Sexualidade humana
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Autor Daniel Ferreira Gambera
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 8/27/2006 12:50:49 AM
Parece-me que, em nossa sociedade, um dos temas mais obscuros e confusos é o da sexualidade humana. Por mais que tenha procurado, encontrei muitas respostas que me satisfizeram sobre muitas questões humanas essenciais, porém, sobre sexualidade, ainda não encontrei nada que, pelo menos, me indicasse um caminho para entender, afinal, a espiritualidade da sexualidade.
Bom, talvez eu não tenha conseguido entender direito, ou, talvez não tenha sabido procurar. Mas, o fato é que tenho a sensação de que, dada as teorias e os conhecimentos disponíveis hoje em dia, a atitude mais sábia sobre sexualidade humana, além de dizer as coisas óbvias seria não falar mais nada.
As coisas óbvias são: o sexo é bom, sexo positivo, sexo é importante, é necessário respeitar a sexualidade dos outros e a nossa, etc... Nada que um pouco de reflexão e sinceridade e responsabilidade não nos proporcione.
E o resto? De resto há todo o tipo linhas de pensamento e de teorias, desde aquelas que dizem que a sexualidade é uma manifestação inferior até as que falam que a sexualidade é a manifestação mais espiritual que podemos ter nessa vida física...
Porém, tanto em umas teorias quanto em outras, as questões que realmente me incomodam freqüentemente não são nem formuladas. Talvez, por uma vaga intuição de que é melhor não mexer nelas, pois essas questões seriam difíceis de serem “desembaraçadas”, ou talvez, pela percepção de que as teorias são frágeis e que não resistiriam muito às questões reais.
Por mais incrível que pareça, até hoje, as abordagens mais realistas, esclarecedoras, e que considero realmente sem preconceitos sobre a sexualidade humana eu vi nos estudos sobre a sexualidade e comportamento dos animais. Nesses estudos, a condição animal do homem é aceita sem dificuldade e, a sua estrutura física, fisiológica e comportamental é comparada com a dos outros animais, para se chegar a entender um pouco, afinal, como seria a sexualidade humana.
Conhecendo um pouco desses estudos, fica ainda mais gritante a minha percepção da falta de conhecimento sobre sexualidade manifestada em todas essas correntes teóricas espiritualistas que entrei em contato. Muitas delas continuam até hoje a transmitir informações que nada mais são do que preconceitos, ou seja, idéias sobre algo que não chegaram realmente a estudar. Um dos exemplos bem claros disso é a posição de muitas sobre a homossexualidade. Freqüentemente tratam do tema como se fosse algum tipo de perversão ou distorção humana e não foram poucas as vezes em que pude ouvir dizerem que, no reino animal, não haveria a homossexualidade. Pois bem, a biologia explica: homossexualidade já foi ampla e consistentemente observada no reino animal e ocorre naturalmente. Não se sabe, ainda, explicar, sem grandes controvérsias, qual seria a razão disso, visto que, do ponto de vista reprodutivo ela representa uma desvantagem, mas, sabe-se, com certeza, que ela ocorre. Geralmente é uma percentagem pequena da população e, aparentemente essa percentagem varia de espécie em espécie. Assim, qualquer teoria que prefira dizer que o que ocorre naturalmente é anti-natural e prefira não ver e não assimilar a naturalidade dessa condição sexual, mostra, para mim, o quanto ela se baseia em fundamentos frágeis.
Outra questão é a da idealização do ser humano como um ser monogâmico. Sem entrar em muitos detalhes, há vários indícios biológicos na estrutura física, fisiológica e comportamental do ser humano que demonstram que ele, ao invés de monogâmico é, pelo menos, “levemente” poligâmico. Bastaria olharmos para o que realmente acontece na sociedade humana para chegarmos a essa conclusão. É interessante como, em certas questões, temos dificuldade em aceitar a realidade como o nosso referencial. Assim, também, eu sei, por experiência própria, que mesmo tendo uma parceira fixa, que me seja atraente e a quem eu ame, posso me sentir atraído por outra. É um fato natural. É um fato natural, também, que ela possa se sentir atraído por outro. Agora, onde estão as ferramentas espirituais para lidar com isso, se, para as teorias espiritualistas, esses fatos são considerados, também, ou anomalias ou perversões?
Como compreender as interações energéticas que estão envolvidas nesses eventos? E as repercussões multidimensionais? E as questões, tanto da historia pessoal, nesta vida, como da história das vidas passadas? E as interações com a realidade extrafísica? Tudo isso tem seu peso, tudo isso tem sua causa e sua finalidade. Como juntar tudo de uma forma coerente e esclarecedora?
Assim como essas duas questões básicas, há tantas outras que são trabalhadas de uma forma que eu considero insuficiente e, freqüentemente, ou falam o óbvio ou trazem mais confusão do que esclarecimento. Hoje, parece-me que aqueles que reconhecem a energia não entendem direito da biologia e os que conhecem a biologia não sabem da multidimensionalidade. A única sensação que me sobra é a de que ainda não encontramos a ponta do fio da meada para começar a pôr um pouco de ordem real nessa confusão.
Como conseguir coordenar a pressão da sexualidade, que pede uma coisa, da afetividade que pode pedir outra, da cultura, da ética? Como chegar a uma resposta mais íntegra? Uma que não nos reprima tanto, e que, também não nos diminua a consciência ou a sensibilidade. Ou seja, como chegar a uma resposta que consiga ser benéfica para a maior parte de mim e de minha realidade? Como encontrar essa perspectiva mais ampla? Como não me acomodar em soluções menos íntegras, que ignoram partes importantes de mim mesmo? Como distinguir mais claramente o que está acontecendo?
Não sei. Ou, pelo menos, vou tentando resolver, aos trancos e barrancos. Apenas consigo perceber a imensa delicadeza da trama em que a sexualidade, a afetividade, a energia, a história de vida (atual e passadas) estão tecidas Não há respostas simples. Não há certezas. Não há referenciais. Quando se mexe de um lado, produzem-se mudanças imprevisíveis do outro. Quando se deixa de mexer em um lado, problemas estouram do outro. Mesmo quando as coisas parecem estar mais ou menos equilibradas, depois de tudo, ainda fica difícil ou impossível saber exatamente o que aconteceu.
Sei que lidar com essas questões é um trabalho que cada um precisa aprender e realizar por si próprio, mas, às vezes, me sinto como se tivesse que realizar uma cirurgia delicada em minha vida utilizando como instrumentos machadinhas de pedra lascada...
Talvez, por enquanto, o melhor que há, mesmo, em termos de teoria, seja a máxima: “Viva e deixe viver”. Além dessa, talvez, a única coisa sensata que me reste, do ponto de vista teórico, por enquanto, seja aprender a dançar melhor...
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