Sobre a Fome Emocional
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Autor Isabela Bisconcini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 20/01/2009 11:52:18
Vivemos num ambiente em que somos constantemente puxados para fora, atraídos por tudo o que nos cerca e somos muito pouco familiarizados conosco mesmos. Temos muito poucas referências na sociedade que apontam para o contato interno como meio, método, de compreensão e resolução das questões que nos assolam. Desta forma, não temos noção do nosso espaço interno e não compreendemos o que está se passando conosco, e tampouco de que ordem é a nossa necessidade: se interna, se física, e se pode ou não ser suprida no meio externo.
Embora muitas pessoas no nosso planeta sofram de fome real, física, podemos dizer que sofremos todos, de forma geral, de “falta” em algum nível e buscamos o preenchimento desta falta. Assim, comemos e criamos uma infinidade de objetos, desde instrumentos, artefatos, ferramentas, até arte, cultura, instituições e etc...e estamos cada vez mais aprimorados e específicos na busca externa de necessidades que são de outra ordem.
A questão que se coloca é que estamos internamente pobres e famintos... e buscando preencher fora o que é de outra natureza, de ordem sutil, e se preenche por dentro.
Aprendemos a buscar referências de quem somos, buscando saber-nos, desde pequenos, através dos espelhos em que nos vemos refletidos, das imagens que nos dão os outros de nós mesmos. Na primeira infância, esta imagem nos era dada por nossos pais, que criaram as fundações de masculino e feminino internos que carregamos dentro de nós até hoje. De fato, ao pensarmos em falta, em fome emocional, devemos pensar inequivocamente em nutrição emocional. Nutrição emocional é o que nos dá uma sensação de conforto, calor, preenchimento e acolhimento internos. Uma sensação de termos um espaço interno preenchido e ocupado. Quando éramos crianças esta sensação (ou possibilidade) foi-nos transmitida por nossa mãe, com todas as qualidades, mas também com as imperfeições e falhas que ela como humana tinha, e todas as deficiências que também ela herdou. Buscamos, de certa forma, o tempo todo, esta sensação de “preenchimento da falta” por meio de ver-nos espelhados em imagens que nos reflitam belos, bons, ricos.
Queremos a sensação do chocolate, mas não sabemos como gerá-lo internamente, de forma que possamos nos nutrir dele. Mesmo quando conseguimos o tão desejado “chocolate”, que pode ser um relacionamento a dois, não sabemos desfrutá-lo por medo de o perdermos, e antecipando a falta, criamos mais sofrimentos para nós mesmos. Sabemos disso, mas não conseguimos alterar esta situação em nós.
Pessoas que não têm a mínima noção de seu espaço interno não sabem nem mesmo de onde vem a sua falta, e assim não sabem o que de fato pode alimentá-las. Faminta emocionalmente, a pessoa faz escolhas erradas. Nutrição em ultima instância, diz respeito a que partes de mim mesmo eu dou atenção, ou seja, cuido e alimento. Nutrição emocional diz respeito a saber gerar o seu “chocolate interno”: gerar em si a sua alegria, o que te aquece por dentro e saber fazer-se companhia, saber dar a si mesmo o bom, o que nutre sua alma, sua essência e te faz ver a vida como uma possibilidade de crescimento e desenvolvimento; com alegria pelo processo.
Numa sociedade que passa o tempo todo pensando em acumular, reter, possuir e dominar, a sensação sutil de preenchimento do seu espaço interno com o seu calor interno e busca do sutil confunde-se e é vivida unicamente no nível mais primitivo: buscando saciar compulsivamente instintos básicos.
A sensação de nutrição interna pode-se aprender por meio de se reconhecer tudo o que se tem no mundo interno. Quantos romances ao acabar levam as pessoas a uma sensação de “barranco interno”, de buraco negro, de lugares internos inabitados, escuros e sombrios. Estes locais não são ocos, nem vazios. Eles precisam ser vistos. Há uma infinidade de sensações e sentimentos que precisam de luz. Mas esperamos que a luz nos seja dada pelo parceiro, pelo outro, pelo que vem de fora. No fundo, sabemos que isso não nos sustenta, pois se assim fosse, não precisaríamos preencher-nos com mais e mais alimentos artificiais: mais estratégias, subterfúgios e desculpas internas.
Preenchemos nossa fome interna por calor, aceitação, acolhimento, pela sensação de não sermos vazios, de não sermos NADA, com todas as ações que fazemos quando motivados por uma sensação de não sermos bons o bastante, e/ou para tamparmos o nosso buraco interno de desvalor, de não sabermos no fundo quem somos. E isso não fazemos só quando comemos doces, mas também quando compramos algo por precisarmos de 1 minuto da atenção de alguém, ou quando fazemos qualquer coisa, a qualquer custo, para estar com alguém e não ficar sós, por exemplo. Tornamo-nos co-dependentes e compulsivos quando paramos de nutrir a nós mesmos e passamos a ocupar-nos da vida do outro esperando, em seguida, que ele se ocupe necessariamente de nós. Não é egoísmo alimentar a si mesmo com o que te dá um sentido, o que tem um significado para você e que envolve o seu ser mais profundo, seu coração e sua alma.
Confundimos “saber dar-nos internamente o que precisamos” com egoísmo e assim, continuamos a buscar fora de nós a referência de que precisamos. Fisicamente, as pessoas cada vez mais se nutrem de alimentos que de tão artificiais perderam a sua capacidade de nutrir. Este é um real exemplo da situação que vivemos. Assim, ficamos mais e mais famintos. Famintos de essência, famintos de sentido, e significado. Perdemos o coração. Passa a imperar a disfunção. A voracidade vem como sintoma de uma busca desesperada pela essência, deslocada para o objeto errado, numa busca de sentir infimamente um prazer, de gratificar-se a qualquer preço.
Precisamos dar um passo em direção ao mundo interno, em direção ao que em nós parece escuro, vazio e desabitado. Precisamos agüentar o que parece vazio, para descobrir o que há ali.
Todos nós somos famintos, mas precisamos amadurecer e crescer emocionalmente, deixar que nossos recursos internos, uma vez amadurecidos, façam por nós. Ou então, continuaremos emocionalmente como bebês famintos, à espera de que alguém de fora nos alimente, sem sermos capazes de fazermos nada por nós. Ficaremos a mercê do nosso próprio abandono.
Precisamos aprender a fazer algo por nós mesmos, responsabilizando-nos pelo nosso crescimento, e dar-nos como mães de nós mesmos o que realmente nos preencherá de sentido, significado e amor e que não terá ido embora quando o chocolate do mundo externo acabar. O outro pode somente nos deixar, mas quem nos abandona, somos sempre nós mesmos.
Este artigo foi escrito para uma revista sobre o tema "alimentação e seus distúrbios" no inverno de 2004.
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Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |