Remorsos!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/13/2013 10:20:51 PM
Remorsos!
Vocês se lembram desse termo, remorso? São capazes de precisar a quanto tempo não escutam falar dele? Faz tempo, não é? Mesmo em consultórios, tal sentimento já não mais citado com a mesma freqüência de antes. Consultemos o dicionário: Remorso - Inquietação da consciência por culpa ou crime cometido, contrição. Contrição - Arrependimento; dor profunda de haver ofendido aos seus; pesar; pena.Pois é! Tudo tem os dois lados e aqui também tem o aspecto positivo e o negativo.
No aspecto positivo vemos que as pessoas estão se tornando mais receptivas para assumir suas responsabilidades sem ficar "chorando sobre o leite derramado", ou seja, assumem seus erros, desculpam-se e vão em frente, empenhando-se em não cometerem mais os mesmos erros e fazendo por corrigir os que erraram. E quando se age assim, há assertividade, há responsabilidade e, portanto, não há espaço para a culpa.
Mas em seu lado negativo, deparamos-nos com algo muito sério, que é a pouca importância que se dá aos outros, ao que o outro sente com nossos atos. Se não existe mais esta preocupação, rompe-se a cadeia que compõe o remorso. O comportamento de uma grande maioria em relação às pessoas com que convivem está muito bem expressado em uma música que diz: "Tô nem aí, tô nem aí..." As pessoas estão "nem aí" para com as outras.
É sério, porque é o rompimento do tratamento respeitoso, do reconhecimento do outro enquanto ser existente e com os mesmos direitos que nós. Reflexo disso é o não cumprimento das normas e consensos, cada um fazendo que "lhe dá na telha". Exemplos? O carro estacionado sobre a calçada, que se danem os pedestres! O carro estacionado em fila dupla, fechando a passagem, os outros que desviem! Cortar a fila e ainda reagir exaltadamente ante uma reclamação, fazendo os reclamantes sentirem vergonha, mesmo estando certos. Falar ao celular dentro do cinema ou do teatro como se estivesse em sua própria casa. Há muito outros. Cada um de nós sabe de uma lista enorme de comportamentos desse tipo.
Antigamente existia uma preocupação maior com as pessoas, preocupação em não ofendê-las ou desrespeitá-las, às vezes até desproporcional aos fatos ocorridos. Algumas pessoas usaram como instrumento de manipulação o remorso. Era comum alguém ser injustiçado e usar da chantagem para com o causador da injustiça, mesmo quando este pedia perdão, realmente arrependido. Exemplo mais fácil de identificar é o da "doença". A pessoa "injustiçada" passava a sofrer um mal qualquer de saúde, cuja origem era atribuída ao "choque" sofrido. Estava estabelecida a manipulação.
A palavra arrependimento hoje já não traduz o desejo de não ter realizado o ato. É utilizada apenas para expressar o reconhecimento pelo erro cometido.
Só se têm remorsos quando se tem consideração e respeito por aqueles que nos cercam e com quem estamos nos relacionando.
A idéia não é proclamar "a volta do remorso", mas apenas constatar quão pouco as pessoas estão considerando as outras em suas relações. O quanto os atos praticados estão sendo individualistas, egoístas mesmo. É a prática da política do "eu me dando bem, os outros que se danem!".
Quantas vezes vocês já perguntaram a alguém: "Você não sente nada com o que fez?". Esta pergunta revela o não levar em conta o próximo.
Mais um motivo para ser algo muito sério a não existência do remorso? O embrutecimento que as pessoas se estabelecem para não ter que se sentirem culpadas. Se não se considera o outro não há porque ter que se refletir sobre o feito e as suas conseqüências. Fica apenas o "deu certo ou não".
Não estou conclamando a volta da dor profunda de haver ofendido os seus. Estou apenas alertando, para que possamos reativar a sensibilidade de perceber a existência do outro.
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