Quando o Condicionamento Deixa de Ser Prisão




Autor Marco Moura
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/15/2025 3:48:29 PM
Uma reflexão pessoal sobre o processo de enxergar - e deixar de ser controlado - pelos condicionamentos que nos cercam. Nem sempre é preciso lutar: às vezes, ver com clareza já basta.
Desde a adolescência, o tema do condicionamento sempre me instigou profundamente. No início, era uma inquietação rebelde: a percepção de que vivemos presos a estruturas invisíveis, sistemas impostos que moldam nossos pensamentos, desejos e comportamentos. Sentia como se tudo ao meu redor - a sociedade, a escola, a religião - estivesse tentando me moldar, e isso gerava uma resistência interna, uma vontade de romper com os padrões estipulados.
Fui percebendo que o condicionamento nem sempre se apresenta de forma óbvia. Às vezes, ele se esconde nas entrelinhas, nas certezas não examinadas que atravessam uma conversa. Sempre que alguém afirmava algo como se fosse uma verdade indiscutível, eu sentia o pensamento tropeçar. Era como se uma parte de mim dissesse: "Espera. de onde veio isso?" E eu me via, mais uma vez, naquela pausa solitária para investigar o que não foi sequer questionado. Isso me cansava. Até que encontrei um nome para esse tipo de estrutura invisível que sustentava tantas certezas: premissas. E compreendi que elas são como o Agente Smith, do filme Matrix - personagens sorrateiros infiltrados no sistema, que assumem a forma de ideias "normais", replicam padrões e nos mantêm presos à ilusão. Quando você não os reconhece, eles te controlam. Quando você os enxerga, algo muda: a realidade começa a se revelar de outro modo.
Com o tempo, encontrei no budismo uma lente muito mais refinada para olhar para isso. Em vez de lutar contra o condicionamento como algo externo, comecei a compreender como ele atua dentro da gente - como criamos realidades a partir dos sentidos, sensações, percepções, formações mentais. e nos enredamos nelas.
Essa perspectiva me levou a outro tipo de liberdade: uma que não exige romper com o mundo, mas sim enxergá-lo com clareza. Como diz aquele famoso koan: "Antes do zen, as montanhas eram montanhas; durante o zen, as montanhas deixaram de ser montanhas; depois do zen, as montanhas voltaram a ser montanhas." Chega um momento em que você para de lutar contra o condicionamento. Ele está aí. A diferença é que você o vê - e, ao ver, já não está tão preso.
Hoje eu busco fluir por esse caminho do meio: compreendendo que sim, há condicionamentos - físicos, mentais, sociais, culturais - e que não é necessário combatê-los com hostilidade. Basta ver. Compreender. Pegar ou largar. Dizer sim com sinceridade ou dizer não com firmeza, sem precisar esbravejar. E seguir. Porque também existe sabedoria nos padrões, desde que possamos dançar com eles, em vez de sermos arrastados.









Conteúdo desenvolvido pelo Autor Marco Moura Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |