Menu
Somos Todos UM - Home

RELACIONAMENTOS VIRTUAIS

Facebook   E-mail   Whatsapp

Autor João Carvalho Neto

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 3/21/2006 1:39:15 PM


Um fato que tem chamado muito minha atenção, e que se torna cada vez mais comum, são os relacionamentos virtuais que vêm dando um novo formato ao encontro dos seres humanos. E sobre eles gostaria de ensaiar algumas reflexões.

Inicialmente quero salientar que me refiro, neste artigo, à opção por relacionamentos virtuais em detrimento dos reais, quando estes poderiam ser escolhidos, e não àqueles outros eventuais que fazem do computador um instrumento de comunicação útil e necessário, aproximando pessoas que às vezes encontram-se distanciadas pelas circunstâncias. Também não posso deixar de admitir que, embora me pareçam exceções, alguns deles acabam abandonando as telas da virtualidade e tornando-se reais, até mesmo em relacionamentos conjugais estáveis. Contudo, a grande maioria permanece, por opção, no âmbito limitado de comunicações que não se fundamentam em trocas integrais das individualidades, já que ficam escondidas por detrás de monitores e teclados.

A constatação desse “esconderijo” demonstra o quanto as pessoas estão prisioneiras de medos que lhes impedem de viver com plenitude suas possibilidades relacionais. Estamos no tempo em que o medo é explorado comercialmente, vendendo-se, por conta dele, seguros de todo tipo, trancas e planos de saúde, serviços de entrega a domicílio para que o homem fique protegido dos perigos do mundo, mas acastelado nos perigos de sua própria solidão. Em uma sociedade onde se pretende proteger cada vez mais esse homem, ameaçado por uma violência que se tornou um produto da economia capitalista, nunca se viu tantos transtornos fóbicos e depressivos compondo um quadro quase endêmico no planeta.

Entretanto, esse medo alastra-se pelas estruturas psíquicas com sintomas muito mais complexos do que se possa imaginar, levando as pessoas a buscarem tornar-se imunes a todo tipo de sofrimento – como se isso fosse possível – inclusive àqueles que possam ser produzidos pelas frustrações afetivas. E, diante de um monitor, qualquer ameaça pode ser facilmente “deletada” com o aperto de um botão. Não percebe esse ser humano que está deixando de encontrar o outro no mundo lá fora para tentar encontrá-lo nas representações de letras que vão formando frases na tela do seu monitor. A única forma de lidar com o sofrimento que lhe é inevitável será tornar-se forte para suportá-lo e elástico para encontrar as adaptações das soluções possíveis.

Freud apontou que, para toda frustração não elaborada pela mente, haveriam de ser utilizados mecanismos de defesa que a fizessem suportar a dor em andamento. Um desses mecanismos chama-se negação e compreende, conforme o sentido da palavra, a negação do fato doloroso. Penso que na opção dos relacionamentos virtuais esconde-se a falta de coragem para enfrentar a expectativa de possíveis frustrações afetivas no campo relacional, utilizando-se como mecanismo de defesa, para amenizar a frustração que já existe nessa falta de coragem, a negação de que não se precisa olhar nos olhos, sentir o cheiro, a pele, trocar energias no contato dos corpos, compartilhar sorrisos e lágrimas que são características humanas, sendo o que nos fazem humanos e não objetos virtuais. Como em todo mecanismo de defesa, existe um ganho de prazer secundário e incompleto, no caso o relacionamento virtual, mas não primário e real, em que as necessidades psíquicas pudessem ser realizadas.

O homem é um ser complexo, composto de estruturas que interagem em um sistema único que constitui a sua individualidade. Segundo tenho defendido, inclusive como tema de estudo em meu livro “Psicanálise da alma”, esse homem tem objetivos transpessoais que regem sua vida, conduzindo-o ao reencontro consciente com o Poder Criador através do encontro consigo mesmo e com seu semelhante que é a presença desse Poder Criador que lhe está mais próxima. Tal encontro precisa ser completo, ou seja, deve envolver todas as estruturas componentes da individualidade para que seu objetivo se consigne.

Nos relacionamentos virtuais a base do encontro é principalmente cognitiva e egocêntrica, calcada muito mais no discurso e na vivência das próprias emoções do que na percepção e interação com as emoções alheias. Um fato que demonstra esse egocentrismo é ser comum as pessoas conversarem virtualmente com muitos parceiros simultaneamente, sem poder, obviamente, envolver-se profundamente em nenhum dos discursos em andamento. Na verdade o importante não é o outro naquilo que ele tem para oferecer na relação, mas o quantitativo das relações como mecanismo de fuga pessoal.
O interessante é que quase sempre os relacionamentos virtuais sistemáticos desenvolvem-se durante os períodos das noites e madrugadas, quando após a agitação do dia, em que se escondeu a mente incapaz de lidar consigo mesma, um travesseiro poderia ser um convite a uma auto-análise indesejável. Por isso talvez pareça faltar sono, por isso talvez um monitor e um teclado sejam instrumentos de uma fuga tal qual tantas outras drogas. E por isso talvez também o homem continue a sofrer tanto, temerário de encarar-se a si mesmo, de conviver e compartilhar com seu semelhante.

Mas cedo ou tarde ele terá que realizar a sua viagem introspectiva, abandonando a virtualidade de um mundo em que tenta reconstruir o “paraíso perdido”, para aceitar e lidar com a vida em toda a sua realidade. E somente nesse estado de realidade a sua felicidade poderá ser sentida como tal.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
www.joaocarvalho.com.br

Texto revisado por Cris

Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 32


estamos online   Facebook   E-mail   Whatsapp

foto-autor
Conteúdo desenvolvido pelo Autor João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.
Veja também
Deixe seus comentários:



© Copyright - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução dos textos aqui contidos sem a prévia autorização dos autores.


Siga-nos:
                 

Energias para hoje



publicidade










Receba o SomosTodosUM
em primeira mão!
 
 
Ao se cadastrar, você receberá sempre em primeira mão, o mais variado conteúdo de Autoconhecimento, Astrologia, Numerologia, Horóscopo, e muito mais...


 


Siga-nos:
                 


© Copyright 2000-2025 SomosTodosUM - O SEU SITE DE AUTOCONHECIMENTO. Todos os direitos reservados. Política de Privacidade - Site Parceiro do UOL Universa