Quem é você ?
Autor Paula Cristina Barbosa Fernandes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 28/10/2015 23:28:24
Inacreditável como as pessoas confundem o SER com o ter, com o estar, com o fazer. Tenho percebido em mim mesma e em tantos outros ao meu redor a enorme confusão que fazemos ao tentar responder a pergunta “Quem sou eu?”... Todos querem ser bons, querem fazer algo, viver algo grandioso, ter um local a que possa chamar de seu... todos vivem nessa ilusão de SER o que realmente não se é e nunca se foi... De uma maneira mais simples, confundimos o que fazemos com o que somos...
O que tem acontecido no mundo, é que cada dia mais as pessoas dispensam toda sua energia no que fazem, nas milhões de coisas que fazem durante o dia... Temos que ser bons, generosos, caridosos, respeitosos... temos que trabalhar duro, estudar muito, ter casa, diploma, família, muitos amigos, uma vida social replete de atividades e pessoas. Temos que fazer muitas coisas, estar em muitos lugares mas será que estamos verdadeiramente nessas tantas tarefas?
Algumas pessoas ao realizarem suas tantas tarefas na obra da caridade, não percebem que ao longo do caminho vão deixando uma fila de pessoas que se tornaram apenas pontes para O FAZER o BEM... Gastam toda sua energia em fazer coisas boas, construir coisas boas que as outras pessoas possam ver, olhar, observar... mas não percebem que nesse processo praticamente não fez uso do bem que tanto desejafa fazer.
Vamos nos perdendo nesse processo louco de auto-conhecimento, e ao invés de conseguir nos conhecer vamos apenas nos montando, desenhando uma imagem que queremos de nós mesmos, uma imagem que achamos que é bonita perante os que estão ao nosso redor... Pegamos tudo que não faz parte dessa imagem e simplesmente ignoramos, escondemos ou apenas fingimos que não existe...
Se por um instante alguém confronta uma dessas partezinhas secretas de nós mesmos o nosso pequeno disfarce se desfaz, vemos as estruturas que sempre foram ilusórias e frágeis se trincando, sentimos medo e por instinto nos defendemos... e o fazemos muito bem, pois nesse momento usamos o que temos lá dentro de nós e que é na realidade a verdade de nós mesmos. Temos então a impressão de que isso é errado, de que fizemos algo ruim, ficamos com aquela sensação de agonia dentro do peito... “porque eu fiz isso, pra que fui falar tal coisa, nunca mais farei essas coisas” e por dias, meses e as vezes até anos nos mantemos nesses pensamentos de arrependimento e culpa.
Mas nada disso aconteceria se ao invés de tentarmos ser o que não somos passássemos a viver realmente o que somos, percebendo nossos vícios e nossos pontos de desequilíbrio, permitindo que eles se mostrem e tendo sempre a consciência do que deve ser melhorado. Com respeito por nós mesmos, sem máscaras, sem nada para esconder. Mas com a consciência de que SOU e de que não é porque SOU que é certo eu SER... Tudo pode ser melhorado sempre. Nenhum de nós é um ser humano terminado, estamos nos construindo, estamos em processo de descobrir as partes trincadas para poder refazer o vazio dentro desses espaços...
Nós, em nosso processo de auto-conhecimento nos perdemos várias vezes no desejo intenso e insano de ser alguém fácil de se gostar, de se querer por perto, alguém importante no grupo, que tomasse decisões e a fizessem cumprir, de ser alguém que sempre tivesse as respostas, alguém que realmente fosse sempre citado e olhado com admiração e respeito. Tantos de nós passam a vida nessa ilusão do TER... ter respeito, ter educação, ter um bom emprego, tem um lugar de destaque no grupo, ter metas, ter decisões a tomar... E nem percebemos que nós não temos que ter nada, não precisamos de nada disso... e vamos nos enterrando, nos perdendo, nos afastando de nós mesmos e por consequência nos afastando da nossa essência divina.
Eu não tenho que ser nada que eu ainda não possa ser, eu respeito minhas limitações, consigo perceber cada uma delas e traço objetivos reais que me ajudam a mudar essas falhas em meu ser... amo e aceito cada uma dessas pequenas feridas que carrego pois são elas que me lembram o que ainda preciso melhorar e aprender e me tornar.
Eu não finjo ser nada que realmente não seja, não me calo com medo de ser mau interpretada, falo o que sinto e mostro o que sou, ainda que não seja belo e brilhante mas na certeza de que realmente sou eu.
O ato de mostrar não quer dizer que não tenha a consciência da limitação e dos problemas que essas falhas me causam, eu SOU, por isso mostro aos que estão ao meu redor, percebendo a verdade do erro em minha atitude posso repará-la e não mais repetí-la, ao contrário dos que escondem as feridas de suas personalidades e assim passam a vida tentando esconder os vestígios que possam denunciar de alguma forma a sua existência...
Presisamos aprender a ser mais leais com nós mesmos, não somos perfeitos, nem bondosos o suficiente, não sabemos tudo nem conhecemos ninguém verdadeiramente... precisamos parar de tentar projetar no outro o que apenas existe em nós mesmos... Chega de justificar nossos atos de egoísmo e arrogância na suposta bondade do ato... nenhum ato de bondade se cria a partir do machucar o outro, do se perder do outro...
Olhe ao seu redor agora, no exato momento em que está vivendo e perceba a enorme quantidade de pessoas que você não confia, não acredita, não quer mais por perto... Cada uma dessas pessoas representa um pedaço daquilo que você esconde em si mesmo. Olhe para cada uma dessas pessoas e perceba o que nelas te tras desconforto... e tenha a certeza de que é exatamente isso que existe em você em maior quantidade, transbordando e ultrapassando os limites do que é aceitável dentro da imagem que você criou.
Aceitar isso que não é bonito nem agradável mas que faz parte de você é o primeiro passo para se tornar alguém realmente melhor, é o primeiro passo para que você possa realmente ter atos da caridade e amor... é a única maneira de conseguir encontrar a paz e a felicidade. É esse nosso real propósito nessa vida: perceber nossas feridas, encontrar o remédio para cada uma delas e tratar sem esconder ou fingir que elas não existem.
Estamos todos no mesmo barco, na mesma classe da pré escola, dividindo o mesmo tempo e espaço, a mesma energia, a mesma morada...
Quem é você? Qual seu propósito?
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