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Os labirintos da eutanásia (1ª parte)

Atualizado dia 10/13/2006 9:27:21 PM em Autoconhecimento
por Victor Sergio de Paula


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1. EUTANÁSIA: UMA VISÃO CINEMATOGRÁFRICA

O tema é dos mais espinhosos e áridos, pelo simples fato de tratar de um assunto ligado à vida humana, ou melhor, ao direito de viver ou de morrer. Por isso a eutanásia continua sendo alvo de acirradas discussões, tanto na sociedade, como na comunidade científica.

Por consequência, o cinema não poderia deixar de abordar o tema e, em 2004, o diretor espanhol Alejandro Amenábar dirigiu Mar Adentro, um filme delicado e intimista que conta a história verídica de Ramón Sampedro, um marinheiro espanhol que ficou tetraplégico depois de um salto mal calculado no mar aos 26 anos de idade.

O ganhador do Oscar de melhor filme de 2005, Menina de Ouro, dirigido por Clint Eastwood, que faz o papel de um treinador de boxe, mostra a prática da eutanásia, depois que a personagem vivida por Hilary Swank é vitimada por uma lesão medular incurável, oriunda de uma queda durante uma luta, o que a deixou tetraplégica. Clint Eastwood não faz qualquer concessão ao sentimentalismo ou às elucubrações de cunho metafísico; mostra a eutanásia à queima-roupa e pronto. Tiremos nossas conclusões!

1.1. O CASO RAMÓN SAMPEDRO

Ramón Sampedro, o personagem-real do filme citado, que passou três décadas da sua vida lutando na justiça espanhola para que lhe fosse permitida a eutanásia, acabou morrendo através de um suicídio assistido. O ato do suicídio foi gravado em vídeo como forma de documentar, provar, a sua ação pessoal na administração da medicação em dose letal.

Sampedro é mostrado no filme como um homem amado por seus familiares e amigos que dele cuidaram até a sua desencarnação, o que não foi suficiente para sanar a sua insuportável sensação de vazio existencial que nem terapias ou anti-depressivos foram capazes de eliminar.

O filme não defende, em nenhum momento, a eutanásia como uma solução para terminar com o sofrimento de pessoas vítimas de doenças degenerativas (tal como a esclerose múltipla) ou de tetraplegias. Não há solução simples para o problema porque quando se trata de eutanásia ou suicídio assistido, a resposta sempre implicará em dor para uma das partes envolvidas, sejam o paciente, a família, o cônjuge, o médico ou a sociedade como um todo.

Ramón Sampedro foi encontrado morto, na manhã do dia 15 de janeiro de 1998 e sua necropsia indicou que sua morte foi causada por ingestão de cianureto.

2. O CASO TERRI SCHIAVO – RETIRADA DE TRATAMENTO

Em 16 de março de 2005, após uma intensa batalha jurídica entre a justiça da Flórida e o Congresso americano, os médicos foram autorizados a desligar os aparelhos que mantiveram viva Theresa Marie (Terri) Schindler-Schiavo, que teve uma parada cardíaca, em 1990 devido à perda significativa de potássio associada à bulimia, que é um distúrbio alimentar (do qual ela sofria). Ela permaneceu durante 5 minutos sem fluxo sanguíneo cerebral e, por conseqüência, devido a grande lesão cerebral ficou mergulhada em estado de coma. Com a autorização decretada pela justiça, Terri Schiavo desencarnou em 31 de março de 2005.

2.1. TERRI SCHIAVO x RAMÓN SAMPEDRO

Os dramas de Terri Schiavo e Ramón Sampedro apenas se parecem, pois têm peculiaridades que levam-nos a visões diferentes sobre a morte e o morrer.

Terri Schiavo teve sua vida abreviada pela eutanásia, conseguida judicialmente pelo marido, com a retirada de medidas de suporte de vida (retirada dos tubos de alimentação) e, por estar em coma, não houve manifestação da sua vontade. Ramón Sampedro obteve o fim de sua vida, aliás, ardentemente desejado, realizando o que se convecionou chamar de suicídio assistido, ou seja, concretizar a morte com o auxílio de outra pessoa.

As ocorrências de situações semelhantes às de Terri e Sampedro são numerosas em todo o mundo e trazem à discussão os aspectos éticos, morais, bioéticos e espirituais da eutanásia e do suicídio assistido.

3. A EUTANÁSIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA

A prática da eutanásia é algo que a história da humanidade tem registrado desde tempos remotos em várias civilizações como na Índia antiga, na qual os doentes incuráveis eram jogados no Ganges depois de terem vedado a boca e as narinas com a lama sagrada desse rio.

Referindo-se ao assunto, o Prof. Genival Veloso de França relata-nos que “em Atenas, o Senado tinha o poder absoluto de decidir sobre a eliminação dos velhos e incuráveis, dando-lhes o conium maculatum – bebida venenosa - em cerimônias especiais“. Ainda mais: “na Idade Média, aos guerreiros feridos em combate oferecia-se um punhal muito afiado, conhecido por misericórdia, que lhes servia para evitar o sofrimento e a desonra. Os espartanos, conta Plutarco em Vidas Paralelas, atiravam anciãos e recém-nascidos deformados do alto do Monte Taijeto“.

A eutanásia veio a ser condenada como prática cruel e desumana somente a partir das tradições judaico-cristãs, tendo em vista que essa prática implica no término do bem mais sagrado ao homem: a vida!

Texto revisado por Cris

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