Também desejei os teus bons dias...



Autor Claudette Grazziotin
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 02/06/2005 20:03:24
Houve um tempo, houve um longo tempo
sim, nem tão distante assim,
em que eu espargindo
aos quatro ventos, oferecia, oferecia
e oferecia a ti, sabes bem o quanto,
um amor tão grande e puro, com tal paixão e tanto
que faria enrubescer um anjo,
desmaiar uma madona, perverter um santo.
Insensível, tu o desdenhavas
inebriando-se em corpos e abraços
que te enredavam com frescor e encanto.
Estranho prazer e como te excitava,
saber-me de amor, em ti aprisionada,
sem ser, por ti, amada,
enquanto mais
e mais na voluptuosa sofreguidão
de atraentes, efêmeras carícias
tu te envolvias e
sentimentos verdadeiros rejeitavas
na ilusão de que no delírio da paixão
a força eterna conquistavas.
E, mesmo assim eu tanto te queria!
E desejava também, teu corpo, teu calor,
teus afagos, teus beijos, os teus bons dias!
Do meu tormento e minha dor, uma elegia
nascia a cada desencanto;
unicamente por amor a mim,
tive coragem de partir, enfim;
diluindo-me fui, pouco a pouco,
em palavras, solidão e poesia.
E, tanto, eu te queria!
Também, os teus bons dias.
O que me trazes hoje, quando me chegas
e me tomas de espanto?
Tuas dores, teu fel,
o desprezo daquelas que voaram
buscando o prazer que acenou
na sedução de outro canto?
Tua alma ferida? Teu corpo vencido,
em orgias consumido?
Teu sonho apagado, a esperança de ver
meu amor intocado?
E, eu que te amava tanto, hoje, muito mais me amo.
E bem que tento acordar o antigo tempo
que dorme um profundo sono e
não ouve quando daqui, na tua presença, o chamo.
E, eu tanto te queria! Também, os teus bons dias.
Mas, eram outras, as deusas, que elegias!
Como acreditar agora, que me amas, que sou
aquela que te inspira, te eleva a alma,
dá um norte à tua vida?
Eu te queria tanto e me sonhei contigo,
percorrendo um caminho só de ida!
Também desejei os teus bons dias, e,
dentre tantas, do teu coração, ser
tão somente eu, a eleita, não fui aceita.
E, despendi tanta energia em vão, e quanta
até ousar minha partida!
Aos porcos, quantas pérolas minhas
vejo que joguei, arrependida;
meu amor violentei sem peso, nem medida.
Como acreditar, nessa hora imprópria
em que me chegas,
que me trazes amor e saudade
e não me atraiçoas num golpe feroz,
saltando sobre minha vida
desejando-me mais uma vez, refém de tuas presas?
Onde está aquela que tanto te queria?
E também os teus bons dias?
Perdendo-se frágil, no teu caminho,
reconcebeu-se forte na poesia.
Segue sua estrada olhando à frente
ao encontro de sua radiante aurora.
Cansou-se de se esquecer de si,
de não se amar, como fazia outrora.
Cansou-se da ilusão de travestir-te de chegada,
sabendo-te sempre partida.
Cansou-se de mentiras, de falsas promessas;
desenganos, traições, tristezas inconfessas.
Cansou-se de lágrimas silentes, cansou-se
de melancólicos poentes...
E, tu, de amor tão grande e puro ,
sabes bem com que paixão te entreguei e quanto!
O presente recusaste e morri cem mil vezes,
antes de secar meu pranto.
Até que, como por encanto,
alguém se aproximou, vindo do nada,
sentou-se junto a mim,
e um olhar sensível trespassando
penetrou minha alma reverente,
expus minhas feridas corajosamente,
tocou-as uma a uma, amorosamente,
vergonha não senti ao ver-me nua
e verdadeira à sua frente;
curou-me, seu gesto tão maduro, tão seguro!
Eu te queria e te amava tanto...
Tu sabes bem, o quanto.
Agora, eu já, não sei
se ainda existe em mim,
aquela que tanto te queria!
E, também, os teus bons dias.
Texto revisado por Cris
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