QUANDO O ESPÍRITA É O OBSESSOR
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Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/9/2007 11:03:24 AM
"Não há uma fórmula pronta; mas é relativamente fácil reconhecê-lo: o indivíduo que possuí, em muitos casos, um conhecimento raso do que seja a mensagem espiritual e o conteúdo da Codificação Kardequiana, em si, bem como a essência maior do que seja o Espiritismo - mas que se comporta como doutor do assunto, sempre pronto a deitar erudição e enfadonhas lições de moral nos circunstantes, a partir disso; que se orienta também, no dia-a-dia, a partir de uma oscilação de humores horrorosa, desnorteando os que lhe são mais próximos com a incerteza de como se conduzir para com uma pessoa que, se numa hora se acha num céu interior, meia hora depois se transmuta num carrasco irritadiço, a pretexto de que ninguém logra alcançar - e nota-se aí, nada obstante, a sensibilidade exacerbada, que indicia a mediunidade latente, deseducada e em desequilíbrio, absorvendo qual esponja, a cada minuto do tempo, as influências ambientes, tanto de encarnados quanto de desencarnados...
É, ainda, aquele chamado "vampiro" das energias alheias, que tem por hábito alugar os ouvidos próximos com uma verborragia enervante, acerca de assuntos que giram apenas em torno de si mesmo, dos seus problemas, ou dos seus próprios interesses; o que, no ambiente familiar, se transmuta no déspota, no flagelo cobrador de condutas, e no censor implacável de filhos e de cônjuges: aquele que, se na casa espírita, na maior parte do tempo exibe a postura adequada ao labor do local devidamente saneado pela Espiritualidade contra o acesso de espíritos intrusos e perturbadores - em retornando ao lar, contudo, e onde o trânsito dos desencarnados grassa livre e obediente apenas a afinidades ou às venetas dos espíritos obsidiadores, tem o comportamento modificado, incompreensivelmente, para algo bem distante da tolerância e da afabilidade demonstrados na atmosfera profilática da casa espírita, orientando-se, ao contrário, por um pedantismo incompreensível que, no seu entendimento apenas, o situa acima de todos os outros mortais, e justificando, a seu ver, toda sorte de agressões e de impaciências a pretextos fúteis.
A convivência com tal gênero mutante de conduta torna num pandemônio a vida mesma dos que lhe são mais próximos, sejam familiares, amigos ou colegas de trabalho. E, de resto, ainda desacredita o alcance positivo do Espiritismo bem assimilado e aplicado no enredo da vida diária - sobretudo nos lances corriqueiros do cotidiano, que é o cadinho purificador, onde damos prova prática e cabal da nossa melhoria e da modificação interior à luz do que nos dita a mensagem sábia e bondosa dos espíritos, e onde as tentações, que atacam sem piedade as nossas piores limitações, se fazem implacáveis.
Porque, se quem abraça os postulados da Doutrina, buscando de resto trabalhar com os seus preceitos em favor do esclarecimento alheio nas instituições idôneas, não se policia, logo de início, para com as ciladas certas que assaltam todos os que, influenciados pelas energias que principiam a situá-los em dimensão de ação diversa da que domina no mundo; este, assim, com as defesas desguarnecidas logo estará, inevitavelmente, mais vulnerável ao assédio obsessivo, fácil e previsível. E se tornará, ele mesmo, lastimável exemplo de obsessor reencarnado! De alguém que, se aparenta o serviço útil em prol de si mesmo e do próximo a partir do que nos ensina a Espiritualidade maior nas dimensões invisíveis, na arena rude do dia-a-dia, contudo, - na principal, de onde lhe caberia demonstrar valor e conscientização na própria conduta aprimorada - exemplificará exatamente o oposto do preconizado pelo aprendizado luminescente da mensagem espiritual superior, incorrendo no famoso dito "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço", que, de si só, desautorizará qualquer credibilidade quanto àquilo que pretende divulgar e promover como verdadeiro e bom!
A mensagem é válida, portanto, para cada qual que se achegue ao remanso promissor das alegrias maiores e sublimes da Vida Maior: tendo em mente desde o começo, quando principia a agir dentro do universo real das leis que regem atração e sintonia espiritual entre afins, que se faz necessária a mente mais séria, e atenta ao preço árduo a ser pago por este enfoque de vida, num mundo de si viciado em energias densas a todo minuto diário, e, literalmente, repleto da população heterogênea que, dos dois lados da vida, disputam influências e interagem entre si, de ambas as dimensões, buscando ganhar espaço e habitat sintonizado a anseios e diretrizes individuais e egotistas.
É imprescindível a constante vigilância para com a modéstia que nos sinalize, a todo momento, os nossos próprios entraves, a serem duramente reformulados e lapidados; é vital a disposição renovada para aprender sempre, a cada instante - bem como o profundo respeito para com cada universo individual humano que requisita, a cada lance do cotidiano terreno, não censores implacáveis da conduta alheia, moralistas contraditórios, ou pregadores estéreis, pródigos em muito falar e alardear; prontos a pontificar o seu próprio caminho como o único válido. Todavia, distanciados da tolerância iluminadora que, como farol benvindo, é a indicadora fiel da diversidade humana existente para o enriquecimento da vida, e como terreno inviolável de livre arbítrio a ser, sobretudo, respeitado - ao contrário do que se incorrerá, fatalmente, em arrogância e em despotismo injustificáveis, e em nada condizentes com a Espiritualidade afeita, sobretudo, aos princípios excelsos da caridade e do Amor essencialmente cristãos.
Que cada espírita ou médium, assim auto intitulado, atente, portanto, para a subida responsabilidade de regular a própria conduta, no caldeirão efervescente do mundo atual, obedecendo a severo regime de sintonia fina para com as energias saneadoras do seu comportamento e estado íntimo, em primeiro lugar - para, assim, dar mostras convincentes, por último, aos que nos acompanham a jornada de cada dia, de que o espírita é a prova viva do poder transformador de mentalidades, em época de crise aguda, na qual o ser humano necessita, mais do que de qualquer outra coisa, da certeza de que toda uma eternidade de conseqüências para cada escolha sua o aguarda, confirmando, em episódios futuros e sempre renovados, a grave responsabilidade que lhe cabe quanto aos rumos impressos na sua jornada infinda, influenciando, de resto, a dos demais - com base em cada pensamento e ato praticados na ainda depreciada escola material terrestre."
Caio Fábio Quinto
pela psicografia de Lucilla
Lucilla & Caio Fabio Quinto são autores dos romances espíritas O Pretoriano, da Mundo Maior Editora; Sob o Poder da Águia, e Elysium, uma História de Amor Entre Almas Gêmeas, da Lúmen Editorial
Avaliação: 5 | Votos: 20
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Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |