Voltar a ouvir o canto dos pássaros... São Paulo terra de ninguém?
Atualizado dia 02/06/2006 09:34:59 em Autoconhecimentopor Maria Cristina Gonçalves
Inverno no meu coração,
meu mundo está em suas mãos,
frio e garoa na escuridão,
sem São Paulo, o meu dono é a solidão...”
Banda 365
A cidade é ruidosa, turbulenta, caótica: São Paulo. Os olhos estressados e apressados a vêem assim...
Mas São Paulo tem outra face. Hoje me permiti ouvir o canto dos pássaros entremeado ao barulho de aviões. Os acordes de violão emanados do apartamento ao lado, as risadas das crianças que brincam na pracinha pública. São Paulo é frágil, carente de amor e de olhares mais generosos. Devia ser amada por ser a mãe que acolhe pessoas de todas as regiões deste país e de todos os lugares deste mundo. Apesar de ter nascido aqui não posso chamá-la de minha cidade, porque ela é a cidade de todos. Faz o papel da mãe superprotetora que dá sem receber. Que engano, querida cidade, você deveria se dar mais valor!
Quem, no mundo de hoje, ainda abre os braços para os que chegam, sem perguntar nada? Quem oferece tantos empregos, tantas opções de lazer gratuitamente? Os migrantes de todo o país vêm para cá buscando melhores condições de vida, mas na hora de elogiar, muitas vezes (inconscientemente?) dizem: “a minha cidade natal é que é boa para se viver...”
A obrigação dos “estrangeiros” é, no mínimo, tratar a cidade que os recebeu com respeito e, porque não, admiração. E nós, paulistanos, como deixamos isso acontecer? Nós também não defendemos a nossa cidade e deveríamos ser os primeiros a amá-la, não com sentimentos xenófobos, mas com zelo e consideração. São Paulo está refém do nosso descaso. É como a mulher ignorada, o marido desrespeitado, o funcionário sem voz... Se não fizermos mais pelo nosso próprio espaço, vamos cobrar do governo, das forças sobrenaturais, de Deus? Faça-me o favor! Sejamos maduros para cuidar daquilo que é nosso.
Você pode estar pensando... mas a cidade é tão violenta, tem um trânsito caótico, fila pra tudo, onde ela vê essa beleza? Então, já que é assim, vamos cruzar os braços? Determinar nossa falência? Espremer a laranja e pôr fora o bagaço?
Não! Vamos investir no que ela tem de melhor, vamos ser mais cidadãos conscientes dos nossos direitos e deveres. Vamos fiscalizar as autoridades e o bom uso do dinheiro público. Vamos valorizar os oásis que ainda existem na selva de concreto. Esse papo de megalópole, pólo industrial, coração do Brasil, cidade dos negócios, já deu! Quero uma cidade mais humana, mais com a cara da gente. Tragam a simplicidade e o jeito hospitaleiro do interior para cá, tragam experiências positivas, sejam européias, africanas, americanas, melhore o seu pedaço de mundo: o prédio, o ambiente de trabalho, a creche, o trânsito... Devolvam flores à cidade que lhes deu guarida, amparo ou, pelo menos, novos desafios.
No dia do combate entre a Polícia e o PCC (Primeiro Comando da Capital), São Paulo pôde perceber que nada era tão urgente assim, que uma força maior poderia pará-la a qualquer momento. E não é que as pessoas se solidarizaram naquele dia? Talvez até a cidade tenha dormido mais cedo...
Que tal uma blitz do bem? Pare São Paulo! Para que as pessoas percebam o ar que respiram, o sol por entre os arranha-céus, os minutos perdidos em discussões inúteis. Declaro 1 minuto PCC - Para Curtir a Cidade - de manhã, à tarde e à noite!
Texto revisado por Cris
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