SERPENTE E ENERGIA NUCLEAR

   

Autor Oliveira Fidelis Filho

Serpenteando entre as várias culturas, presentes nas mitologias, deslizando entre as páginas dos livros sagrados, entre os redutos da ciência ou se apresentando como símbolo místico para diferentes conceitos religiosos e espiritualistas, eis as antigas e enigmáticas serpentes. Divinizadas e demonizadas, eram também de utilidade prática e pública; as não venenosas eram preservadas nos templos e nos lares da Grécia, não só por seu significado sagrado, mas também pela sua utilidade pois alimentavam-se dos ratos.

Lembrando Joffre de Rezende, membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, "a cobra seria o bem e o mal, a sagacidade e a imortalidade, o elo entre o mundo conhecido (superfície da Terra) e o desconhecido (subterrâneos)".

No livro sagrado cristão, ela mostra sua língua e destila o seu veneno do primeiro ao último livro, de Genesis a Apocalipse. Em Genesis 3.1, a serpente é descrita como "o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado". Para a tradição cristã, é geralmente a grande vilã que possibilitou a abertura da caixa de pandora, de onde emergiram todos os infortúnios experienciados pela humanidade e pelo Planeta Terra.

No livro de Êxodo, capítulo 7, vers. 10, 11, 12, no entanto, encontramos serpentes defendendo lados opostos na dualística batalha entre o bem e o mal. Na concepção de Moisés, a serpente do Faraó era do mal, entretanto, penso que o Faraó via com bons olhos sua própria serpente. Ainda hoje, Israel continua achando que sua serpente é mais poderosa do que a do Egito e vice-versa.

Não seria difícil desentocar outras serpentes no acidentado terreno bíblico, pois de sua simbologia autores e intérpretes usam e abusam. No último livro bíblico, Apocalipse, surge uma serpente dantesca, "cobra criada", um poderoso dragão que para o escritor de Apocalipse descende de antigas serpentes.

As serpentes que desejo capturar neste artigo, para delas extrair o antídoto para o sofrimento humano, encontram-se descritas em Números 21 vers. 6 a 9. "Então o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes que morderam e mataram muitos. O povo veio a Moisés e disse-lhe: pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós estas serpentes. Moisés intercedeu pelo povo e o Senhor disse a Moisés: Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida."

Para os objetivos deste texto, veremos a serpente como símbolo do egótico e avarento desejo de conhecimento humano que, coabitando com o cientificismo mecanicista, estruturas políticas e interesses econômicos, é capaz de gerar resultados devastadores. Espelha a motivação esvaziada de humanidade, a busca do conhecimento de forma irresponsável, objetivando o maior lucro no menor tempo. Tal comportamento já dura tempo demais; no mito religioso de Adão e Eva há os que creem ser a maçã o símbolo do conhecimento enquanto que a serpente representa a motivação sensual com a qual desejamos tal conhecimento.

No decorrer da história, já nos deixamos seduzir pelo conhecimento, pela ciência e tecnologia, movidos pelo céu e pelo inferno,   por Deus e pelo diabo. Assim, muitas descobertas feitas em divinos momentos de paz tornaram-se infernais enquanto outras, engendradas nos infernais horrores da guerra e da corrida armamentista, transformaram-se em instrumento de conforto, entretenimento e bem estar. Semelhante à serpente, o conhecimento pode ser vitalizador ou devastador, sagrado ou profano, ou ainda, concomitantemente ou alternadamente, abarcar ambas as possibilidades.

O texto, acima transcrito, remete-nos a esta dualidade simbólica presente na figura da serpente. O povo estava sendo picado pelas serpentes do deserto, pois é no deserto da alma que as serpentes proliferam, tornando-se abrasadoras e letais. Moisés, ouvindo de Deus a voz, investiu na construção de uma serpente de proporções maiores, iluminada, que seria erguida na direção do céu e, portanto, não ficaria mais rastejando. Os envenenados pelas serpentes do deserto olhariam para esta nova serpente e seriam curados.

À semelhança da serpente, construída no deserto e erguida por Moisés na direção do céu, o conhecimento humano, quando erguido na direção de Deus para que o orvalho da Sabedoria possa polinizá-lo e divinizá-lo, resulta no florescer e no frutificar da Terra, facultando a humanidade deleitar-se na justiça, paz e alegria.

Ainda que na maioria das vezes a bíblia identifique a serpente com o mal, a que foi construída e erguida por Moisés tipifica o Mestre Jesus. Com justiça, pois olhando para Ele percebemos que é possível deixar de rastejar, erguendo-nos e expandindo-nos para uma dimensão de vida amorosa, livre e abundante.

Infelizmente, a religião geralmente tem transubstanciado Jesus, este maravilhoso construto divino a serviço da liberdade, do amor e da paz, em uma arma de morte, de opressão, fomentadora de culpa e de medo, além de fonte de grandes riquezas para alguns. Assim, a Serpente Sagrada, que uma vez foi erguida ao céu, acaba sendo pouco compreendida, ofuscada que é pelos mais sórdidos interesses. Jesus sentiu o veneno letal da religião e identificou seus líderes como "raça de víboras". Mateus 23.33

A sedução despertada pelas promessas da energia nuclear teria sido abençoado deleite não estivesse a alma humana intoxicada por densas sombras, o que levou à transmutação da desejada maçã em um abrasador e letal cogumelo. Poderia voltar a ser simplesmente maçã, não fosse a soberba e a ganância que ainda motiva alguns. Voltará a ser palatável maçã sempre que nos deixarmos "seduzir" pelo conhecimento, motivados pelo incondicional amor à Vida, em suas multifacetadas expressões.

Lembro que antes do desastre das usinas nucleares japonesas, dois grandes desastres já ocorreram em Three Mile Island e Chernobyl. Além destes, dezenas de outros acidentes nucleares intoxicam a humanidade, espalhando terror, sofrimento, destruição e morte a incalculáveis formas de vida. Ressalto que as usinas nucleares não são as únicas serpentes abrasadoras a infectar a vida em nosso Planeta; há muitas outras menos perceptíveis, mas igualmente venenosas. A quem possa interessar recomendo O Mundo Segundo a Monsanto  no youtube, sobre OGM e PCB.

Possuímos capacidade e conhecimento científico e tecnológico; se motivados pela Essência Divina, seremos capazes de transformar este Planeta no paradisíaco Jardim do Éden, gloriosa Aldeia Global. Para tal, é preciso optar pelas "serpentes" sem veneno e não brincar ou subestimar as que veneno possuem.

Cabe a nós não permitir que as "maçãs" continuem a ser transformadas em alucinantes e letais "cogumelos". Depende de mim e de você... 

  



  

 

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Oliveira Fidelis Filho    Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.