Vagalume a pilha




Autor Renata Kindle
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 02/10/2014 15:46:20
Hoje acordei no mínimo muito diferente da pessoa que costumo ser. Rio de meu próprio pensamento, que não mede esforços para me afrontar. Chamam-me de louca... tá, até pode ser que eu seja uma, mas tento me convencer de que realmente não sou.
Sinto-me um vagalume a pilha. Calma, explico o que isso significa. Significa que enquanto vou andando em frente, vou iluminando o caminho para quem vem logo após. Mas um dia é preciso trocar a pilha para continuar iluminando.
Não sou nenhuma samaritana, embora sonhe com a paz mundial! Não sou a melhor amiga do mundo, nem a melhor filha, nem a melhor mãe. Sou é alguém muito metida a besta, que acha que pode tudo ou quase isso, mas o meu coração é tão vasto como o mar que, misturando-se com o céu no fim, perde-se no horizonte e isso é ambivalente, ao mesmo tempo que é um salvo conduto, é também uma condenação.
Mas não sou tão boa assim, sou humana e, portanto, choro, brigo, xingo, falo palavrão, sinto raiva... que atire o primeiro celular aquele que nunca teve nenhuma dessas reações! Mas tudo isso é passageiro. O bom mesmo é ser gentil, ter cortesia nas palavras, amor nos gestos, nos maiores e nos menos úteis. O bom mesmo é ter um sorriso de verdade nos lábios, daqueles que saltam de dentro, é uma ligação direta entre a nossa alma e o nosso rosto.
Esse sorriso transporta a nossa melhor parte para quem precisa não das nossas palavras perfeitas e cuidadosamente escolhidas, mas do nosso conforto, ou só da nossa companhia. Esse sorriso sim, é capaz de causar efeitos curativos a qualquer dor.
Engraçado isso, acolher é também entregar-se a alguém, é receber este alguém como um todo, dando-lhe a chance de ser alguém, de ser pessoa que sente, que chora e que ri.
Então, hoje estou assim: um vagalume a pilhas e é necessário trocá-las por pilhas novas, que sejam eficazes para manter a lanterna acesa para iluminar a escuridão de quem nos procura.
E como trocamos nossas pilhas? Ah, essa é a melhor parte. Os bons livros, o terapeuta, os amigos do peito, a mãe, o pai, o filho, nossas pessoas queridas e importantes... todos esses nos ajudam a trocarmos nossas pilhas. Particularmente faço isso agora, escrevendo, deixando que o pensamento corra sem limitá-lo ou censurá-lo. Faço isso quando me permito ser transportada na letra de uma canção baranga qualquer afinal, aquela suposta baranguice é o que estou pensando ou sentindo naquele instante, então calha. Mas tenho outros truques também.
Enxergo a beleza do pôr-do-sol e me sinto tão especial por isso! Vejo a beleza das asas de uma borboleta que passa alheia à minha presença, ouço o som do mar numa concha, piso descalça na terra, sinto o cheiro da folha de um eucalipto, afago um animal, uma criança, assisto a um bom filme enquanto devoro sem a menor culpa uma caixa de chocolate e o que é melhor, de pijama! Nesses momentos, sinto-me verdadeiramente livre das satisfações, dos porquês... Por que precisamos de tantos porquês em nossas vidas? Muitas vezes, alienarmo-nos de tantos porquês já nos faz acender a nossa lanterna de vagalume e iluminamos os caminhos de quem se põe a nos seguir. Despirmo-nos de nossas roupas pesadas para nos sentirmos um com o universo nos faz enxergar a verdadeira beleza que trazemos como seres humanos!








Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |