Quanto custa a psicoterapia?
Atualizado dia 26/12/2006 10:49:38 em Autoconhecimentopor Sandra Rodrigues Garcia
Penso nisso quando me recordo de um garotinho que atendi em uma instituição aberta para famílias carentes. Nunca combinei nada em termos de dinheiro com a mãe, pois conhecia as dificuldades financeiras que ela enfrentava e em nenhum momento isso interferiu na qualidade do atendimento de seu filho nem no meu interesse por ele. Procurei trabalhar com o melhor de mim, buscando despertar o lado saudável da criança que me fora confiada generosamente pela mãe. O garoto progredia rapidamente, corria junto com tudo o que lhe era oferecido naquele espaço único, intuitivamente percebido por sua jovem inteligência e por seu desejo de crescer e desabrochar para uma vida melhor.
Gosto muito de trabalhar com crianças, pois elas entram facilmente no trabalho terapêutico e de certa forma aproveitam a experiência com uma sagacidade inédita, propícia a aceitar (não sem questionar!) aquilo que está sendo oferecido e que a faz sentir-se bem. Adultos podem agir dessa maneira, mas muitas vezes são propensos a ir e vir, entrando e saindo muitas vezes desses locus sagrado, desejando ir em frente e ao mesmo tempo ficar onde estão, ou seja, mudar sem mudar nada. E aí podem ficar meio empacados por algum tempo, mas quando se soltam e adquirem uma certa leveza, vão se tornando cada vez mais livres e capazes de se enfrentar e a seus temores, o que permite mudanças profundas, verdadeiras, benéficas.
Recorro a este caso para pensar melhor a questão do pagamento e o quanto ele é relativo. Claro, psicólogos e psicoterapeutas precisam ganhar dinheiro como todo mundo, mas nem por isso são obrigados a estipular valores fechados. Creio mesmo que o preço dependerá de um acordo feito entre ambos e como tudo o mais precisa ficar preservado pelo sigilo. Uma vez combinado, está tudo bem. Esse garotinho de 7 anos decidiu por si mesmo ‘pagar’ as sessões com flores. Trazia sempre algumas florezinhas amarelas que colhia a caminho da clínica e as colocava num copinho com água para me entregar. Esse gesto delicado passou a fazer parte da rotina do seu atendimento alguns meses após o início dos nossos encontros; de tal forma que quando não encontrava as flores ficava aborrecido e prometia trazê-las na sessão seguinte. Nunca foi cobrado por nada, mas de certa forma fazia sua parte, mostrando a disposição para oferecer algo em troca pelos esforços que fazíamos juntos, abrindo novos caminhos, que ele trilharia e completaria depois, sem a minha presença.
Quero destacar o que me parece mais significativo nisso tudo: as flores que recebi continuam presentes, vivas em minha lembrança, marcadas pelo tempo em que trabalhamos juntos, quando as vejo nos jardins, parques, residências. O simbolismo de seu gesto jamais será apagado de minha memória. Lembro-me com carinho e sou muito grata por ter sido meu paciente e por ter me ensinado uma das mais importantes lições para aplicar ao dia-a-dia. Refere-se justamente à questão do valor que devemos conferir ao trabalho terapêutico. Recebi flores e nunca mais vou me esquecer desse gesto. Procuro manter sempre comigo essa delicadeza, quando falo de dinheiro com meus pacientes. Enfim, a generosidade e a confiança mútua podem estar alicerçadas em detalhes como esse. E sem garantir um bom alicerce, não se cria um locus sagrado, ou seja, o lugar que promove o crescimento e o encontro com a alma. Em resumo: onde se faz psicoterapia.
Sandra Rodrigues Garcia
Psicoterapeuta.
Atende em São Paulo, com hora marcada.
3661-5785.
[email protected]
Texto revisado por Cris
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