Tao Te Ching - tradução e comentários do capítulo 1




Autor Marco Moura
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/3/2017 9:28:43 AM
DAO DE JING
Autor: Lao Zi | Tradução e comentários: Marco D. Moura
Capítulo 1
O Caminho concebido como caminho
não é o Caminho sustentável.
O nome que pode ser nomeado
não é o nome sustentável.
Inominável é o princípio do Céu e da Terra.
Nomeável é a mãe de tudo o que existe.
Ao seguir livre de desejos,
é possível conceber a sua magnitude.
Ao seguir dominado pelo desejo,
só é possível conceber a sua superfície.
Ambos surgem em conformidade,
embora venham a diferir quando expressos.
Manifestados igualmente pelo mistério.
Profundo mistério,
portal das múltiplas maravilhas.
Comentários de Marco Moura
Palavras são ferramentas - meios para indicar algo, não o algo em si. Nomes são setas e nada mais, porém, o homem incauto se apega à aparência das coisas acreditando que está em contato com a coisa em si. Não sabe ele que a mente é que traduz as palavras e imagens recebidas através dos órgãos dos sentidos atribuindo-lhes um significado. Enquanto supõe que as coisas externas tenham características inerentes, em verdade, é a sua mente que projeta esses termos classificatórios no alvo externo.
Lao Zi utiliza o termo "Dào" para se referir àquilo que está além de qualquer definição: a essência incognoscível. Sua tradução literal é "caminho" - apenas um termo convencional que indica uma qualidade infinita que transcende o entendimento intelectual. Aquilo que se pode conceber como Caminho não é o caminho em si, adverte Lao Zi. Quando você pensa a respeito do Caminho, você o perde. O Caminho não tem forma. Você pode vivenciá-lo, porém, não pode apreendê-lo por meio do conhecimento.
O Dào inominável não tem forma, é puro potencial. Por outro lado, aquilo que se desenvolve a partir desse potencial, ou seja, que é a expressão do inominável, possui forma e nome. O nominável dá origem a tudo o que pode ser percebido pela experiência sensorial. Podemos ver, ouvir, degustar, cheirar, tocar; então, isso ganha forma em nossas mentes. E tudo o que tem forma é passível de se tornar um objeto de desejo. Quando passamos a desejar algo, a mente se torna dependente, confusa, presa ao aspecto superficial. Quando não nutrimos o desejo, podemos ter a experiência pura da coisa em si, pois não ficamos apenas no nível da aparência, e sim, entramos em contato com a essência vital dos fenômenos.
O inominável e o nomeável não são essencialmente diferentes. São aspectos da mesma realidade, como os dois lados de uma moeda. Um dos lados pode ser tocado, o outro, não. O aspecto da forma pode ser alvo do nosso conhecimento sensorial e dos nossos desejos, porém, se assim fizermos, perderemos a oportunidade de tocar a sua contraparte verdadeira sem forma. Podemos optar pela integralidade ou pela parcialidade; pelo não-desejo ou pelo desejo; pela essência ou pela ilusão. Aquilo que une o inominável ao nominável é um mistério demasiado profundo para os nossos sentidos e para a nossa mente. Trata-se aqui do domínio espiritual, onde tudo está interconectado.
Texto revisado









Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista. E-mail: marcomoura@dao.com.br | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |