Racionalidades
Atualizado dia 9/26/2006 2:58:03 PM em Autoconhecimentopor Fátima Cristina Vieira Perurena
É preciso chamar atenção para o leitor que o conceito de racionalidade está vinculado umbilicalmente ao Iluminismo, e que este, por sua vez, vinculou aquele ao que é humano. Assim, a partir do século das Luzes, o ser humano passou a ser definitivamente racional, e aos não-humanos sobrou o caminho, perigoso, do irracional. Sem sombra de dúvida este entendimento de mundo foi responsável, entre outros, por muitas das nossas melhores ideologias (veja-se o marxismo, por exemplo), para não falarmos, sequer, do gigantesco avanço tecno-industrial da sociedade capitalista ainda em curso. Desta forma, quando alguém, por exemplo, comete um ato criminoso hediondo, é imediatamente associado a um animal. Ele ou ela não agiu de maneira racional, não usou da razão, esquecendo-se que esta não é a solução para tudo, ou para todos os bens e males.
A racionalidade, na forma como a conhecemos, do ponto de vista estritamente científico, estando atrás dela o projeto cartesiano de ver o mundo, não há como negar, nos ajuda em um quase infinito número de ações que desempenhamos em nossas vidas cotidianas, especialmente no que se refere a atos envolvendo moeda. No entanto, quando saímos do mundo do dois mais dois são quatro, e não são poucas estas esferas, vemos o quanto é estreita a herança iluminista. Mas aqui esta já se nos apresenta como ideologia e representação, ao mesmo tempo, e esbarramos em imensas dificuldades, seja para compreendermos nosso mundo interno envolto em emoções as mais variáveis, seja para nos movimentarmos no complexo mundo das relações sociais mesmas.
A racionalidade iluminista tem sua própria lógica; outras lógicas (leia-se racionalidades), entretanto, são passíveis de serem pensadas e implementadas, do ponto de vista prático. Outros parâmetros e abordagens são perfeitamente desejáveis em um mundo cada vez mais complexo de explicar e aceitar. Um ponto de partida possível pode ser aquele em que trabalhamos nossa intuição, aquela vozinha quase inaudível que nos diz “faz isto e não aquilo”, e que no mais das vezes não nos permitimos ouvir. Ela não está fundada em amarras racionais, pelo contrário, é instintiva, animal. E o resultado, por vezes, é desastroso. Ficamos infelizes. A racionalidade, enquanto ideologia, não nos permitiu abrirmos possibilidades e exercitarmos, talvez, o que temos de mais peculiar, enquanto humanos, que é nossa flexibilidade de ação diante do mundo.
Texto revisado por Cris
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