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SÍNDROME DE TOURETTE - RELATO DE CASO CLÍNICO

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Autor Heloisa Garbuglio

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 10/30/2005 7:51:44 AM


J., 12 anos, sexo feminino, 6ª série. Foi encaminhada ao meu consultório pelo seu médico neurologista que já conhecia o meu trabalho em hipnoterapia. J. é filha única. Seu parto foi normal, sem intercorrências. Apresentou desenvolvimento neuropsicomotor sem anormalidades. Há um caso igual ao seu na família do pai - sua irmã caçula - que também apresenta a ST.

J. vem de uma família classe média baixa, com educação bastante rígida. Seus pais são católicos. O pai é auxiliar de enfermagem, trabalhando em dois hospitais. A mãe era secretária, mas desde o aparecimento da doença de J. não está mais trabalhando. O casal chegou ao meu consultório descrente de qualquer tratamento médico, pois durante os últimos cinco anos peregrinaram por consultórios e hospitais de vários profissionais da área de saúde, como também foram realizados vários tratamentos farmacológicos e terapêuticos sem sucesso.

J. é uma menina educada, inteligente e amável e como é natural de sua idade, com todos os problemas típicos de uma pré–adolescente, acrescidos da ST. J. manifestou a doença aos seis anos de idade após presenciar uma briga entre sua mãe e a vizinha. Os tiques começaram de uma maneira discreta e depois foram se intensificando. No último ano os tiques ocorreram sem parar, acrescidos de um piscar intenso dos olhos bem como o aparecimento dos tiques vocais que pareciam latidos e faziam com que J. estremecesse todo o corpo. Associado aos tiques vocais começaram a aparecer palavras obscenas (coprolalia) que ocorriam involuntariamente e fora de qualquer contexto, o que deixa os pais incrédulos e a paciente deprimida. Os tiques motores foram, ao longo do tempo, mudando de localização. Apresentou movimentos de nariz, caretas faciais e levantar dos ombros. Fungamentos e pigarros também estavam presentes.

O tratamento medicamentoso foi realizado durante três anos com relativo sucesso. Atualmente todos os medicamentos utilizados apresentam uma série de sintomas adversos tais como sedação, disforia, ganho de peso, vômitos, ânsias. Várias associações medicamentosas foram feitas sem sucesso. A cada troca de medicação os tiques aumentavam de intensidade ou apareciam outros. Segundo os pais e a paciente, os remédios não faziam mais efeito como também ela passava muito mal ao tomá-los (sic).

Como na maior parte do dia J. fica na escola e grande parte dos seus problemas vêm do convívio social iniciei meu trabalho encaminhando os pais de J. para a ASTOC - Associação Brasileira de Síndrome de Tourette e Tiques - que é uma associação voluntária e oferece palestras para pais, educadores e colegas de pessoas com ST.

J. já havia trocado de escola três vezes e ia trocar pela quarta vez. Com o trabalho envolvendo toda a escola, J se sentiu acolhida e pôde falar do seu problema livremente, até arrumando muitos aliados entre colegas.

Para os professores foi importante conhecer a doença, pois muitos atribuíam os tiques de J. à indisciplina e gozação, fazendo com que ela fosse expulsa da classe por diversas vezes. Para tranqüilidade e surpresa de J. seus colegas reagiram positivamente às explicações sobre a doença, pois muitos não entendiam as caretas e os movimentos de J. principalmente os tiques vocais. Assim a paciente pôde ser vista na escola sem discriminação por parte dos alunos e professores, como também ficou claro que atitudes superprotetoras era o que menos J. precisava. J. não apresentava outros distúrbios associados à ST. Seu nível de atenção é bom e até o momento não se tem observado comportamentos obsessivos compulsivos e não há a utilização por parte de J. em rituais. Não há distúrbio de aprendizagem.

Com a família mais estruturada iniciei o meu trabalho no consultório com J. Na hipnose Ericksoniana cada paciente é único e as sessões são planejadas antecipadamente. Para o terapeuta ericksoniano é importantíssimo conhecer o funcionamento cerebral, já que os hemisférios cerebrais realizam funções diferentes, interconectados pelo corpo caloso. Na hipnose nossas funções estão mais orientadas pelo cérebro direito que possui uma linguagem não-verbal; inclui sensações, imaginações e fantasias que são instrumentos que podem ser usados para a mudança do paciente. O cérebro direito, que é emocional e subjetivo, contrapõe-se ao cérebro esquerdo cuja função é lógica, objetiva e formal. No transe a gama da consciência é ampliada facilitando a complementação ente a percepção e a expressão.

O primeiro objetivo no tratamento de J. é que ela conseguisse tomar a medicação o que, talvez, fizesse com que a freqüência dos tiques abaixasse. Assim, usando o princípio da Utilização de Erickson comecei a “Semeadura”, visando estabelecer mudanças futuras, por meio de aprendizados de J. adquiridos durante toda a vida.

J. entrava em transe muito facilmente, pois havia um bom rapport e motivação para que o trabalho fosse realizado. Seu transe é de nível médio e acredito que é o transe que mais desenvolve a capacidade de abrir possibilidades para o inconsciente. Aqui J. participava de todo o processo, aparecendo todos os sinais físicos de uma constelação hipnótica. Durante a indução procurei usar a absorção, a ratificação e a eliciação.

Com este trabalho, a paciente começou a aceitar os medicamentos o que fez com que os tiques reduzissem na ordem de 60%. A paciente estava mais calma e interagindo com o meio de uma maneira diferente e seus pais também passaram a apreciar mais o trabalho feito com J.

Atualmente estamos com novas propostas no tratamento de J. É sabido que pacientes com ST deixam de ter os tiques quando menstruam pela primeira vez. Como a paciente está na fase pré–menstrual, estamos desenvolvendo todo um trabalho usando todos os recursos da hipnose naturalista, no sentido de que, talvez, o organismo dela elimine os tiques quando a menarca ocorrer. J. tem reagido muito bem a esta fase do tratamento e, atualmente, sua única preocupação é o de uma adolescente: quer namorar...
(parte 1)

Texto revisado por Cris

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