Solidão e liberdade
Atualizado dia 12/20/2006 3:21:26 PM em Autoconhecimentopor Sandra Rodrigues Garcia
E para quem está nessas condições não há solução possível, tudo parece inadequado e especialmente perigoso. Elas se sentem totalmente solitárias no transporte diário de um mundo de emoções contraditórias, afetos dúbios, desejos que surgem muitas vezes do nada, ameaçando o equilíbrio de um projeto de vida ‘destinado a dar certo’.
A solidão nem sempre é um estado perverso, mas no caso de alguém que se sente atolado sob o peso desse fardo ‘demasiadamente humano’, viver se torna um desafio a cada dia muito mais próximo da luta insana pela sobrevivência. Esse peso todo pode ser contabilizado de maneira quase inevitável: cada um carrega em sua bagagem existencial aquilo que lhe parece indispensável, que é sua marca na vida, seu destino, enfim, que identifica e consagra o sentido que confere à sua vida.
Com o tempo, porém, muita coisa vai se tornando obsoleta, o amor romântico para sempre pode acabar um dia, sim, a carreira planejada para conduzir ao sucesso pode até atingir esse ponto, sem conferir o louros da bem-aventurança, ou seja, na vida nem sempre é possível combinar antes o que virá depois. O caminho se constrói a cada passo. E muitas vezes a pessoa precisa jogar fora idéias que não servem mais, afetos que minguaram, emoções pesadas como o chumbo e capazes de jogar a melhor parte de cada um num abismo de frustração e desamparo, companheiros dessa solidão nefasta.
E sob o peso desse mundo, qualquer pessoa pode se confundir e ficar à mercê de exigências paralisantes, mas os passos de quem mantém o coração livre não vão se deter. É como ser livre sem pôr em risco a segurança de um casamento, de um emprego, de uma educação que resguarde os filhos de se perderem num mundo contraditório e rico demais em possibilidades? Não há receitas para isso.
A liberdade, claro, precisa ser responsável, não se trata de viver por viver, sem objetivos ou projetos viáveis. A liberdade dá sustentação justamente à busca de uma realização maior, profunda, significativa, que traga em seu bojo a leveza de uma bagagem justa, sem excessos de qualquer tipo, seja por amar demais, seja por pensar demais, seja por temer demais. Acredito que o sofrimento decorrente do tipo de escolha ‘certa’ infringe a uma pessoa o destino inglório de carregar inutilidades nas costas por ‘toda a eternidade’, como Atlas, cerceando sua mobilidade, afundando seu ser dentro de um mundo pequeno, conhecido, igual, sem se permitir aventuras de qualquer tipo.
É bom abrir portas e janelas para ‘observar estrelas’ e tudo o mais que os olhares podem ver, amar, sim, e manter encontros significativos com pessoas inquietas o bastante para despertar inquietações produtivas em outras, enfim, inquietar-se delicadamente sem acumular tensões desnecessárias. A bagagem precisa ficar leve para que a alma dance como faz Shiva incorporando o lado benigno Nataraja. Experimente isso. E dance em harmonia com a solidão de seu Monte Kailasa. Tudo isso em seu melhor aspecto: na liberdade que sua alma pode conter.
Sandra
tel.: 3661-5785
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