Soltar

Temos enormes dificuldades em mudar esse padrão, preferimos nos ajustar em zonas de conforto do que empreender novas experiências. A simples ideia de soltar está relacionada à perda, mas, se nada é nosso, o que de fato perdemos? O sofrimento se dissolve quando soltamos, quando nos desapegamos, quando renunciamos, enfim, quando aceitamos a mudança e perdemos o interesse pelo impermanente. Tudo aquilo que perdemos nos liberta, em contrapartida, tudo aquilo que conquistamos nos escraviza. É preciso soltar e permitir que o próprio ser flutue nos movimentos da existência sem amarras indesejáveis com nada. 

O buscador da realidade espiritual sonha com a realização, quer vencer o mundo, mas não consegue desgarrar-se dele. Ainda não entendeu que é impossível servir a Deus e a Mamon, para alcançar um será necessário soltar o outro. Como transcender esse mundo se ele tem tanto valor para mim, como posso sonhar com A se continuo agarrado ao B?

Um estranho paradoxo ocorre quando o homem tenta, ao mesmo tempo, vencer o ego e realizá-lo. O ego quer realizar-se conquistando e ajuntando coisas, expandindo fronteiras, ganhando poder e importância e busca uma constante inflação, no entanto, para vencê-lo temos que praticar o oposto disso.

Estamos aqui para fazer uma travessia, temos um oceano à nossa frente, podemos escolher viver como um barco sobre as águas, deslizando pela experiência da vida, ou deixar-nos envolver pelos encantos do oceano e permitir que suas águas nos afundem.