe volta para casa de barriga e mãos vazias. O fato real é a necessidade do bebê permanecer no hospital para ter cuidados especiais, no entanto, no inconsciente essa criança registra uma sensação de abandono. E nem é verdade; ela não foi abandonada!
Fazer o quê? É assim mesmo. E depois de adultos temos que aprender a lidar com isso, ou seja, com a dor do abandono.

Por tudo isso e por todas as experiências que a criança passa até os sete anos de idade, quando a sua personalidade acaba de ser formada, é que todos nós, adultos, carregamos, no interior, a nossa criança ferida. E, para cuidar do adulto, temos que antes curar as feridas dessa criança. Não há idade para isso; qualquer tempo é tempo.

Escrito por Vera Bassoi
Psicoterapeuta, Psicanalista Transpessoal e Pós-Graduada em Psicossomática.
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Conteúdo desenvolvido por: Vera Bassoi   
Formada em Sociologia, Ciências Naturais, Psicologia Transpessoal, Psicanálise e especialista em Psicossomática. Desde 1971 é professora universitária e de pós-graduação. Fez Mestrado em Comunicação e Cultura e sua tese foi sobre Constelações Familiares. Em 2020, tem seu próprio curso "Pós-Graduação em Constelação Familiar" cujas aulas são online
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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