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Sonhar é Preciso

Atualizado dia 9/26/2006 3:04:33 PM em Autoconhecimento
por Fátima Cristina Vieira Perurena


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Pedro Demo, em um de seus livros, chama a atenção para o fato de que o objeto maior das ciências sociais é explicar as desigualdades sociais. Concordando-se ou não com a afirmação tão determinante do autor, não há como negar que estas estão na pauta das preocupações intelectuais e científicas desta área. Por outro lado, seguindo ainda uma linha crítica, Marx, cujo objetivo maior foi explicar o modo de produção capitalista e suas desigualdades, já dizia que não basta explicar – é preciso transformar. Muito papel já foi gasto tentando achar as possíveis brechas para transformar relações sociais desiguais, em alguns casos bem mais que outros, como é o caso do Brasil.

Aqui se está preocupado com desigualdades de gênero, ou seja, as relações estabelecidas entre homens e mulheres e que são fruto de normas e costumes sociais. A pergunta que cabe ser feita é a seguinte: de onde partir para transformar relações estabelecidas há milênios? Tanto quanto se saiba jamais houve algum tipo de sociedade matriarcal na mesma forma em que conhecemos o patriarcado. Esta instituição está de tal forma arraigada em nossa sociedade (indiferente aqui se estamos nos referindo a ocidental ou oriental, embora nesta última a situação seja bem mais grave) que as pessoas em geral aceitam-na quase como se fizesse parte de seu próprio corpo físico. Mesmo intelectuais esclarecidos, a partir deste dado, acabam por entender que as desigualdades são fruto das diferenças entre uns e outros. Desta forma poderia se pensar que é praticamente impossível querer mexer com estruturas tão internalizadas comunitária e societariamente. Mas não é bem assim.

Está em gestação, nesta universidade, um projeto de extensão visando diminuir, ainda que minimamente, pelo menos em Santa Maria, as desigualdades referidas acima. GÊNERO E CIDADANIA pretende, num primeiro momento, criar uma assessoria de atendimento às vítimas de violência doméstica. Alunos dos cursos de ciências sociais, direito e psicologia estão envolvidos nesta empreitada. Começando pela extensão, ou pela intervenção, como queiram, pretende-se formar um banco de dados que poderá ser utilizado pela comunidade acadêmica, incrementando, assim, uma área de pesquisa em nossa universidade para, finalmente, concluir com um projeto de ensino.

Relações de gênero que são ambíguas e onipresentes, devem ser ensinadas desde o ensino fundamental. Com os dados recolhidos da experiência com a intervenção se objetiva montar cadernos didáticos que poderão ser trabalhados pela rede pública de ensino municipal e estadual. Tem-se completa certeza de que se está apenas colocando uma gota em um oceano, mas é sempre importante começar e ter clareza que sonhar é preciso.

Texto revisado por Cris

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