VIOLÊNCIA CONTRA O FEMININO
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Autor Claudette Grazziotin
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 8/16/2005 6:16:55 PM
Sander sempre me surpreende com suas mensagens que aportam no meu micro trazendo textos fortes e significantes. Eu já deveria ter me acostumado, porém sempre mexem comigo e me obrigam a acrescentar às suas, mais algumas considerações. Não porque as palavras de Sander necessitem respaldo, que elas dão seu recado e muito bem por si só, mas porque me fere na alma esta agressão estúpida, despropositada e humilhante contra a mulher.
Hoje a mulher está mais consciente de seu valor e seus direitos, defende-se mais, grita e já existem órgãos especializados em lhe dar apoio e proteção mais efetivos; embora esses avanços, entretanto, continua assustador o número de ataques à dignidade feminina.
Por justiça, devemos lembrar que existem casos em que a mulher atrai essa violência com sua própria agressividade, mas este número de ocorrências, onde a culpa lhe é imputada, é muito pequeno se comparado aos índices assustadores de violência despótica, doentia e gratuita que lhe é desferida pelo elemento masculino com seu deturpado sentimento de posse no ambiente doméstico.
Só uma mulher vítima de violência moral, psicológica, sexual e física, impotente diante da prepotência, arrogância e superior força física do agressor, sabe verdadeiramente e conhece as profundas sequelas de degradação, humilhação e dor que se instalam latejantes na chaga aberta em sua alma e corpo; que podem ser amenizadas pelo tempo e reforço de sua auto-estima e amor, mas estarão marcadas indelevelmente em seu coração, como se marca um animal à ferro e fogo.
Só um filho que na impotência de sua fragilidade e acossado pela amedrontadora ameaça à sua integridade, teve de assistir paralisado e em choque à investida de um pai agressor transtornado e violento sobre sua mãe, sem poder chorar ou gritar ou esboçar qualquer gesto de proteção e amparo, sabe o que é o terror do sofrimento de experimentar a violência, o aguilhão, o medo dentro de sua própria casa, lugar que deveria ser o seu refúgio protetor contra os perigos, porque sentiu e sofreu no seu coração e muitas vezes também na pele, essa irreparável maldade.
Os demais podem somente imaginar a miserável condição e gravidade, o desamparo desses sobreviventes.
O mais grave é que nesse atentado agressivo e desleal à mulher, não é só o ser humano feminino quem perde. Perde a humanidade como um todo pelo que a mulher representa; perde, principalmente, o homem que violenta, machuca, bate, infelizmente, na sua porção íntima mais bonita, mais significativa e essencial, sua alma; espezinha aquela que pode conectá-lo com sua verdadeira identidade. Sua identidade divina.
Claudette
"Violência contra o Feminino
Talvez eu esteja fora do mundo. Talvez, imbuído em escrever sobre o amor, tenha me esquecido do que anda acontecendo.
Ontem à noite, quarta-feira, fui tomar meu tradicional café no Bourbon Ipiranga. Por sinal, acabei tomando um capuccino. Esses cafés me servem para relaxar, para ouvir o som das pessoas, para falar em silêncio.
Havia uma mesa à minha frente com algumas mulheres e dois casais. Como nessas noites nada tenho para fazer, fiquei observando. Ele chegou com duas crianças e tentou beijá-la; ela se esquivou. Ele passou por mim e senti que algo estava errado. Tinha um cheiro de algo errado no ar. Talvez 10 ou 15 minutos, não sei bem ao certo, ele voltou e estupidamente tomou o celular das mãos dela. Ela fez algum movimento de reação e ele de alguma forma a agrediu. Ela ficou chorando e outras duas moças foram lhe confortar. Os dados abaixo eu retirei de um site que fala sobre a violência que as mulheres sofrem. Tinha noção, mas mesmo assim fiquei surpreso.
O marido como principal agressor no Brasil e no mundo
No universo pesquisado 17% das entrevistadas reconhecem já ter sofrido algum tipo de violência doméstica. Deste total, 54% afirma ter sofrido violência física, seguida pela violência psicológica (24%), violência moral (14%) e, apenas, 7% assumiu ter sofrido violência sexual doméstica.
Das mulheres que reconhecem, nesta pesquisa, que já sofreram violência doméstica, 66% respondeu ser o marido/companheiro o autor da agressão. A pesquisa ratifica dados da OMS, segundo os quais metade dos crimes cometidos contra a mulher é de autoria dos maridos em todo o mundo.
Dados históricos divulgados em pesquisas anteriores já mostravam que o sentimento de posse do homem, o ciúme e o uso de bebidas alcoólicas são as principais causas da violência doméstica.
Fonte: Portal da Violência contra a mulher
O silêncio como principal perigo para a continuidade da violência
A importância da manutenção da família para as mulheres e a fragilidade na apuração e punição da violência doméstica são fatores que desestimulam a denúncia da vítima. A violência contra a mulher é praticada, portanto, de forma continuada. Para as que reconhecem já terem sido agredidas, 50% afirma ter sofrido agressão quatro ou mais vezes. Outros 28% só admitem uma única agressão e 21% já foi agredido duas ou três vezes.
Por favor, vamos parar com isso. Não deixem que homens batam em vocês. Não deixem que homens as firam. Vamos parar com isso. Vamos organizar essa bagunça. Sequem suas lágrimas, peguem suas malas e partam. Passem na primeira delegacia e botem a boca no trombone. Façam queixa desse tipo de sujeito que ainda não aprendeu o verbo. Deixem que experimentem o sol nascer quadrado.
Onde fomos parar, Margarida! O que aconteceu, Amélia? O que é isso no seu rosto, Aurora? Chega de desculpas esfarrapadas. Corações em frangalhos não cuidam bem nem de si, imagina dos seus filhos.
Nunca peço que passem adiante meus artigos mas este, em especial, pediria a bondade que não parasse em suas caixas de e-mail. Penso que alguém possa estar sendo agredida e, quem sabe ouvindo palavras de outro homem, acorde desse pesadelo.
Diariamente penso que o mundo pode ser mais carinhoso. Sei que podemos chegar lá. Sei que amor não existe só nas canções românticas, nos versos do Quintana e do Drummond. Mas precisamos querer isso. Tenho a sensação que querer isso profundamente é não achar que é normal que um outro ser derrame lágrimas. Lágrimas nunca são necessárias; se fossem seriam doces.
Sander Bazetti"
Artigos - Confidências do Cotidiano.
Ilustração: William Bouguereau, Alma Parens Lâme parentale The Motherland
Texto revisado por Cris
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