Pessoas fortaleza!

   

Autor Paulo Salvio Antolini

Pessoas fortaleza!

Existem pessoas que são consideradas verdadeiras fortalezas. São aquelas que estão sempre prontas a ouvir e agir em favor de outras. Deixam seus próprios problemas "de lado" e estão sempre disponíveis. . É comum elas ouvirem: "Você é forte!"; "Não sei como você agüenta tudo o que passa."; "Queria ter um décimo de sua força." e muitas outras afirmações.

Mas um dia, esses problemas deixados de lado e acumulados aos atuais, exaurem as forças destas "potências" que a todos ajudam. Estas "pessoas fortaleza" também sofrem perdas e  dores, têm contas a pagar e dificuldades a serem superadas em seus trabalhos e residências. Nesta hora, elas também necessitam de um "ouvido e ombro" amigos. E é então que percebem que não têm ninguém que as ouça. Aqueles que tanto recorreram a elas não reconhecem este momento, esta necessidade. E então passam a ser consideradas pelas "pessoas fortaleza" como ingratas, egoístas e até interesseiras. Quando uma imagem é formada, a tendência é generalizar e então, se vemos alguém como "pessoa fortaleza" não estaremos atentos suficientemente para enxergar nela outras manifestações que não sejam de força e luta.

Já ouvi de várias "pessoas fortaleza" expressões como: "Elas (as pessoas) não percebem que eu também tenho sentimentos!"; "Eu estou falando que estou com problemas e elas ignoram, começam a falar dos delas....". e assim por diante. Estas "pessoas fortaleza" normalmente são guerreiras, com uma fibra diferenciada para o enfrentamento das situações, com iniciativa e disposição para "o que der e vier". Procuradas e admiradas por muitos.

E é aqui que começamos a refletir no que mantém essas pessoas sempre voltadas para os demais. A recompensa que elas possuem além do ajudar: Serem procuradas e admiradas por muitos. Pessoas com espírito altruísta, mas que baseiam seu próprio reconhecimento no quanto os outros as cercam, procuram-nas e  as admiram. E quando percebem que não foram solicitadas em uma ou outra situação, algumas até dizem: "Ué! Não precisou de mim desta vez?". Não é paradoxal?

Mais paradoxal porém, é o sofrimento pelo qual passam: de um lado o que sentem por não serem ouvidas em seus momentos de necessidade e por outro lado, por se fazerem "rochas", que tudo enfrentam e superam, necessitando, entretanto, serem reconhecidas por isso. Não admitem se sentirem fragilizadas, pois consideram isso uma grande fraqueza. Mas vejamos o exemplo de um microscópio que amplia em 10.000 vezes uma imagem e de outro que amplia em 100 vezes a mesma imagem. O primeiro é indubitavelmente muito mais potente e sensível que o segundo. Outra confusão: as pessoas acham que ter sensibilidade é ser fraco. Percepção totalmente distorcida e errada de si mesmo. Sensibilidade não tem nada a ver com fraqueza. Conseqüências? Vejamos:

Os pais se separam, a criança de oito anos aconchega-se à mãe para externar seu sofrimento. A mãe, preocupada com a saúde emocional do filho, tenta acalmá-lo dizendo que tudo vai se resolver, tudo vai passar, numa tentativa de excluí-lo do problema. Isso porque ela acha que se admitir seu próprio sentimento ao filho, poderá parecer fraca aos seus olhos, ele não irá sentir apoio e segurança nela. Quando a mãe fez isso, inconscientemente ela não deu importância ao principal sentimento que afligia o filho. Não foi sensível para perceber que estava negando algo de muito real no sentimento do filho. Muito mais saudável seria ela dizer ao filho que também está sofrendo por tudo isso, mas que as coisas, aí sim, pode se dizer, iriam se "arrumar". A criança observaria que a mãe, pessoa a quem tanto ama, também sente o mesmo que ela e ainda assim, caminha com a cabeça erguida, enfrentando todas as dificuldades. Essa percepção é importantíssima para que as pessoas saibam que o sentimento de insegurança, o sofrimento trazido pelos acontecimentos, a falta de respostas imediatas, não são fatores fragilizadores ou enfraquecedores. Ao contrário, quem assim age contempla em sua ação todos os pontos importantes.

Para os que convivem com "pessoas fortaleza", lembrem-se de que elas também precisam ser ouvidas. Observem-nas como pessoas normais, que merecem ser admiradas sim, mas nunca as transformem em monstros sagrados.

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