PERDOAR
Atualizado dia 4/23/2006 6:37:35 PM em Autoconhecimentopor Luciano Américo
“Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo porque não procuro minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou”.
João – 5:30
Há um dito, não me recordo de onde ouvi: "Perdoar é humano, ignorar a ofensa é divino." Somos criaturas imperfeitas, certo? Tenho lá uma certa dúvida. Somos imperfeitos de fato ou a imperfeição surge nos meandros da nossa ignorância? Deus, que é perfeito, seria capaz de pensar ou fazer algo imperfeito? Tiramos daí que a imperfeição é produto apenas da nossa imaginação, ilusão do ego que desconhece qualquer coisa que supere o prazer de apreciar a sua auto-imagem.
Nosso infantilismo nos faz crer que somos imperfeitos, portanto, não devemos nos comparar com o Mestre dos mestres, que nos ensinou a perdoar nossos ofensores até setenta vezes sete. Traduzindo esta expressão antiga quis ele dizer: ao infinito... "Quantas vezes fores ofendido tantas vezes darás perdão."
Mas, dizemos para a nossa vaidade, “não somos Jesus, por isso não temos a obrigação de fazer o que a sua estatura espiritual lhe permite”. Seria, então, esse mestre e amigo um mentiroso, pedindo-nos para fazer o que somente ele seria capaz de cumprir? Seriam mentirosas, destarte, suas palavras: “Vós sois deuses” ou “o Pai está em mim e está em cada um de vós”? E ainda mais, “fareis obras maiores do que as minhas”?
Isso tudo não é um convite para deixarmos de criancice e pensarmos que não somos capazes de agir orientados pela justiça divina, produto do seu amor? Se não viemos aqui para aprender isso, estamos marcando passo porque nem milimetricamente estamos avançando no conhecimento da perfeição em nós mesmos, já que perfeitos somos na essência. Só não descobrimos ainda... Essa ficha demora a cair.
Fazemos inimigos e acreditamos neles porque custamos a aprender a viver como espíritos na carne justamente por não termos assimilado a consciência de que somos irmãos na luz, independentemente da ilusão do separatismo que fazemos entre nós mesmos. Ora, defendemos uma religião, uma casta, uma raça, uma classe social, uma tradição, uma origem genealógica ou tudo isso junto e mais. Tornemo-nos, por um momento, um observador vindo do espaço, isento de qualquer ligação com os sentimentos humanos e perceberemos a insensatez de tudo isso. Se ainda acreditamos na nossa imperfeição, tenhamos ao menos uma virtude: a humildade de nos percebermos nem melhores nem piores que ninguém e que estamos, a duras penas, aprendendo com a vida a sermos conscientemente irmãos.
Vejamos o que diz Huberto Rohden em seu livro “Filosofia Cósmica do Evangelho”, no capítulo “A quem vós perdoardes os pecados lhes serão perdoados”:
"Analisamos a palavra portuguesa “perdoar”. Mas convém não esquecer que nem o texto grego do primeiro século, nem mesmo o texto latino dos séculos subseqüentes falam em “perdoar”. O grego usa o vocábulo aphiemi, que quer dizer desligar, soltar, libertar. O latim usa a palavra demittere, que significa demitir, que é um sinônimo de soltar, libertar.
Quer dizer: o perdão é considerado como uma libertação ou um desligamento entre o ofendido e o ofensor. Quando alguém não se dá por ofendido pelas ofensas do ofensor, então ele se desliga, ele se põe numa outra dimensão de consciência: há um ofensor, mas não há um ofendido. O ofensor se acha no plano do ego ofendido e o ofendido se acha no mesmo plano. Mas, se o suposto ofendido se tornar inofendível, então abandona ele o plano do ego e passa para a dimensão superior do eu divino, que é inofendível. O ego é comparável com a água, que é “ofendível”, isto é, contaminável pelo ambiente. O eu é como a luz, que é “inofendível”, incontaminável pelo ambiente. “Vós sois a luz do mundo”.
De maneira que, à luz do texto, o homem espiritual não perdoa propriamente as ofensas, mas ignora-as; desligou-se do plano do ego ofendível e subiu às alturas do Eu inofendível. O ego vicioso, quando ofendido, se vinga. O ego virtuoso, quando ofendido, perdoa.
O Eu crístico, se desliga da idéia de ser ofendido; está para além de vingança e da perdoação. “Sede perfeitos assim como é perfeito vosso Pai que faz nascer seu sol sobre bons e maus e faz chover sobre justos e injustos”."
A uma das maiores personalidades humanas que o mundo conheceu, Mahatma Gandhi, uma vez foi perguntado se ele perdoava todos os que o injuriaram e maltrataram. Para surpresa, talvez, do interrogador, Gandhi respondeu que nada tinha a perdoar uma vez que ninguém jamais o ofendeu. Gandhi, em sua profunda experiência humanitária e espiritual disse também: “O amor de um único indivíduo neutraliza o ódio de milhões”. A vida de Gandhi e o que ele realizou na Índia e para a humanidade é testemunho de suas próprias palavras.
Amigo, pode compreender o sentido da frase seguinte?
O Espírito da Força nada pode contra a Força do Espírito; se queres, realmente, eliminar teus inimigos, ama-os.
Para entender isso é preciso mais que a análise racional. É necessário ter em si despertado o conhecimento e sentimento de que não existe contrário nem dualidade. Tudo é um; nossa consciência é o que cria o sentimento de dualidade: belo e feio, bem e mal, frio e quente, negro e branco, e por aí vai...
Por isso não há inimigo ou amigo... apenas individualidades ligadas à unidade, ao Todo, portanto, irmãos que interagem promovendo o adiantamento evolutivo uns dos outros.
Texto revisado por Cris
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