A Lasanha Congelada, a Aeróbica e a Realização



Autor Marcelo Hindi
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 9/30/2012 11:35:18 AM
Quando o assunto é ‘autoconhecimento e ‘autoajuda, a maioria de nós têm boas dicas para oferecer a quem se dispuser a ouvir e a compartilhar, entretanto, mesmo que saibamos ao menos um pouco do que pode nos servir tão bem, nos momentos em que mais precisamos, parece que esses conhecimentos perdem a serventia, e acabamos por nos agarrar àquilo no que mais temos prática - e que chamo de auxílio mecanizado. Não há nenhum problema quando utilizamos o auxílio mecanizado - muito pelo contrário, é bastante útil - por exemplo, em momentos de desesperança nos quais nos agarramos à fé e sentimos uma nova força que restaura nossas disposições. Isso é ótimo. Contudo, de modo geral, não ampliamos tanto nossas habilidades, convertendo nossos conhecimentos, inicialmente teóricos, em ferramentas práticas e realizáveis. E é esse o desafio que destaco: viver o que conhecemos mais do que falar sobre o que conhecemos. Em uma reunião de pessoas afins ao autoconhecimento, é muito comum que as conversas sejam ricas de elementos teóricos, estimulantes e coerentes, e que os discursos sejam agradáveis, sensatos e bastante motivantes, principalmente quando refletimos sobre nossas dores e angústias. Nesse momento eu convoco a máxima atenção do amigo leitor: do autoconhecimento, o ‘conhecimento é priorizado e o ‘auto... Bem, o ‘auto fica para momentos de reflexão. Sobra ‘conhecimento e falta ‘auto; sobra teorização e falta utilização, prática. E o sofrimento é nosso mesmo, por isso esse assunto requer tanto destaque.
São dois pontos importantíssimos em nossas vidas: atenção ao ‘auto - que é voltar o olhar da busca do conhecimento para si próprio - e o uso dos ‘conhecimentos quando eles são justamente mais necessários. O ‘auto do autoconhecimento é deixado frequentemente em segundo plano, pois é mais fácil analisar e teorizar a respeito de outra pessoa, ou até de um modelo hipotético - algum ente imaginado ou desconhecido -, do que olhar-se e dedicar a este olhar a autêntica e franca busca de conhecimentos sobre si próprio. Essa segunda parte é interessantíssima, pois aquilo que sabemos que pode, eventualmente, funcionar, como a paz obtida por meio do relaxamento e da meditação terá mais serventia quando estivermos lidando com situações de stress do que quando estamos no quartinho de meditações, com incenso e música relaxante.
Considere que a pauta trata da arte de cozinhar bem, de preparar pratos requintados, nutritivos e saborosos. Aprender a cozinhar, falar sobre especiarias, tratar sobre os vários ingredientes, alquímicas receitas e modos de preparo, utensílios e técnicas mais diversas não resulta necessariamente em habilidade para preparar um bom prato. Além disso, falar sobre um bom prato não sacia a fome. Sendo assim, é necessário que destaquemos a utilidade dos conhecimentos adquiridos, aliando-os às necessidades que se apresentarem. Caso contrário, quando surgir uma necessidade elementar como sentir fome, a teoria não bastará para cumprir com o escopo que é saciar a fome com o requinte aprendido, e, nesse caso, que a necessidade seja satisfeita de modo costumeiro mesmo - que chamei no início do texto de ‘auxílio mecanizado: coloquemos a lasanha congelada no micro-ondas. E lá se vão boas aulas de gastronomia!
Mas a que se destinava o aprendizado da arte de cozinhar e seus belos detalhes? A cozinhar bem e com requinte, para saciar a fome do corpo e da mente? Então o conhecimento adquirido precisará ser utilizado diversas vezes; praticado muitas vezes, para substituir as soluções e auxílios mecanizados, e desse modo, se tornarem conhecimentos dinamicamente disponíveis. Percebe amigo leitor, que o conhecimento tem sua utilidade, e quando a necessidade surge, é nossa oportunidade de destinarmos todo nosso aprendizado em favor daquilo que nos apresenta a vida? O conhecimento somente é transformado em recurso quando em uso, caso contrário é somente informação potencial, e serve apenas à composição de belos discursos. Assim como a necessidade de saciar a fome convoca o uso dos conhecimentos adquiridos em aulas de gastronomia, para que estes tenham sua utilidade efetivada, aquilo que conhecemos, e que sabemos sobre nós mesmos e sobre a vida só sacia a fome de ‘Viver Bem se agirmos quando mais precisarmos desses conhecimentos.
Do mesmo modo que a prática de atividades físicas disponibiliza com crescente eficiência recursos do nosso corpo, como flexibilidade, versatilidade, a arte gastronômica, oferece a mesma agilidade, e também a audácia que precisamos para utilizar recursos (condimentos, por exemplo) novos, bem como a astúcia para sabermos ordenar sequencialmente os alimentos conforme seu tempo de cozimento, método de conservação e finalidade de cada um, tais qualidades ou virtudes são bem desenvolvidas igualmente por meio do autoconhecimento. Mas para que nossa habilidade de harmonização seja crescente, essas qualidades - flexibilidade, versatilidade, astúcia e audácia - precisam resultar de nossa dedicação consciente ao "conhecimento do auto", ou seja, o olhar comprometido em aprender que dirigimos a nós mesmos, e a disposição de associar as descobertas feitas por meio do autoconhecimento com as informações teóricas que temos sobre viver bem, saúde integral, qualidade de vida, paz e contentamento, evolução, etc.
Além dos quatro elementos (acima citados) essenciais à nossa qualidade de vida - e ao agir em favor do progresso e da elevação - há um quinto que merece grande destaque: a humildade. Virtude da linha do Amor, por excelência, esta característica é a chave para todas as portas; a possibilidade de adaptação e abertura de todo aprendizado e serviço que um caminhante da Luz requer. E autoconhecimento convoca intensamente uma boa dose dessa qualidade da Alma. É preciso muita, mas muita humildade para voltar o olhar para si próprio de modo franco, honesto e reconhecer a própria necessidade. É preciso muita humildade para sair do "eu sei sobre esse assunto e posso falar sobre ele" para o "eu necessito desses recursos que conheço e quero incorporá-los à minha estrutura". O auto, do autoconhecimento, é realizável com humildade. É preciso de humildade para sair do "eu sei" para o "eu preciso, eu uso... eu olho pra mim e reconheço meus limites, minhas dificuldades".
E, embora seja muito mais fácil reconhecer seus limites quando está tudo "numa boa", nos momentos de tranquilidade e de quietude circundante e de acontecimentos agradáveis, é praticável concretizar o próprio potencial, desenvolver habilidades, ampliar o uso de nossos recursos quando estamos em movimento, em ação. É na ação, na relação - na comunicação consigo, com o meio, com a vida - e no movimento que reconhecemos as oportunidades. Então, mãos a obra! Temos muito que fazer: olhar para nós mesmos, aprendermos e nos relacionarmos com nossas vidas praticando aquilo que bem conhecemos.
Ótima semana
Marcelo Hindi - Psicoterapeuta Holístico









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