Processo de Individuação
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Autor Psicóloga Ana Cristina Botelho
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/15/2013 3:54:50 PM
O ser humano tem na sua essência a possibilidade de alcançar a plenitude daquilo que pode vir a ser, tal como a semente de um fruto, que já contém em si a árvore que um dia será. Não precisamos lembrar à semente da manga que ela já tem o próprio potencial da manga e da árvore frondosa que se tornará, já que, esta semente, simplesmente, se desenvolverá e tornar-se-á uma manga com as suas características específicas.
O aspecto vital da diferença entre a semente da manga que na sua potencialidade se fará manga e nós, seres humanos, que, também, potencialmente, podemos realizar aquilo que já nos constitui é a consciência. O homem tem a capacidade de tomar consciência do seu processo de desenvolvimento e, portanto, fazer as suas escolhas pela direção na qual essa jornada será conduzida. A individuação não é algo que aconteça automaticamente à pessoa, mas deve ser buscada e conquistada com esforço, como um ato de grande coragem praticado na vida”. Ainda nesse sentido, concordamos com Stein (2006) ao referir-se que o estado de consciência de cada ser é determinante para a devida compreensão da psique. Portanto, o homem, sustentado pela sua consciência, é o próprio timoneiro da grande experiência da viagem pela vida.
A consciência não cria a si mesma – ela jorra de profundezas desconhecidas. Desperta gradualmente na infância, e durante toda a vida nasce todas as manhãs das profundezas do sono, saída de uma condição inconsciente. É como uma criança que nasce diariamente do útero primordial do inconsciente... Ela não apenas é influenciada pelo inconsciente como também emerge continuamente dele sob a forma de inúmeras ideias espontâneas e lampejos repentinos de pensamento. (C. G. Jung, OC XI, § 935)
Essa perspectiva abordada por Jung é muito interessante na medida em que ele pressupõe o desenvolvimento psicológico como um processo que ocorre durante toda a vida, ou seja, como uma “opção ao alcance de pessoas de qualquer idade, incluindo a meia-idade e a velhice”, conforme Stein (2006, p.155), entendendo a expressão e manifestação da personalidade como uma jornada que se desenrola pela vida inteira, já que o si-mesmo, como será abordado mais adiante, vem a emergir pouco a pouco. E a esse processo que se dá ao longo da vida Jung chama de individuação.
Mais especificamente, Jung fala de individuação para enfatizar o processo de desenvolvimento psicológico, como, segundo Stein (2006, p.156) “tornar-se uma personalidade unificada mas também única, um indivíduo, uma pessoa indivisa e integrada.” Por isso, ela inclui mais do que desenvolvimento do ego e persona, enquanto projeto idealizado para a primeira metade da vida, na medida que esse desenvolvimento não consegue dar conta de todo conteúdo da experiência do indivíduo no momento vivido, deixando então grande volume de material psicológico fora da consciência.
Portanto, individuar é um longo e profundo processo onde se dá o interjogo do confronto entre inconsciente e consciente, e como observador astuto e perspicaz, podemos olhar para si mesmo e acompanhar, vivenciando, o desenrolar dessa grande trama vivida, onde cada fio tecido pode representar um conteúdo, um lampejo de luz que saiu da sombra do inconsciente para ir ampliando e expandindo a consciência, até poder vê a si próprio como se é. Assim, a grande questão que podemos colocar para atribuir maior sentido a vida e a existência seria poder realizar a unidade psicológica, integrando aspectos conscientes e inconscientes da personalidade.
Conforme Jung (2008, p.60): “Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo. Podemos pois traduzir individuação como tornar-se si mesmo ou o realizar-se do si mesmo”.
Jung definiu o si-mesmo, como o arquétipo central da personalidade. Arquétipo faz parte do inconsciente coletivo e pode ser entendido como um núcleo de significado, carregado de energia, onde estão sedimentados todas as poderosas experiências ancestrais de toda a humanidade. Assim, o chamado si-mesmo seria como um ponto central da psique, para onde tudo converge e está relacionado, sendo um centro ordenador e unificador da psique total (consciente e inconsciente), exercendo uma soberania psíquica total, de forma que o ego fica submetido ao seu domínio; assim, a personalidade se completa, quando consciente e inconsciente se organizam em torno do self e este torna-se centro da personalidade, como o ego é o centro do campo consciente.
O si-mesmo (self) conforme definido por Jung é a pedra angular da sua teoria e a compreensão da sua profundidade é o caminho para o entendimento da individuação. Conforme pontua Stein (2006, p.137): “o si-mesmo é transcendente, o que significa que não é definido pelo domínio psíquico nem está contido nele mas situa-se, pelo contrário, além dele e, num importante sentido, define-o... Para Jung, o si-mesmo não se refere, paradoxalmente, a si mesmo. É mais do que a subjetividade da pessoa, e sua essência situa-se além do domínio subjetivo. O si-mesmo forma a base para o que no sujeito existe de comum como o mundo, com as estruturas do Ser. No si-mesmo, sujeito e objeto, o ego e o outro, juntam-se num campo comum de estrutura e energia.”
Um primeiro aspecto a destacar da consideração feita por Stein (2006) acerca do si-mesmo como propõe Jung é que este não equivale ao ego, ou seja, não significa que alguém é narcisista ou egoísta. Ao contrário, quando o ego está ligado ao si-mesmo, possivelmente, haverá o centramento do ser, com maior senso de equilíbrio e em conexão com a função transcendente. Função transcendente compreendida como uma função psíquica que se origina exatamente na tensão criada entre consciente e inconsciente, quando a tensão polar se manifesta e leva o ego a compreender o que está ocorrendo e buscar um acordo, nem sempre fácil, a partir daí, unindo os opostos produzir uma saída, um equilíbrio.
Interessante destacar, conforme Stein (2006), que a primeira experiência de Jung acerca do si-mesmo, situa-se entre 1916 e 1918, quando realizou a descoberta de que a psique assenta numa estrutura fundamental, que é capaz, inclusive, de suportar os choques de abandono e traição, que em geral, seriam factíveis de desestabilizar mentalmente e emocionalmente uma pessoa; dessa forma, nesse seu período, definido na sua autobiografia como “Confronto com o Inconsciente”, por ser repleto de emoções, ideias, memórias e imagens, ele estaria descobrindo então, um inconsciente padrão de unidade e integridade psicológicas.
Conforme Stein (2006, p.142): “O si-mesmo é o centro magnético do universo psicológico de Jung. Sua presença atrai a agulha da bússola do ego para o norte verdadeiro.”
Jung fala em se chegar a integridade, que é equivalente a si-mesmo, sendo que essa integridade se dá quando o si-mesmo é realizado na consciência, o que ocorre apenas parcialmente, já que estamos sempre produzindo mais conteúdo a ser integrado num processo contínuo.
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Ana Cristina Botelho é Psicóloga, Coach e Facilitadora de Desenvolvimento Pessoal e Profissional. Sua missão é ajudar pessoas no seu processo de empoderamento pessoal. Atende em SSA e via Skype. Tel. Vivo-(71) 9966.1533; Tim- (71) 9150.9923. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |