A Era da Superficialidade
Atualizado dia 07/06/2014 22:21:30 em Corpo e Mentepor Ton Alves
A humanidade parece ter perdido o sentido de maravilhar-se diante do som extasiante das águas cristalinas de um córrego no meio da mata, e, se encher de espanto e admiração ao contemplar o céu estrelado, o sorriso de uma criança ou o leve voejar de uma borboleta.
Poucas pessoas sabem o que é, de verdade, o frescor de uma tarde de outono. Menos ainda as que se deleitam com uma amena e sincera conversa com um amigo, bem diante do sempre irrepetível espetáculo do por do sol. Os sons da natureza e o silêncio gerador dos nobres sentimentos foram abafados pelos aparelhos celulares, cada vez mais sofisticados e banais.
E ninguém é mais capaz de ficar consigo mesmo, num diálogo reconfortante com a própria alma. A internet, a televisão, os tablets com seus inúmeros aplicativos é o novo ópio a anestesiar os sentimentos e emoções.
Os relacionamentos ganharam a superficialidade dos cliques. Amigos são os “contatos” adicionados em páginas das redes sociais. A virtualidade substituiu os abraços, os olhos nos olhos. E a sinceridade perdeu totalmente sua validade ante as possibilidades quase infinitas dos “bits”.
Há um medo estranho da interioridade. Uma aversão feroz à voz que vem de dentro - aquela que nunca mente, que nos aconselha, nos aplaude, nos julga - que sempre nos acompanha. É preferível as “curtidas”, os “likes”, os compartilhamentos de notícias e imagens cada vez mais vazias de conteúdo, de compreensão.
INDIFERENÇA E EGOÍSMO
Um indiferentismo cínico revela a suprema desumanidade que transforma todos em inimigos da própria humanidade. Diante das desgraças alheias, não há como ser o “samaritano compassivo” da parábola bíblica. Todos são escribas e sacerdotes que passam rápido e ao longe. Preocupados com os próprios bem estar e segurança.
Esse sentimento de absurdo parece não incomodar a todos indistintamente. Há até certa ufania pela “redenção” trazida pelas máquinas e pelos “gadgets” modernosos. Há até quem louve a moderníssima facilidade de comunicação, esquecendo-se que a rapidez substituiu a qualidade e arrasou a profundidade dos contatos e encontros cibernéticos. Mas, uns poucos, conscientes e antenados com as coisas do espírito, sofrem com este estado de coisa.
Meu amigo Batista Custódio é uma destas pessoas que, como eu e muitos outros, reconhecem o que há de positivo neste acelerado desenvolvimento, mas, percebem e identificam o mal, muito maior, que vem, como um vírus, embutido nestes avanços tecnológicos.
Em meio aos superficiais e efêmeros contatos eletrônicos, pode-se sentir, permeando a vida e as relações, uma insidiosa melancolia. Um isolamento equiparado ao do hebreu exilado em terras babilônicas, enche os corações. Porque palavras formais de afeto desacompanhadas da garantia sensível do sorriso e do brilho no olhar perdem sua força e apenas realçam a solidão.
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 6
Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |