Reflexões sobre beleza e idade
Atualizado dia 11/12/2023 1:11:34 PM em Autoconhecimentopor Patrícia Marques Barros
A pintura "A Velha no Espelho", de Bernardo Strozzi, foi pintada há 400 anos e tem aproximadamente 1,34 m de altura e 1,07 m de largura. Não se trata de uma obra de tamanho heróico como normalmente eram feitas por encomenda naquela época, mas sim o tamanho é humano, íntimo. Suas cores suaves, pelo nome moderno de pigmentos, podem ser escarlate, vermelho ocre e tons de rosa... Ele misturou todas estas cores para retratar detalhadamente a suavidade da expressão da velha.
"A Velha no Espelho"e duas outras obras de Strozzi foram executadas com amor e carinho, e não para "ganhar a vida", como a maioria de seus outros quadros. Uma de suas pinturas atípicas mostra uma linda criança rechonchuda e adormecida com fitas vermelhas. Outra retrata uma velha incrível com a asa de um anjo parecendo brotar de suas costas. Essa aparência alada vem da colocação de um grande anjo atrás da velha. Essas duas pinturas e a Velha no Espelho são representadas com graça e generosidade, utilizando a cor vermelho sangue e são muito diferentes das obras habituais de Strozzi, que são cenas escuras/claras do tipo Caravaggio.
A Dra. Clarissa acredita que a velha retratada nos dois quadros anteriormente mencionados provavelmente é a mãe de Strozzi, que o artista protegeu e amou, assim como ela o protegeu e amou. Ao que parece há uma razão pela qual Strozzi imaginou sua mãe justaposta a um anjo... Strozzi entrou no mosteiro capuchinho de Santa Bárbara, em Gênova. Ele desejava deixar o mosteiro para pintar, mas o governo de sua época tentou forçá-lo a voltar ao serviço como monge. Eles o prenderam. Dizem que a sua mãe confrontou os funcionários do governo, da igreja e não iría embora até que libertassem seu filho.
Um crítico de arte, desconsiderando a história por trás do quadro, escreveu o seguinte: "Aqui ele retrata uma velha de pele cansada e cabelos brancos que nega a si mesma a dignidade da velhice. Ela está com os cabelos suntuosamente penteados e enfeitados com fitas e penas, usa um vestido jovem e decotado e se admira com prazer no espelho. O tema desta pintura tem uma longa tradição: a velha que não aprendeu a dar à sua vida outro sentido senão o do ornamento e da vaidade, e que não consegue ver a verdade nem reconhecer o seu verdadeiro eu no espelho."
A Dra. Clarissa P. E. tem outra visão da obra. Ela observou a evidência do amor que o artista colocou em suas pinceladas.Para ela não se trata da pintura de uma mulher vaidosa nem vil, mas sim o retrato de uma mulher que tem presença. Ver o seu leque de penas fez com que a Dra. Clarissa se sentisse atraída a amar sua ousadia silenciosa, a admirá-la e a querer saber tudo sobre sua vida.
O comentário do "crítico de arte" nada diz sobre o que uma mulher ou um homem que ama as cores e a arte pensaria ou sentiria à medida que envelhece. A interpretação é claramente a visão insípida transmitida pela cultura, que ensina muitas pessoas a ver a idade de forma barata, isto é, "com um ponto de vista tão estreito que a pessoa pode ver através do buraco da fechadura com os dois olhos".
Esta época é uma época comovente para ser, vestir-se, atuar, aprender e viver com arte. Não apesar da idade, mas POR CAUSA dela. Esta é a nossa hora de florescer da maneira que desejarmos. Não apesar dos nossos desafios, mas POR CAUSA deles. É ridículo que a cultura queira definir como deve ser o "chegar a um acordo" com cada fase das nossas vidas e como deve ser o processo de envelhecer quando a cultura ainda pensa que a resposta para a maioria dos desafios é a guerra. É evidente que a nossa cultura está doente e muitas ideias e crenças transmitidas por ela devem ser questionadas.
A Dra. Clarissa observou que no espelho os olhos da mulher mais jovem têm o mesmo formato dos olhos da velha. Para a psicanalista e escritora, esta não é uma pintura sobre vaidade; é uma pintura sobre ressonância, sobre gerações. A pintura diz que a velha é tão gentil, terna, lindamente perfumada e fresca quanto a flor que ela segura; que embora a flor seja cortada, há mais de onde ela veio, nas estações há mais flores. A pintura também mostra que ela é gentil e grandiosa à sua maneira única.
Embora a cultura ensine que todos devemos ser fatiados e cortados em filetes no mesmo formato, a velha perigosa diz o contrário. Afinal, estamos aqui na Terra, cada um de nós, para nos tornarmos únicos. E, assim, liderar o caminho, passo a passo, para um mundo mais refinado de seres humanos, criaturas e natureza, um mundo no qual vale a pena viver... Um mundo onde mulheres sábias não perguntam como uma pessoa é, como se veste, nem exigem que todos sejam ou ajam da mesma forma... Um mundo onde as mulheres sábias estão muito mais preocupadas em saber se o coração é bom, se o cuidado consigo e com os outros é evidente, se o espírito está interessado e é interessante, se a alma cumpre suas promessas e encontra suas notas de graça diariamente.
Estas mulheres sabem que "viver e deixar viver" não é suficiente, mas sim "viver e amar e deixar viver" é o credo útil... Afinal, são mulheres que não seguem as mensagens transmitidas pela cultura sobre como ver o mundo ou as vidas das outras pessoas.. Elas se esforçam para amar, traçar e manter limites, pois acreditam em proteger o que é precioso e não deve perecer nesta Terra. Elas resistem a ser treinadas para fingir que têm a cabeça indecentemente vazia ou que estão contentes em viver como pessoas sem potencial e que não sabem nada... Portanto, estas mulheres são as mais perigosas de todas. E há mais mulheres perigosas na face da Terra agora do que nunca antes em toda a história humana.Texto Revisado
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