Os filhos crescem!
Atualizado dia 8/13/2018 10:35:16 AM em Autoconhecimentopor Paulo Salvio Antolini
Por que os pais tratam seus filhos como crianças e os amigos de seus filhos como sendo adultos? Com os filhos ocorrem brigas e imposições, com os amigos de seus filhos há a compreensão e mesmo aceitação do que eles pensam e fazem.
Aceitar que nossos filhos cresceram é muito difícil. Aceitar que agora eles é que responderão por seus atos exige muita maturidade e equilíbrio de nossa parte, os pais. Olhamos jovens de vinte e dois, vinte e cinco anos como se fossem ainda adolescentes de catorze ou quinze anos. Ao vermos as formas de pensar dos filhos, imediatamente olhamos através de nossas experiências e achamos que temos que impedi-los do erro. Achamos ainda mais, que ao errarem, as consequências terão que ser resolvidas por nós.
Lembro-me de um pai que estava brigando muito com seu filho, pois o jovem de vinte e cinco anos queria “turbinar” o motor de seu carro, que já tinha uns 12 anos de existência. Esse pai tentou de tudo, pois sabia, primeiro: o motor não iria aguentar muito tempo e segundo: quando estourasse, o filho não teria recursos financeiros para arcar com o conserto.
Foram vários meses de discussões sem resultados, até mesmo porque o rapaz já havia feito as alterações no carro sem que seu pai soubesse. A última vez que discutiram, o pai “cobrando” o filho por não ter sido informado sobre o que tinha sido feito, mesmo sem sua aprovação, o jovem respondeu que ele não tinha que informar, pois o carro era dele e, portanto, fazia o que bem entendesse. Foi difícil para esse pai “engolir” a realidade que seu filho havia dito. Ele teve que “engolir” e o “digerir” teve respaldo em meu consultório.
Ele, enfim, entendeu que o filho já era adulto, tinha o direito de tomar suas decisões. Descobriu também que o que mais o irritava era por sentir-se responsável pelos atos e decisões de seu filho. Caso não desse certo, achava que teria que arcar com o ônus das decisões. Mudou completamente sua atitude. Parou de criticar o filho e passou a ouvi-lo da mesma forma como fazia com os amigos do filho. Parou também de pagar pelas decisões do filho. Teve uma mudança tão madura, que em momento algum deixou de expressar suas opiniões para o jovem rapaz, mas já não queria mais impor e nem convencer. Porém, fala hoje apenas uma vez. Considera que seu filho tem poder de ajuizamento e então se quiser se aprofundar mais, ele mesmo tomará a iniciativa. E isso tem acontecido. Agora, como o pai não é mais o “chato” que tudo critica e em tudo vê problemas, o rapaz tem se aproximado mais dele e inclusive trocado ideias a respeito de suas intenções, pedindo a opinião do pai sobre seus planos. “Se eu soubesse que ele agiria assim, já teria mudado a muito mais tempo”, foram suas palavras em nossa última sessão.
Os pais precisam tomar muito cuidado na forma como colocam suas razões aos seus filhos, pois podem levá-los justamente ao resultado contrário do que se pretende demonstrar, apenas por se querer impor, sem dar a eles a oportunidade de refletirem e decidirem.
Os filhos crescem. Como pais os olhamos sempre como os pequeninos que dependem de nós todo o tempo. Ledo engano. Chegará um momento em que nós, mais idosos, estaremos sendo de alguma forma amparados por eles. Vamos nos lembrar disso.
Ter isso em mente nos ajuda a respeitá-los em suas decisões, mesmo que não coincidam com nossos pensamentos. Mesmo que errem. Mesmo que o preço que eles paguem seja muito sentido. Eles precisam disso. Precisam pagar para ver. Nós, pais, também já passamos por isso e fizemos igual ou até pior. Conheço alguns que não ousaram fazê-lo. Hoje ao vê-los, percebo o quanto não puderem crescer pessoalmente, pois não souberam, não puderam ou não quiseram ousar.
Quando os filhos entram na adolescência, eles começam a buscar sua própria identidade. Já “imitaram” seus pais e professores, agora é a vez de se identificarem com outras pessoas, como, por exemplo, algum artista ou outros jovens que se destacam, de alguma forma, dos demais.
O problema para os pais é quando a identificação ocorre com jovens cujo comportamento foge aos padrões esperados. Devemos ter alguns cuidados ao lidarmos com isso, pois dependendo de como se age, pode-se conseguir um resultado oposto ao esperado.
Vejamos um exemplo muito comum. A filha conhece um rapaz cujo comportamento julgado inadequado é percebido pelos pais. As informações conseguidas revelam ser alguém envolvido em “situações da pesada”. Traduzindo: drogas, bebidas, bacanais etc.. Indignados, imediatamente tentam demover a filha de continuar se encontrando com o rapaz, ao que ela reage dizendo que vai e pronto. Aí vêm as proibições, os castigos e tantas ameaças que, ao invés de conseguir convencê-la, torna-a ainda mais revoltada com os pais, ao ponto de ser capaz de fugir pela janela de seu quarto só para ir ao encontro dele. Muitas gravidezes tiveram início em encontros furtivos, onde a jovem, extremamente vulnerável pela forte pressão em sua casa, cede aos avanços de seu “namorado” sem nenhuma precaução.
Em outros momentos, já citei o fato de que os pais devem confiar mais na educação que transmitiram e dar um tempo para seus filhos poderem exercitar os valores e conceitos que lhes foram passados.
Se a pressão dos pais for muito forte, eles transformam o rapaz em “vitima de preconceitos paternos” e a garota, preocupada em defender-se e ao “namorado”, não perceberá os sinais negativos que o jovem emite. Não terá tempo de observar os maus tratos que vêm dele para ela, tão preocupada em não deixá-lo perceber a preocupação demonstrada pelos pais.
As pessoas, quando se conhecem e se sentem atraídas, têm um comportamento de quem está apaixonado pela nova companhia. Ao se conhecerem melhor, essa forte atração vai dando lugar à realidade de cada um.
Se os pais controlarem suas ansiedades e não agirem precipitadamente, darão tempo à sua filha para que ela própria vá percebendo como o “namorado” realmente é. Se descobrir sérias diferenças, o fato de não ter sido criticada pelos pais lhe dará tranqüilidade para tratar do assunto em casa. Os pais podem e devem falar o que pensam, sem querer impor, entretanto, a aceitação imediata da filha acerca do que estão expressando.
Outro exemplo muito comum e com os mesmos comportamentos citados acima é o do garoto que “elege” como seu ídolo o rufião da rua. O chefe da turma, briguento, bagunceiro e cheio de vícios. Tentar impedi-lo à força é empurrá-lo para cima do outro. O efeito é inverso ao desejado.
Então, como lidar com estas situações?
O mais produtivo é não criticar a pessoa. É criar oportunidades para se conversar a respeito, para falar sobre o comportamento daquela pessoa. Se não há críticas à pessoa, os filhos não terão porque defendê-la e então estarão muito mais predispostos a ouvir. Mesmo que no momento rejeitem, depois irão identificar o que os pais falaram nas atitudes do outro. Aí poderão reconhecer a razão dos pais sem se sentirem “dando o braço a torcer”. Lembrem-se que o orgulho e a altivez dos jovens fazem parte do processo de auto-afirmação pelo qual estão passando, estado este que dará lugar à auto-confiança assim que se perceberem mais seguros de si. Não tentar dobrar esse orgulho a ferro e fogo é dar aos filhos o reconhecimento de seus valores pessoais, mesmo que seus conceitos estejam errados. E os conceitos podem ser discutidos. Difícil é reconstruir uma personalidade que se formou sobre uma base de críticas negativas e desastrosas quanto à pessoa e ao seu comportamento.
É normal o jovem discordar, mesmo quando a razão está clara. Está testando o nível de aceitação pessoal que possui, mais do que a negação do exposto.
Texto Revisado
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