Upanishades: Maitre e Kaushitaki
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/29/2008 8:29:47 PM
DEUS
No princípio tudo era Deus, Único e infinito. Deus independente do norte e do sul, do leste e do oeste, e independente do que está acima ou abaixo. A sua infinitude está em toda parte. Nele não há nem acima, nem em frente, nem abaixo, Nele não existe o tempo. O Espírito Supremo é incomensurável, inapreensível, impossível de conceber, nunca nascido, para além do raciocínio, para além do pensamento. A sua vastidão é a vastidão do espaço. No fim dos mundos, todas as coisas dormem; só Ele permanece acordado na eternidade. Então, do seu espaço infinito, novos mundos se erguem e acordam. O universo é a vastidão do pensamento divino. O universo nasce na consciência de Deus, e para Ele retorna.
ALMA
A alma está entre as coisas deste mundo e que, contudo, está acima das coisas deste mundo. Ela é pura na paz e está além da vida do corpo e da mente, nunca nasce, nunca morre, é eterna. É a alma que dá consciência ao corpo. A Alma desce até o corpo como mensageira, sem que o corpo tenha consciência da sua chegada. Uma parte da consciência divina torna-se a nossa própria consciência finita, com poderes de definição e discriminação, e com concepções falsas quando a alma está totalmente confundida com o corpo.
O corpo humano é composto por elementos sutis e elementos grosseiros. A alma corporificada governa o corpo, mas está sob o poder dos elementos grosseiros e sutis que formam o corpo e também é influenciada pelos elementos da natureza (bondade, paixão e ignorância). Por causa desta confusão, a alma corporificada não pode estar consciente de Deus, que nela mora. A alma corporificada anda, assim, num redemoinho ao longo da corrente impetuosa das lamacentas águas das três condições da natureza e dos elementos sutis responsáveis pela formação do corpo. A alma então se torna insegura, vacilante, cheia de confusão e plena de desejos, faltando-lhe condições de concentração também pelas perturbações do orgulho. Enquanto a alma corporificada possuir pensamentos de “eu” e “meu”, está a perder-se como uma ave que fica presa na rede de uma armadilha.
A alma corporificada sem consciência de Deus é influenciada pelos elementos do corpo e da natureza tornando-se limitada pela escuridão que acompanha as obras. Esta alma corporificada ligada à natureza e ao corpo sofre os constantes ciclos de transmigração, nascendo de novo no bem ou no mal, sobe e desce no seu vaguear, sob o impulso dos dois poderes contrários.
A consciência da alma tem dois aspectos, puro e impuro: impuro quando está sob o domínio do corpo e da natureza. A consciência pura quando está totalmente livre dos impulsos do corpo e da natureza, sem nenhum desejo, sem nenhum apego. Quando a consciência está silenciosa penetra num mundo que em muito ultrapassa a consciência do mundo material, atingindo assim o seu fim.
A transmigração da alma ocorre devido a própria consciência da alma. Por isso é necessário manter a consciência pura, porque aquilo que a alma corporificada pensa, nisso se vai transformar: este é um dos mistérios da Eternidade.
Quando a alma corporificada afasta a sua consciência de todas as coisas exteriores, e quando a sua consciência abandona pacificamente as sensações interiores do corpo ela descansa na paz, livre dos movimentos do querer e do desejo. Quando a alma se entrega a Deus ela não volta ao corpo material e a natureza.
ENCONTRO DA ALMA COM DEUS
Contemplar Deus através do som e do silêncio: no som “OM” e no silêncio. Pelo som vamos para o silêncio, pelo silêncio vamos ao som. No final do “OM” está o silêncio, no começo do silêncio está o som “OM”. É um silêncio de júbilo. Contemplação no som em silêncio. É o final da jornada, onde medos e pesares não mais existem: firme, imóvel, eterno e imortal, O fim da meditação é a imortalidade, união com deus e paz. Através da visão da harmonia entre som e silêncio que a alma alcança Deus.
Tal como o fogo, sem combustível, encontra a paz no seu lugar de repouso, assim também, quando os pensamentos se tornam silêncio, a alma encontra a paz na sua própria origem. Quando a alma encontra a paz da sua origem, então acabam aquelas falsas inclinações, que eram o resultado de ações anteriores, realizadas sob o engano dos sentidos. Não há palavras que possam descrever o júbilo da alma cujas impurezas são lavadas numa meditação profunda. Somente os que sentem este júbilo sabem o que é.
Tal como a água se torna uma com a água, o fogo com o fogo e o ar com o ar, assim também através da meditação a consciência da alma se torna uma com a consciência divina alcançando a liberdade final.
Na verdade, a consciência é a fonte da escravidão e também a fonte da libertação. Estar preso às coisas deste mundo é escravidão, estar livres das coisas do mundo é libertação.
UPANISHADE KAUSHITAKI
ADORAÇÃO DE KAUSHITAKI A DEUS
No Sol nascente dizia: Tu, que dás a liberdade, livra-me dos meus pecados. Quando o Sol ia a meio caminho no céu dizia: Tu que estás no alto e dás a liberdade, coloca-me no alto e livra-me dos meus pecados. No pôr do Sol dizia: Tu, que dás a liberdade plena, livra-me dos meus pecados.
PRATARDANA E INDRA
Pradardana lutou a luta interior com toda sua alma e assim alcançou a casa de Indra, a casa do amor por Deus. Indra disse-lhe: “Pradardana, pede um desejo”. Pradardana respondeu: “Peço o desejo que tu consideres que é o melhor para a humanidade”. Indra disse: “Um mestre não impõe um desejo ao seu pupilo”. Pradardana respondeu: “Então não pedirei qualquer desejo”. Indra disse a Pradardana: “O melhor para o homem é conhecer Deus. Não é o discurso que deveríamos conhecer, deveríamos conhecer quem discursou. Não são as coisas que foram vistas que deveríamos querer conhecer, deveríamos conhecer quem as criou. Não são os sons que deveríamos querer conhecer, deveríamos conhecer quem os elaborou. Não é a mente que deveríamos querer conhecer, deveríamos conhecer quem pensou”.
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