Perambulando pelas possibilidades



Autor Zhannko Idhao Tsw
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/21/2010 2:49:59 PM
Acordei cedo, com frio. Curitiba é uma cidade onde quedas de temperatura pela madrugada são comuns. Ao levantar para pegar outro cobertor percebi luz por baixo da porta. Fui ver o que era. Alguém esqueceu a luz da sala acesa. No relógio marcava 4h25. Aproveitei para ir ao banheiro, peguei o cobertor e voltei para a cama. Concentrei-me em manter-me lúcido durante o adormecimento do corpo para conseguir uma projeção consciente. Por experiências anteriores já sei que os períodos matutinos como esse são ótimos para se conseguir projeções integrais e conscientes. .:.
Estou batendo numa porta. Espero. Um jovem abre a porta, com cara de quem acabou de acordar.
- Olá. O Moriel(*) está?
- Está. Lá no final do corredor.
Do outro lado da porta vejo um corredor comprido, com portas de lado a lado. Parece ser uma república de estudantes. Cada porta dá para um quarto apertado, com uma ou duas camas, e uma porção de trecos jogados pelos cantos. No corredor também prolifera objetos jogados, uma máquina de lavar com uns cacarecos encima, e mais uma porção de coisas no chão, aqui e ali. Curiosamente os quartos não têm portas. Chegando ao final do corredor olho para os lados a busca de meu amigo. Encontro-o no quarto da direita, deitado na cama, aparentemente dormindo.
- Olá. - digo, entrando no quarto.
Ele levanta-se lentamente para ver quem é. Parece bastante cansado.
- Olá.
- Vim conversar com você. Pode ser?
- Claro. - responde, fazendo esforço para sentar-se na cama.
Ao mesmo tempo que estava feliz por rever um velho amigo, também estava constrangido por vê-lo naquele estado. O quarto era uma bagunça total, com roupas e livros jogados para todos os lados.
- Como você está? - perguntei.
- Bem.
- Lembra-se do dia em que nos conhecemos?
- Não.
- Lembra-se do nosso último encontro? - Eu estava curioso para saber como tinha sido sua vida desde que nos separamos. Mais do que isso, queria saber qual o momento exato em que houve a bifurcação espaço-temporal e nossos caminhos se separaram definitivamente.
- Não. - foi a resposta seca. Fiquei um pouco decepcionado.
- É a droga. - disse uma colega do quarto vizinho, que aparentemente estava ouvindo nossa conversa do corredor. - Tá acabando com a cabeça dele. - completou, e sumiu pela porta tão rápido quanto apareceu, meio envergonhado.
- Droga? - falei de mim para mim mesmo, não necessariamente surpreso.
- Cara, você precisa parar com isso. - disse para ele, que pareceu não ouvir.
- Tenho algo para lhe contar. Essa vida que você está vivendo é apenas uma, dentre uma infinidade de vidas diferentes. Eu já passei por algumas delas. Não sei ao certo como isso acontece, só sei que uma hora estou aqui e outra hora estou ali. Há um monte de vidas diferentes, e você escolhe qual delas vai viver.
Ele virou-se para o lado por um instante, para vomitar. Ao voltar-se sua boca ainda estava suja, mas ele pareceu nem perceber. Neste momento ouvi tocar a campainha. Logo alguém veio informar que sua mãe estava na porta esperando para falar com ele. Por minha visão remota vi uma senhora alta e gorda, com um sobretudo e um chapéu pretos, esperando do lado de fora da porta.
- Eu preciso ir. - disse ele.
- Só mais uma coisa. - disse eu. Queria fazer alguma coisa para garantir que ele não ia esquecer de nossa conversa. Pensei em flutuar, coisa que sabia fazer bem e provavelmente ia impressioná-lo.
- Olhe. - disse, e afastei-me um passo. Fiquei com os pés juntos e os braços dobrados nos cotovelos, concentrando-me para levitar. Por um breve instante fiquei com receio de que não pudesse fazê-lo, mas logo meu corpo começou a se elevar no ar, até ficar a uns 30 ou 40 centímetros do chão.
Ele começou a rir dizendo que podia fazer o mesmo. Imitou minha posição fazendo de conta que estava se concentrando, debochando de mim.
- Preste atenção. - disse, isso não é só um truque de mágica. - E lentamente desloquei-me para traz, até o corredor, onde vi que não tinha ninguém observando, e lentamente voltei para perto dele.
- Sabe, quando você desenvolve suas habilidades, - disse para ele, apontando para sua cabeça - coisas acontecem. Pense nisso.
A campainha tocou novamente.
- Eu preciso ir. - disse ele. - Se não atender minha mãe ela não me dá a pensão.
- Fui afastando-me de costas, ainda flutuando, passando por uma porta no corredor, que dava para uma área aberta.
- Espere. - disse ele, correndo em minha direção.
Fui afastando-me mais rápido, passando sobre o muro, flutuando mais alto, até sair de seu alcance de visão. Fiquei flutuando assim por alguns instantes, planando sobre a cidade, a alguns metros do chão, vendo passarem as ruas e casas.
Passando rapidamente sobre um rio lateral à estrada, vi uma árvore com alguns galhos quedando sobre o rio. Num galho havia um conjunto de 5 velas brancas. Voltei um pouco para ver com mais detalhes. As velas estavam apagadas (ainda não haviam sido acessas) e no galho ao lado havia mais umas três ou quatro velas brancas. "Que estranho", pensei, "isso não é lugar para se fazer um trabalho". Pelo que sei normalmente esses "trabalhos" com velas são feitos em encruzilhadas. E porque as velhas não haviam sido acessas?
Neste momento o despertador tocou. Eram 6 horas da manhã.
(*) Moriel é um nome fictício.
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