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UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DOS PERFUMES II

Atualizado dia 8/29/2007 3:46:27 PM em Autoconhecimento
por Valeria Trigueiro


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Conforme eu havia prometido, vamos continuar “passeando” pela História dos Perfumes. Demorou bastante desde que prometi, bem sei. Entretanto, “tempo” é algo que não dominamos. Ele é um Deus e nós aqui na Terra tentamos lidar com Ele da melhor forma possível... Bem, deixemos de blá blá blá e vamos direto ao ponto. Paramos no Século XVIII, mais exatamente na Feira Internacional de Paris, quando o perfume entra para o setor cosmético, lembram (https://www.somostodosum.com.br/clube/artigos.asp?id=6191)?

Ainda no Século XVIII, com os hábitos de higiene em voga, surgiram mais dois compartimentos nas residências, que até então não existiam, pelo menos nos moldes que conhecemos hoje: o quarto de banho e o, digamos, “toilet”, que era o lugar onde se encontrava o vaso sanitário que, aliás, é invenção de um poeta (É, faz sentido, alguém com sensibilidade para criar algo tão... privado!). Como os poetas têm tradição de serem incompreendidos, foi o que aconteceu com Sir John Harrington em 1596 que ao criar um vaso sanitário com sistema de descarga para a Rainha Elizabeth I, além da recusa por parte dela de usá-lo, alegando fazer muito barulho, foi ridicularizado no país. Não me surpreendi quando soube que a invenção foi logo “capitalizada” pelos franceses.

Bem, não é na história do vaso sanitário que estamos interessados, vocês devem estar pensando. Têm razão, até porque é longa e cheia de curiosidades. Deixo aqui a sugestão de uma visitinha na “Wikipedia”.

É claro que a princípio tanto os quartos de banho quanto os vasos sanitários eram privilégio da burguesia. De qualquer forma, o Século XIX confirmou a tendência para os hábitos higiênicos como necessidade básica (à época nem tão básica assim) para a saúde física, através de tratados médicos, incentivando o banho como um ato para purificação do corpo e da alma.

Os cuidados com a pele também, então, podiam ser notados e o principal responsável era o sabonete, que a essa altura ocupa um lugar de destaque na perfumaria, pois em 1791, um médico e químico francês chamado Nicolas Leblanc, conseguiu produzir artificialmente o carbonato de sódio, antes só encontrado nas plantas.

Assim, em 1834 um perfumista chamado Eugene Rimmel (daí o nome rímel para máscaras em vários idiomas) fundou a House of Rimmel para produzir cosméticos e foi um tremendo sucesso. Consta como de sua produção a primeira máscara cosmética industrializada. Hoje em dia faz parte da Coty.

Não podemos nos esquecer da importância do talco perfumado que também era símbolo de nobreza desde a Renascença, não só pelo aroma, mas também pela aparência nos rostos das mulheres da época. Entretanto, não só era usado no rosto, mas nas perucas, luvas e em forma de sachets. O uso do talco é bem anterior a essa época (Século V), porém com a industrialização tornou-se, digamos, mais popular.

Para dizer a verdade, quem popularizou – estou implicando com o verbo “popularizar”, já que não é bem o caso – ou tornou mais comum o uso do talco foi Maria Josephina (ela mesma, a imperatriz de Napoleão), já que se besuntava com o pó cheio de especiarias e flores, entre elas cravo, canela, baunilha e âmbar. Inclusive, vale registrar, ainda que como lenda, que quando Napoleão saía para a batalha, dias antes de sua volta, mandava avisá-la para parar de tomar banho, já que o cheiro que ela exalava com todos esses incrementos sem tomar banho ficava mais forte e era assim que ele gostava. Bem, a palavra “cheiro” aqui utilizada é bondade minha – licença poética.

À época da Revolução Francesa (1789/1799) foi lançado um perfume com o nome sugestivo (e de péssimo gosto, é claro) de “parfum à la guillotine” e parfum de la Nation, talvez com a intenção de evocar na memória que seriam novos tempos (o rei Luís XVI havia sido executado na guilhotina). Que “marqueteiro” era esse, meu Deus? Enfim, a sociedade parisiense já vivia em plena tradição de centro de luxo e da moda. Os aromas encontrados desta fase têm ênfase em especiarias.

Bem, voltemos ao Século XIX quando a Revolução Industrial vem transformar costumes, o comércio e a rotina das pessoas, até porque a revolução não só ocorreu nessa área, mas também no pensamento intelectual e científico. O desenvolvimento de novos métodos de extração com solventes voláteis dá novo fôlego ao comércio e surge a primeira fábrica para utilização desta técnica.

Ao final do Século, algo acontece para alegria dos perfumistas, que vem modificar radicalmente, eu ousaria dizer, o conceito de perfume, a síntese de matéria prima orgânica, ou seja, reprodução em laboratório das moléculas das plantas, recriando quimicamente o aroma de algumas flores como lírio, que até onde sabemos, é impossível de se retirar o óleo essencial por algum método, e criando novos aromas não existentes na Natureza.

Naquela época acreditava-se que a reprodução em laboratório democratizaria os aromas, tornando-os mais acessíveis ao público em geral, além de preservar a Natureza, já que não se precisaria tocar nas flores, plantas, cascas e sementes, bastando apenas reproduzi-los quimicamente. Isto sem falar nos animais que eram mortos para retirar das glândulas sexuais de uma espécie de cervo, o almíscar, e o âmbar matando-se baleias. Mais tarde descobriram que não precisaria matá-los, “apenas” encarcerá-los e tirar “na marra” apertando as gônadas dos animais. Essa também é uma longa história, que volto outro dia para contar.

Na realidade, eles reduziram os custos de fabricação dos perfumes, porém no que diz respeito à democratização dos aromas, há registro de haver ocorrido àquela época, porém não corresponde à realidade contemporânea. As diferenças entre um fabricante e outro era especialmente notada nos rótulos, já que os frascos eram praticamente padronizados, e os aromas mais comuns eram o de patchouli e almíscar.

No final do Século XIX, início do XX surge a Art Nouveau (1880/1914) fazendo com que a indústria se preocupe mais com a estética, incorporando um estilo mais feminino com uso de curvas e motivos florais. Assim, em 1900 um arquiteto desenha para um perfumista o primeiro frasco de vidro para um perfume chamado Millot, que se olhado de perfil parece uma mulher grávida.

Enfim, chegamos em 1907 com François Coty se associando a René Lalique, este designer de jóias, vidros e cristais. Coty criava aromas aliando óleos essenciais com essências sintéticas e creio que estava certo quando afirmou: “Dê a uma mulher o melhor produto que possa preparar, apresente-o em um frasco perfeito, de elegância sutil, porém de gosto impecável, comercialize a um preço razoável e você testemunhará o surgimento de um grande negócio, até então nunca visto.” - 1904.

Ele sabia o que estava dizendo. Hoje sua fábrica é detentora das mais famosas marcas de perfumes do mundo como Calvin Klein e Adidas, presente em mais de cem países.

E a história continua...

Valéria Trigueiro

Texto revisado por Cris

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