você está no seu lugar de filho?




Autor Alex Possato
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 08/11/2012 14:22:35
Muitas pessoas são dependentes dos pais. Não estou dizendo na questão financeira, somente, mas principalmente, na questão emocional. Sem saber, inconscientemente carregamos as dores, os medos, as rejeições, os conflitos, as dúvidas, os traumas, os bloqueios, os anseios deles, e assim, não conseguimos desenvolver nossa vida em plenitude.
Sabe aquela sensação de que "estou devendo algo a eles"? Ou talvez, a sensação incômoda de estar grudado aos pais, vendo eles interferirem na própria vida, seja nos assuntos de relacionamento, seja nos assuntos profissionais ou financeiros? Isso sem contar nos casos onde, explicitamente, temos uma relação de mal estar e confronto com eles. Aí é óbvia a ligação emocional, não é mesmo?
Carregamos as dores do pai e da mãe por amor a eles. Quando crianças, presenciamos eles sofrendo e não entendemos. Achamos que é por nossa causa. E queremos muito sermos vistos, aprovados, validados por eles. Isso não ocorre... não na medida em que necessitamos. Que é imensa! Então, inconscientemente, nos identificamos com os problemas que sentimos neles: quem sabe se eu ajudar papai e mamãe, eles me verão. Por isso, nem sempre é necessário um trauma na infância para detonar um comportamento desconfortável para nós ou um nó emocional. Naturalmente temos a tendência de carregar o peso dos pais nas nossas costas. E inconscientemente também, eles, muitas vezes, fazem questão de colocar mais peso.
O que significa colocar peso? Vou ser bem prático: eles nos trazem seus problemas, suas dúvidas, seus medos, suas neuras, suas questões de saúde, financeiras, etc., e energeticamente nós, como filhos amorosos, nos encarregamos de acolher este peso. Não iremos resolver nunca, porque isso não dá. Mas nós sofremos juntos, e por mais que desejemos que a situação se resolva, no fundo, não queremos isso. Porque carregar o peso dos pais é uma forma inconsciente de sermos vistos e reconhecidos por eles. Logo, necessitamos desse peso. Nos sentimos responsáveis por eles e queremos resolver estas questões.
Eu sou o pequeno, você é o grande
Na técnica de constelação familiar sistêmica, que é extremamente eficaz e libertadora, usamos a frase "eu sou o pequeno, você é o grande", em determinado momento da dinâmica. Quando eu utilizo essa frase, já existe uma situação onde o "pai ou mãe" do cliente, metaforicamente, está no seu lugar como pai e mãe, e o cliente, está no seu lugar como filho. Embora seja o óbvio - meu pai e minha mãe vieram antes, me deram a vida, portanto, são os grandes, normalmente isso não ocorre desta forma. Pai e mãe têm a tendência de se comportar como "filhos" do filho, pedindo conselhos, despejando seus problemas, como uma criança vem da escola reclamando dos coleguinhas e dos professores. E nós, filhos, acabamos nos colocando como os grandes, os que sabem, os que podem dar conselhos ou até mesmo soluções aos problemas deles. Se você já entrou neste emaranhamento, sabe que é uma história que nunca tem fim, não é mesmo? Resolve-se uma coisa, mas logo depois, lá vem os pais novamente... E você também, percebendo a sua atitude, deve entender que está procurando resolver os problemas dos pais, e quando eles não vêm, você vai atrás. Verdade ou não? Pois é, mas você é o pequeno, eles são os grandes. Em algum momento, essa relação emocional de dependência deve acabar. Isso suga muita energia da sua vida. Esta energia seria naturalmente direcionada para suas relações, para seu trabalho, para a sua saúde, para o seu prazer, e está sendo perdida numa relação emocionalmente confusa. Os pais cuidam dos problemas deles. Você cuida do seu. Assim que trabalhamos na constelação familiar, e assim que vemos profundas mudanças positivas para os clientes e, que muitas vezes, reverbera até no contexto familiar.
A paz
Ser pequeno é um gesto de extrema humildade. É reconhecer que os pais, com todos os problemas do mundo que eles têm, são os pais certos para você. Com todas as dores que eles provocaram, com tudo o que eles lhe fizeram, de bom e de mau, era o que você precisa para ser quem você é hoje. E entendo: existem pessoas com passado terrível, situações extremamente dolorosas. Mas estou falando sob um olhar sistêmico, maior, onde existe uma lógica inconsciente que vai além da relação entre pais e filhos: nesta lógica, o importante é que todas estas situações transformaram você numa pessoa forte, capaz, um sobrevivente. Se você olhar para trás dos pais, verá avós que também tiveram uma série de atitudes emocionais distorcidas para com seus pais. Olhando ainda mais para o passado, você encontrará situações de abandono, guerra, traições, perdas, migrações e imigrações, mortes, descaso, culpas, fatos escondidos, situações vergonhosas, etc. Tudo isso, o que se sabe e o que não se sabe, faz parte do seu passado familiar. São suas raízes. O terreno pelo qual suas raízes cresceram tinha pedra, falta de água, ervas daninhas, e muitos outros problemas. E graças a isso você está aqui. Estes problemas trazem dores mal resolvidas ao seu sistema. São essas dores que seus pais jogam sobre você. Porque eles não olharam para trás, para o passado. Você, olhando, reconhecendo tudo como foi, vivenciando isso no seu corpo, emoções e na sua alma, pode inclinar seu corpo e permitir que tudo e todos existam da maneira como são. Mesmo que você não conheça a sua história. E aí, fazendo isso com profunda reverência, perceberá que já pode deixar o peso que carrega do passado aos pés dos pais. Deixar tudo: todas as cobranças. Todos os medos. Todos os "nãos", as dores, os sintomas. Todos os comportamentos desconfortáveis. Os vícios. As repetições de padrões. Pode se tornar criança, se tornar pequeno. Pode simplesmente ser você, retransmitindo somente a força, o amor e todos os dons que você tem, e que também tem conexão com este passado. Diga: eu sou o pequeno, vocês são os grandes. E prossiga a sua vida em paz. A sua vida. Em paz.
Alex Possato é terapeuta, coach e trainer de cursos de constelação familiar - www.expressaodoser.com









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