TEXTUANDO A CENA...
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Autor Hellen Katiuscia de Sá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/10/2006 12:00:43 AM
Como a maioria das invenções humanas, o fazer teatral também sofreu modificações através dos séculos, tanto na parte material quanto na produção textual. Por isso, muitos professores, dramaturgos, poetas e estudiosos vêm questionando o lugar do texto na cena contemporânea, visto que a produção material dos espetáculos, aparentemente, sufoca a linguagem verbal, substituindo-a em demasia por imagens e gestos.
Houve uma divisão entre texto e encenação, prejudicando a materialização da idéia textual no palco, como diz o professor de dramaturgia da UFRJ, Lauro Góes. Ele sugere que dramaturgos, diretores e atores trabalhem juntos visando a harmonia entre imagens, gestos e texto na construção teatral. Teoria também defendida por outro professor de dramaturgia, Paulo Vieira, da UFPE.
Mas na opinião da artesã e teórica Ana Maria Amaral, existe teatro também a partir de uma linguagem não-verbal. Ela explica em muitos de seus livros publicados, que a manipulação de objetos inanimados (bonecos) para dramatizar uma idéia também se constitui linguagem; sem textos prévios, porém, linguagem apoiada em gestos e imagens.
Um outro ponto a ser lançado é a questão da fragmentação exagerada dentro do fazer teatral, onde a especialização em demasia desmembra os componentes dentro do universo teatral. A especialização substituiu o conhecimento amplo das diversas formas de texto. A professora da ECA/USP, Dilma de Mello incentiva seus alunos a conhecerem a fundo todo tipo de texto teatral, bem como tudo que envolve o processo de criação e montagens de espetáculos, com ênfase na produção de texto.
No entanto, a professora e doutora em dramaturgia da UFBA, Sr.ª Catarina Sant’Anna observa que o texto para teatro é um texto “grávido”, o qual tem sentido pleno, apenas após sua montagem e encenação. Desse modo, o texto torna-se algo presente na conjuntura atual do teatro contemporâneo. Algo subjetivo, ao mesmo tempo verbal e não-verbal.
Em minha modesta opinião, o texto para teatro transcende a própria palavra escrita pelo dramaturgo. O texto faz parte tanto do expectador quanto do ator, mesmo que em breves instantes, acredito eu. E é justamente nesse breve período de tempo que ocorre a junção de linguagem verbal, imagens (cenário) e gestos, desembocando no nascimento do espetáculo cênico, que só funciona em trabalho conjunto de toda uma engrenagem teatral afinadíssima.
Hellen Katiuscia de Sá.
24 de janeiro de 2006.
*Fonte: “QUAL O LUGAR DO TEXTO NA CENA CONTEMPORÂNEA?”, março de 1999, Sant’Anna, Catarina (Pós-doutora em Dramaturgia e professora da Escola de Teatro da UFBA).
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 2
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