ROSA DOS VENTOS



Autor Claudette Grazziotin
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/19/2004 8:48:52 PM
"Toma o escudo da tua crença e enfrenta o vento ou todos os ventos com destemor."
Nesta tarde chuvosa de final de outono, inspirou-me um axioma e uma saudade que há algum tempo plantou-se em mim, como esses musgos às paredes úmidas.
Os dois desejam que eu fale de fé, de destemor e de crença.
Evoco um lugar indistinto entre o Círculo Ártico e o Trópico de Câncer. Uma ilha num lago de águas doces entre as milhares que pontilham o solo sueco. Tisenö, seu nome.
Para lá eu vou ao encontro de uma menina. Minha filha. Um pouco mais que uma criança. Sensível, mas, corajosa e forte. Um olhar caloroso, vivaz, perscrutador. Um temperamento inquieto, destemido, indócil, farejando sempre um vento de aventura.
Daqui, olhando através da vidraça embaçada, caminho para além de espaço e tempo e estou com ela. Sua imagem toca meu coração e a amo mais ainda pela sua audácia. Uma menina! Ouço sua voz repetindo insistente, perguntando-me se eu a compreendia. Se eu conseguia perceber que para ela, a cidadezinha simples, sem muitas perspectivas onde nascera e vivera a maior parte dos seus poucos anos, não podia ser um obstáculo, nem tampouco,conseguia preencher e conter sua ânsia de mundo. Que ela pressentia, pulsando, para além daqueles montes que se fechavam num círculo limitante, um universo cujo mistério urgia ser descoberto.
Assim, a menina ousou um sonho. E nele, crendo, alimentou-o com confiança. Enfrentou decepções, antagonismo, descrença, zombarias. Muitas vezes, quase viu irem por terra, seus desejos, sua esperança. Os ventos que sopraram nem sempre foram favoráveis. Mas seu coração forjou-se em aço pela fé, fortalecendo sua convicção.
A Rosa dos Ventos aprumou-se por tal crença e destemor e apontando na direção do Norte tornou o sonho real.
Digo-lhe daqui com a alma exultante que a compreendo. E vibro torcendo por ela porque uma outra menina que se reconhece nela, em outros tempos, olhando para os mesmos montes, também, sentiu forte, do outro lado, um mundo desconhecido a chamar.
Hoje, minha saudade chama da pequena Tisenö, a menina que, lá, está vivendo a realização de seu sonho e com sua alegria e coragem enfrentando possíveis desafios. Feliz!
Enquanto escrevo, emergem da lembrança algumas imagens que antecederam sua partida e vejo o aeroporto, uma menina e sua mãe. Um último e intenso abraço. Depois, o beijo amoroso da mãe selado em sua testa, benção e prova da mútua confiança. As mãos demorando a se soltar, apertando-se com força e, então, o último beijo, que ela estala na face da mãe, mas que fica impresso em sua alma. Então, mais um olhar, o aceno de mão, o sorriso ainda infantil brotando entre algumas lágrimas e, a figura da menina desaparecendo atrás da porta de embarque se fechando. Apoiada na vidraça, a mãe vislumbra-a subir a escada que conduz à aeronave. Lá do alto, a menina olha buscando-a, tentando encontrá-la. A aeronave desliza pela pista e eleva-se encontrando o céu. A mãe segue a sua trajetória forçando o olhar, até a perder de vista.
Depois, lentamente, senta silenciosa. Retira da bolsa uma caneta, um bloco de notas e abrindo-o, com letra firme e bem delineada escreve na folha em branco: O avião é um ponto no horizonte. Dentro dele, uma menina vai em direção ao seu sonho.









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