Sobre giestas e bolos de laranja...
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Autor Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/12/2017 6:29:42 PM
Pelos caminhos e estradas da Provence, primavera no continente europeu, o amarelo predomina a paisagem. É que, nesta época do ano, se espalham pela região inúmeros pés de giestas. Trata-se de um arbusto quase sem folhas, utilizado, depois de seco, sobretudo em Portugal, para a fabricação de vassouras e cujas flores, amarelas e muito delicadas e cheirosas, se esparramam, jorrando de suas extremidades, exalando um perfume inebriante, no mês de maio, no sul da França, chegando até o Languedoc. Primeiro, ao avistá-las pelas janelas do micro-ônibus que nos conduzia - oito mulheres e eu - pela rota sagrada de Maria Madalena - fui atraída pela cor viva e alegre das flores, aquele amarelo intenso se destacando no meio dos infinitos tons de verde. Na sequência e após compreender que aquelas lindas florinhas amarelas poderiam ser giestas, meu coração bateu mais forte e tive um sobressalto. Reminiscências de um tempo muito feliz tomaram conta de mim, evocando sentimentos de amor, ternura e acolhimento... A saudade e a nostalgia foram intensificadas quando, já do lado de fora e caminhando pelo acostamento da estrada que ligava nosso hotel ao centro da pequena vila de Saintes-Maries-de-La-Mer, pude tocá-las e cheirá-las, confirmando a minha suspeita de que eram mesmo giestas. Fiquei em êxtase com seu cheiro adocicado, muito semelhante ao do jasmim. Sem parcimônia, vários pés de giestas estavam espalhados ao longo da pequena estrada vicinal, todos nativos, de tamanhos variados, nascidos naquelas terras de solo e clima favoráveis, entorno da estrada, nas margens dos pequenos rios, nos portões dos hotéis fazenda e dos haras que se instalaram próximos do centro da cidade das Santas Marias do Mar, local onde teve início a história do cristianismo no mundo ocidental e cuja igreja fortaleza abriga as relíquias de Santa Sara, Padroeira do Povo Cigano, festejada em 24 de maio! Enfio meu rosto - sem refletir e intuitivamente - no meio de um grande arbusto, repleto de flores para todas as direções e agradeço, em voz alta, a seu Elemental. Sinto o perfume e a maciez das pequenas pétalas, repetindo, eufórica, para minhas companheiras, perplexas: "É giesta! É giesta! Vocês não estão reconhecendo?". À semelhança do famoso pó de pirlimpimpim, de Monteiro Lobato, sou transportada, ao inalar o perfume, para um tempo que se perdeu no tempo, tão antigo e que estava esquecido no âmago do meu ser. Vejo, então, minha mãe tão jovem e bonita, na cozinha de nossa casa em Belo Horizonte, no bairro da Serra. O rádio está ligado e ela prepara um bolo na batedeira, enquanto cantarola, feliz, a música francesa cujo refrão diz "Dominique nique nique, sen allait tout simplement routier pauvre et chantant..." e que tocava na antiga Rádio Atalaia. Minha irmã e eu brincamos no quintal com os primos e vizinhos. Tem inúmeras plantas no jardim e no quintal. São pés de jabuticaba, caju, ameixa, limão capeta... estes últimos, quando maduros, enchíamos os balaios comprados no Mercado Central e saíamos, a meninada, a vender pelas ruas do pacato bairro, batendo de porta em porta e descrevendo para os potenciais compradores as suas qualidades! Há, ainda, vários pés de antúrios, lírios de São José e giestas, cheios das flores amarelas e de casulos de bicho da seda. Tudo é "absurdamente" tranquilo, sereno e harmônico. A mãe prepara o bolo para o lanche da tarde, com direito a café com leite e pão de sal com açúcar e manteiga, além, é claro, do bolo de laranja. As crianças brincam ao ar livre e vivem seus sonhos e fantasias. Os cachorros cochilam, espreitando os movimentos de minha mãe; as frutas amadurem nos pés, à espera da hora de serem colhidas e os passarinhos - um tempo em que existiam muitos pardais na cidade - cantam e voam despreocupadamente. As giestas florescem e fazem a magia, espalhando seu perfume doce pela casa da infância das duas meninas. O bolo é assado e, depois de frio, cuidadosamente retirado da forma redonda, se transformando numa grande lua cheia. Minha mãe, sempre cantando e em paz com sua escolha de não ter seguido a carreira de professora para ser a Rainha do Lar, prepara, agora, uma calda para o bolo, utilizando apenas suco de laranja e muito açúcar. Ela vai batendo os ingredientes sem levá-los ao fogo, até que a calda fique toda esbranquiçada, momento em que é, finalmente, despejada sobre o bolo. O milagre acontece e a cobertura vai endurecendo, formando uma crosta muito branca, parecendo gelo, lisa e dura. Ela explica, orgulhosa, que o nome daquela alquimia é ponto de espelho. E então, seja para tornar mais bonito o encanto, seja porque minha mãe sempre teve propensão para o belo, ela me pega pelas mãos, vamos até o jardim, paramos em frente a um dos pés de giestas e, com a tesoura certeira, após pedir, internamente, permissão, ela corta um pequeno galho, o mais bonito, repleto de flores e o coloca delicadamente sobre o bolo. Fica tudo muito lindo, o contraste do gelo branco com as flores amarelas e a mistura de seu cheiro doce com o cítrico da laranja. Sou trazida de volta ao tempo presente, mulher madura, na "meia idade", rodeada por amigas queridas na manhã ensolarada da primavera europeia , numa pequena estrada no sul da França. Com o rosto e parte do corpo mergulhados num arbusto de giestas, feliz, plena, inteira e em paz, reverencio aquela jovem mãe que, agora, vive presa no corpo físico, vítima do Mal de Alzheimer, no distante Brasil, no mesmo bairro da Serra, não mais naquela casa repleta de giestas, mas num apartamento com vista para a Serra do Curral, sem nuca ter podido ir à França, embora cantasse canções em francês e que me fez conhecer o amor na sua mais profunda acepção. Ah, e que me despertou o gosto pelas giestas, do latim genista ou genesta, aquela que gera...
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Autora do livro Oráculo das Matryoshkas Oficina "Matryoshka: ancestralidade e intuição na viagem de volta para casa" Círculos Sagrados de Mulheres "Encontros com Madalena" Oficina "Cinderela e o feminino sagrado" Palestras: "Matryoshka:mistério do feminino", "Alinhando a energia rumo ao sucesso", "Espiritualidade e Justiça E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |