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Palestra de Sua Santidade o Dalai Lama: O poder da Compaixão

Atualizado dia 5/1/2006 9:48:17 PM em Autoconhecimento
por INSTITUTO LOTHUS -ESCOLA DE MAGIA INTERIOR


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Palestra proferida no dia 29 de Abril, Sábado, no Parque do Ibirapuera, São Paulo

O PODER DA COMPAIXÃO

"Cada um de nós possui aspectos do ser. Nasci no Tibet, sou um monge, sou o Dalai Lama. Mas o mais importante é que sou ser humano. Estou falando como ser humano, não como monge ou religioso. Assim, minhas palavras não serão sobre religião, mas sobre valores do ser humano. Você, como ser humano, deve me ouvir como pessoa.

Não tenho novas idéias, vou apenas dividir minhas experiências. Já passei dos 70 anos. Em minha vida passei por momentos difíceis, quando descobri que o melhor amigo é a paz mental. Você pode ser uma pessoa relaxada, pode fazer a vida melhor, usando a inteligência mais propriamente: o que está relacionado à paz mental.

Durmo de 8 a 9 horas; nunca utilizei tranqüilizante para dormir ou durante o dia. Paz mental é muito importante. Mente calma deixa você mais relaxado, fazendo com que as funções mentais sejam normais. Assim, os elementos que compõem seu corpo entram em equilíbrio, o sono é tranqüilo, a digestão normal.

Paz mental e mente calma são fundamentais. Em minhas caminhadas tenho encontrado pessoas de diferentes grupos e religiões: políticos, monges, doentes, banqueiros; todos têm problemas, independente de sua atuação ou situação. De qualquer forma, fica sempre muito claro que por mais que se tenha problemas, se tiver a mente calma, será mais fácil lidar com eles e mais fácil será a comunicação com a pessoa. Mas a mente conturbada, mentalmente agitada, tem dificuldade de comunicação e traz dentro de si muita ansiedade. Então, é fundamental ter a mente tranqüila.

A vida não é fácil hoje. Existe muita competição, agitação, correria, o que pode tornar a mente tensa. E quando isso acontece, as pessoas vão buscar a Paz e a tranqüilidade no externo, usando drogas, álcool, cigarro, que trazem benefícios de curto prazo; tratam da vida como se estivessem num parque de diversões, tentando evitar seus problemas. Isso gera conflitos. É preciso olhar para dentro de forma séria, achar o jeito de usar seus recursos internos.

Na educação ocidental, moral tem ficado por conta das diferentes tradições religiosas, enquanto as instituições educacionais cuidam de desenvolver o cérebro. Por alguns séculos isso funcionou. Mas com o tempo, vem ocorrendo menor influência da religião nas sociedades e famílias. Na sociedade moderna parece não haver ninguém encarregado de cultivar valores éticos e morais e perceber a importância dos valores internos.

Falando de valores internos, eu sinto que, em muitas ocasiões, aconselhar para que o tempo se encarregue ou ouvir uma palavra não muda ninguém. A mudança é mais consistente quando é feita de forma planejada, sistemática, explorando esses temas desde o jardim da infância até a universidade, buscando uma sociedade mais perfeita.
Deveria ser feito um plano apropriado para introduzir valores internos no currículo. É preciso encontrar formas de cultivar esses valores, para que ocorra a transformação da sociedade para uma condição mais afetiva e pacífica. Deixo aqui a idéia. Pensem nisso. Estou partindo amanhã. Agora é com vocês.

Podemos falar de ética e moral por dois pontos de vista. A ética baseada na fé religiosa e a não baseada em crenças religiosas. A primeira funcionava bem nos tempos antigos. Hoje as sociedades apresentam multiplicidades de culturas, etnias, tendências, o que tornou mais difícil a influência da fé religiosa sobre todo um grupo de pessoas, diminuindo seus benefícios. É necessário encontrar outras formas de ensinar valores éticos.

Entendo por ética toda motivação – seja de corpo, de fala ou de mente - que tem o objetivo de trazer benefícios para o outro e para si mesmo. O importante aqui é que a motivação seja sincera. Quando voltado para ajudar o outro, servir, compartilhar o que tenho, isto é ética. Pode ser através de uma palavra; se tem por trás uma motivação sincera é um ato ético. Mas um ato praticado com um sorriso artificial nos lábios ou oferecendo um presente sem intenção boa e verdadeira ou com a intenção de prejudicar o outro, são atos anti-éticos. Se existe sinceridade na motivação - motivação genuína - mesmo que apareça como uma palavra mais dura, é uma atitude ética em essência.

Mesmo que seja ligado ao benefício do outro, também o ato ético traz benefício para quem pratica. A curto prazo talvez a pessoa não sinta o efeito. Mas praticando compaixão, com o tempo, colhe os benefícios para si mesmo. Algumas pessoas vêem a prática da compaixão como uma conduta religiosa; pode ser quando está envolvida com o perdão.

Mas a compaixão ligada a gestos que fazem bem ao outro não é somente religiosa. Compaixão faz parte de nós sempre: a criança está sob a influência da compaixão desde seu primeiro dia de vida. Quem primeiro ensina compaixão é a mãe. Quando crescer vai ouvir de alguém mais sobre isso. A compaixão é imprescindível para a vida: se a criança não receber afeto e cuidado desde que nasce, não sobrevive; porém, sem religião, sobrevive.

Acreditar que a prática da compaixão é basicamente voltada para o benefício do outro e não para si mesmo é um erro. A prática da compaixão traz benefícios imediatos para quem pratica. Fazendo o bem, ajuda aos outros, o que automaticamente traz para você auto-confiança, reduz o medo e a ansiedade na vida. A compaixão na vida torna mais fácil fazer amigos. Um sorriso genuíno encanta as pessoas que sorriem de volta; o mesmo acontecendo com os animais ao receberem o carinho.

Expressar compaixão genuína também é um afeto. Diante do calor que vem do coração, vêm respostas na forma de gestos de compaixão genuína. Com má vontade brota a raiva, a suspeita e a desconfiança, o que causa desconforto na vida. Viver com raiva, ódio, suspeita de tudo, é como se estivesse andando num corredor escuro, como se tudo fosse ameaçador.

Mas a compaixão nem sempre é confortável para quem recebe. Exemplo: sorrir para pessoas desconhecidas. Quando sorrio para pessoas na rua, muitas vezes elas também sorriem de volta; vêem nisso algo positivo. Mas, às vezes, você sorri e a pessoa estranha e suspeita – “Por que está rindo para mim? O que quer de mim?”. A prática da compaixão traz perturbação para a vida dos outros, mas para a vida de quem pratica sempre traz benefícios.

Quando olhamos para os atos humanos, é essencial saber qual a motivação para esses atos, e assim também é importante saber qual a nossa motivação. Se a motivação é para a paz, é um ato construtivo. Motivação que tem por base ignorância, raiva, inveja são ações humanas destrutivas, mesmo que ligadas a motivos religiosos. É importante saber qual a nossa motivação em nossos atos. Motivação correta, ligada à compaixão, tem papel fundamental. Compaixão correta é aquela que vem acompanhada de sabedoria.

E a compaixão verdadeira, acompanhada de sabedoria, leva à paz de espírito que se reflete em uma vida pessoal e familiar melhor e mais tranqüila. Assim se constroem comunidades e nações mais saudáveis. Essa é a força da compaixão.

A compaixão é uma força. Cultive-a."

Texto revisado por Cris

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