TUDO BEM SER DIFERENTE
Autor Valéria Elias Araújo Bichara
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 7/5/2009 8:12:51 PM
O patinho feio, história infantil publicada pela primeira vez em 1845, é uma dentre tantas outras conhecidas de Hans Andersen. Conta a saga de um filho rejeitado por sua aparência incomum que foge para um exílio voluntário. Vagando sozinho, inúmeras vezes é perseguido e desqualificado - até que cansado e quase se rendendo a condição de inadequado, feio e desajeitado ele vê o reflexo de sua própria imagem na água. Quase sem acreditar, ele se reconhece como um daqueles que agora o cercava e que ele tanto admirava, um magnífico cisne. Sua verdadeira família. A analista junguiana Clarissa Pinkola Estés, doutora em estudos multiculturais e psicologia clínica, autora de “AS MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS”, explica que “O patinho feio” foi uma das poucas histórias a incentivar sucessivas gerações de “gente diferente” a agüentar até encontrar sua turma. Vivemos em um tempo tido como de muita liberdade, mas como alerta Gabriel “O pensador”, liberdade relativa não é liberdade. O arquétipo do ser incomum, que habita cada um de nós, costuma ser muito mal recebido, numa cultura pouco tolerante a tudo que foge ao padrão habitual. A cultura exige uma reprodução automática de seu conjunto de valores e não perdoa nada que possa abalar suas estruturas. Definindo claramente o que consiste sucesso e perfeição sob qualquer aspecto – na aparência, na altura, na forma física, no poder aquisitivo, na masculinidade, na feminilidade, no bom filho, no bom comportamento, na crença religiosa. Esses padrões permanecem ancorados dentro de cada um de seus membros, validando crenças que antes de se tornarem culturais são pessoais – eternizando as mesmas exigências gerações após gerações. O indivíduo é moldado e cerceado em seus potenciais criativos, se afastando daquilo que seria o seu talento natural – música, arte ou qualquer outra profissão que não se baseie nas expectativas familiares e culturais. O resultado são pessoas deslocadas, infelizes, incompletas. O patinho da história representa a nossa natureza selvagem que luta bravamente para sobreviver, às vezes acertivamente e em outras nem tanto. O mundo precisa da expressão máxima do potencial criativo para a vida de cada um de seus habitantes. Cada pessoa tem o seu jeito de ser e de se realizar – talento. Duas pessoas que trabalham na mesma profissão, com a mesma formação, especializados numa mesma área, terão maneiras diferentes de atuar, porque cada um guarda em si uma identidade que é única e para cada manifestação singular existirá sempre um público específico. Um encontro com quem realmente somos, queremos e sonhamos nos permite descobrir e aproximar do grupo ao qual pertencemos, pessoas afins, que vibram numa mesma freqüência, comprometidas com os mesmos ideais. Quando esta vibração específica – chamada identidade que é instintiva e também espiritual - é cercada de aceitação e reconhecimento, percebemos a vida e a força como nunca sentimos antes. Descobrir nossa verdadeira família psíquica proporciona a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo. Conseguimos com isto afetar o mundo a nossa volta, influenciando a consciência cultural a se expandir e a permitir uma expressão mais genuína da vida.
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