Que tédio!
Autor Bernardino Nilton Nascimento
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/19/2009 8:05:17 PM
O tédio, um desagradável sentimento que ronda o ser humano, tem recebido, depois do aparecimento da depressão, muito menos atenção do que merece. Foi, creio eu, um dos grandes e poderosos males de outras épocas, mas que ainda sobrevive nos dias de hoje.
Tédio não é depressão, e uma de suas causas é o contraste entre as circunstâncias presentes e outras, mais agradáveis, que se impõem irresistivelmente à imaginação. Outra porta aberta ao tédio é não estarmos com as nossas faculdades inteiramente ocupadas. Fugir de inimigos que procuram tirar-nos a vida é desagradável, mas não é, certamente, tedioso. O tédio é, em sua essência, um desgosto, que não deixa de ser um aborrecimento calado. Um profissional especializado pode distinguir o tédio da depressão, encaminhando para um tratamento terapêutico apropriado.
Podemos imaginar o mundo há cem anos ou mais, onde o peso do tédio que pairava sobre as pessoas deveria ser bem maior que nos dias de hoje, pois naquela época a vida era bem mais monótona, livre das grandes agitações de hoje. Imaginem, também, a monotonia do inverno numa aldeia.
Somos menos entediados do que os nossos antepassados, mas receamos muito mais o tédio. Chegamos a compreender e acreditar que o tédio não é algo natural, que faz parte da vida, e que pode ser evitado mediante uma busca suficientemente vigorosa de estímulos. As mulheres, hoje em dia, vivem e trabalham para, além de outros motivos, aliviarem o tédio de uma vida doméstica, encarada por muitas como uma rotina chata e monótona.
Talvez certos momentos de tédio sejam um ingrediente necessário à vida. O desejo de fugir deles é natural em todas as raças. Quando os índios experimentaram pela primeira vez o álcool, oferecido pelos brancos, encontraram, afinal, um meio de fuga do tédio. Guerras, programas e perseguições, tudo isso têm sido parte da luta contra o tédio.
A peregrinação pelo deserto, pelas caatingas, pelas florestas, pode ser uma maneira de fuga do tédio como uma forma de fazer o tempo passar. Esse determinado tipo de tédio, insuportável, é devido ao medo que se tem dele. Ao fugir da espécie de monotonia a que nos referimos, somos presas de outra espécie de tédio muito pior: o aborrecimento de não estar satisfeito consigo mesmo.
Então, procure um especialista para tirar você do tédio, sem tirar sua tranquilidade, seu modo de viver e de ver a vida. Uma vida extremamente agitada pode levá-lo ao tédio num final de semana tranquilo, prolongando-se até te levar a um mal maior.
Conheço pessoas que relataram que o pior dia da semana são as tardes de domingo, quando uns estão dormindo, outros saindo de casa para passear, namorar. Os programas de televisão repetitivos não despertam interesse, então, bate a monotonia, a tristeza, o pensamento vai ao passado, vem os arrependimentos, os aborrecimento e, enfim, o tédio. Nada a ver com a depressão, porque chega segunda-feira, volta a agitação e sua vida volta ao normal.
Uma vida feliz deve ser, em grande parte, uma vida tranquila, pois é somente numa atmosfera de tranquilidade que a verdadeira alegria pode existir. E onde há alegria, não existe tédio.
BNN
Texto revisado
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