UM DIÁLOGO SOBRE O AMOR
Atualizado dia 20/04/2006 13:25:09 em Autoconhecimentopor Paulo Valzacchi
Atualmente separada (já há dois anos), com o passar deste período de sombras não se desligava dos acontecimentos e a dor, o vazio e a tristeza tomavam conta de sua alma.
Percebi que, não somente sua mente estava agitada e em desequilíbrio, mas o seu corpo agora sentia as mensagens da dor emocional: tinha dores de cabeça freqüentes, intestino preso, dores nas costas, insônia e agitação diárias, inclusive com taquicardia, um dos sintomas da ansiedade. O espírito também reclamava: toda a fé se escoava e certamente para ela Deus estava distante; ela dizia que Deus a abandonara.
Começamos por trabalhar a auto-estima, aos poucos, enfocando a importância do corpo, regularizando a alimentação, o sono, a digestão, incluindo exercícios de respiração.
Junto a isto fizemos uma faxina mental, tentando, a todo custo, libertar o lixo que ela mesma colocou para dentro de casa, dentro de sua mente. Estreitamos os laços de fé e ligação com o criador em busca de forças para seguir adiante. Numa de nossas conversas pudemos mudar conceitos e validar novos sentimentos e valores. Perguntei sobre o que sentia a respeito do ex-marido e ela disse que o amava ainda; perguntei se este sentimento ainda perdurava mesmo depois de tudo o que ele fez para ela, e que ela colocasse em reflexão as outras situações anteriores, e mesmo assim ela disse que o amava.
Parecia um ponto incontestável. Perguntei, então, o que ela queria fazer; e ela disse que, além de amor, sentia muita raiva dele, que queria que ele aprendesse uma dura lição. Foi então que percebi que amor e raiva são coisas que não se encaixavam. Ela disse que queria que ele fosse do jeito dela. Percebi que amor e egoísmo também não se encaixavam. Perguntei se ela tinha respeito por si, e ela me disse que sim, mas afirmou que mesmo depois de tudo o que ele fizera para ela, tentaria mais uma vez e talvez mais outra. Percebi que amor e auto-respeito deveriam andar juntos, mas isso não ocorria. No final expliquei que o amor deve começar por nós mesmos, que devemos aceitar aquilo que faz bem a nós mesmos; devemos aceitar a felicidade, coisas que nos elevam; e perguntei se ela poderia dar tudo isso a si mesma. Ela disse que sim e fiz a mesma colocação, mas agora em relação ao ex-marido: será que ele poderia dar tudo isso a ela? Ela parou, refletiu, uma lágrima escorreu de seus olhos e, suavemente, uma palavra em tom baixo saiu de sua boca: "Não!" Um simples não; justo, certo e verdadeiro. Ele não poderia dar isso a ela, pois, na verdade, se ela mesma não conseguia dar nada a si mesma, como ele poderia dar algo assim?
Você pode me perguntar: e como você soube que ela não conseguia e nunca conseguiu dar nada a si mesma? Pelo simples fato de sempre ter colocado no outro a responsabilidade de fazê-la feliz; de sempre ter olhado para o outro, nunca para si; de sempre ter colocado muitas e muitas pessoas em primeiro lugar, e por último si mesma; por ter perdido o auto-respeito, o respeito às coisas que amava, por sempre renunciar à própria vida, aos seus desejos em prol dos outros, sempre criando a imagem de forte ou certinha, tentando, por assim dizer, dominar a situação.
Estávamos em uma situação delicada. Aquele simples "não" acabara de remetê-la a um mundo novo, talvez frio, mas real, onde ela precisaria renascer, mudar e começar a viver. Ela tinha entendido que estava distante de si mesma, que sempre se abandonara, e que o outro não poderia fazê-la feliz; ela precisaria fazer este esforço por si só, ela com ela mesma. Percebeu que não era amor o que sentia, mas uma armadilha da decepção e da frustração; que seria mais fácil apagar, naquele momento, o passado e recomeçar; mas o passado poderia assustá-la a vida toda.
É claro que quando estamos nos relacionando não entregamos a função de nos fazer felizes à outra pessoa, mas juntos, dividimos esta cumplicidade de uma maneira ponderada. Muitas pessoas dizem que quem vai me fazer feliz serei somente eu, mas, cá para nós, sabemos que isso não é uma verdade maior. O relacionamento é um processo de simbiose. Quando renunciamos a certas coisas é para doar felicidade, mas quando renunciamos sempre, obviamente estamos atraindo a infelicidade para todo o relacionamento.
Após algumas semanas aquela jovem estava com outro semblante. Não que a mudança tenha sido radical, mas ela começara a entender que o palco das ilusões iria somente atrair mais e mais dor. Fazia parte de meus planos tentar fazê-la entender sobre a necessidade do perdão. Não do esquecimento, pois afinal isso é impossível, mas perdoar é entender e seguir adiante; esquecer é como se fosse fazer uma lobotomia, e isso não seria possível. Perdoar, como dizem, é lembrar-se do ocorrido, mas dar um outro significado a ele, é claro, através da compreensão.
Mas para realizar o perdão não demorou tanto como eu imaginava; agora ela, fortalecida em auto-estima, compreensão e amor, começou a se relacionar com outra pessoa; a alegria e as novas sensações invadiram seu ser e deram lugar à expansão do amor. Logo o entendimento de que o relacionamento anterior era passado se concretizou, pois percebeu que esse novo relacionamento estava repleto de novas possibilidades, coisas concretas e um novo renascer. Muitas outras vezes pudemos falar sobre amor, perdão, motivação e vida. Ela definitivamente cresceu e eu estava lá como testemunha.
Num dia desses, numa dessas incursões a um shopping, pude ver aquela jovem com seu parceiro, feliz e sorridente, carregando no colo uma bela criança, com um sorriso saudável, símbolo de um renascimento constante em nossas vidas; símbolo de que tudo muda, tudo se encaixa quando temos o poder de encarar as situações de uma maneira madura; assim é a vida humana.
Por isso quando você estiver naquela situação de desespero, a coisa mais importante a ponderar é sobre o seu auto-amor, o seu auto-respeito, a sua união com o Divino; conversar, ser ouvida e assim rumar para novas experiências, fortalecida e cheia de vida.
Fazemos votos de êxito em sua jornada!
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Texto revisado por Cris
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