ASPECTOS PSÍQUICOS DAS ALERGIAS
Autor Priscila Gaspar
Assunto Corpo e MenteAtualizado em 14/07/2006 22:48:50
A reação alérgica corresponde a uma defesa exacerbada do organismo frente ao ataque de agentes do ambiente que são vistos, pelo organismo, como agressores. É interessante notar que, diante de um determinado alérgeno, ou seja, de uma substância que provoque a reação alérgica, cada pessoa reage de uma forma totalmente distinta de outra. O que para alguns nada significa, para outros pode provocar coceira, vermelhidão na pele, problemas gastrointestinais ou respiratórios.
Assim como frente aos acontecimentos da vida cada qual reage de uma maneira, conforme sua subjetividade, frente aos agentes agressores do ambiente a resposta também é própria do sujeito. Além da reação ser peculiar, como o que ocorre no psiquismo, é importante lembrar que o sistema imunológico (de defesa contra os agressores) está intimamente ligado ao funcionamento neuroendócrino, ou seja, depende de neurotransmissores e de hormônios. Estes, por sua vez, sofrem influência e são modificados por pensamentos e emoções.
Como conciliar os aspectos psíquicos às reações do organismo? Não é fácil responder a essa questão, pois são muitos os fatores que determinam a doença e, também, porque os mecanismos de interação entre o sistema imunológico e os aspectos emocionais ainda não foram totalmente desvendados. Sabemos que, muitas vezes, o organismo manifesta sintomas representativos dos conflitos que existentes no psiquismo. Conflitos de identidade e relacionados à forma de lidar com o mundo externo tendem a ser representados por meio dos problemas imunológicos.
Desde bem pequenos aprendemos a reconhecer o “eu” e distingüí-lo do mundo externo, ou seja, do “não eu”. No plano psíquico esta distinção se dá com o amadurecimento. Para um bebê recém-nascido não há diferenças entre ele próprio e o seio da mãe. Paralelamente a este reconhecimento psíquico, ocorre também o amadurecimento do sistema imunológico. O organismo do bebê aprende a reconhecer as proteínas que lhe são próprias (eu) e distingüí-las das que não são (não eu). O bebê aprende que o mundo externo pode oferecer coisas boas, que lhe dão experiências de satisfação, e coisas “más”, que lhe causam frustração ou mesmo dor. Muitas vezes o bebê fica confuso quanto ao que realmente represente uma ameaça externa, criando a necessidade de defesas exageradas.
Quando o mundo externo é visto como uma constante ameaça, partículas inócuas de poeira ou qualquer material que entre em contato com a pele pode ser, erroneamente, interpretado como um perigo, disparando o sinal de alarme do sistema imunológico e desencadeando a reação alérgica. Há muito tempo que é conhecida a relação entre as crises emocionais e a subseqüente crise alérgica em pacientes asmáticos, entre outros tipos de doenças alérgicas. Ainda hoje a principal medida, na maioria dos tratamentos, é evitar o contato com o agente causador da alergia. No entanto, alguns pacientes são alérgicos a tantas substâncias que, seria necessário mudar de planeta para evitá-las.
A pele, que representa a fronteira entre o “eu” e o “não eu” é um dos órgãos mais afetados por alergias justamente por ser a interface entre o mundo interno e o externo. É interessante observar que a pele é, simultaneamente, a barreira que evita e a superfície que permite o contato com o mundo externo. Logo, o contato com o mundo externo é simbolizado pela pele e a forma como a pessoa lida psiquicamente com os agentes exteriores tem na pele a sua representação. A dermatite de contato, por exemplo, é uma reação alérgica quando em contato com uma substância alérgena. Pode ser um tecido, uma bijuteria, a pulseira do relógio ou também substâncias presentes em cosméticos e perfumarias. No plano psíquico, a dermatite de contato simboliza a dificuldade de lidar com o “não “eu” e a crença de que o externo que se aproxima é sempre um inimigo. De forma análoga, podemos verificar o significado psíquico de outros tipos de alergias.
É possível curar doenças alérgicas tratando os aspectos emocionais? A psicoterapia tem a pretensão de tratar alergias ou outras manifestações orgânicas, tampouco substituir os tratamentos convencionais. Entretanto, sabemos que, um acompanhamento psicoterápico permite ao paciente lidar melhor com as situações externas, descobrindo que aspectos representam ameaças para ele. Permite também distingüir as ameaças reais das imaginárias, levando-o a lidar com a realidade psíquica e a externa de forma mais amena Enfatizamos que a psiocoterapia não vai tratar diretamente da alergia, mas dos aspectos psíquicos relacionados, como a forma de lidar com o mundo externo, por exemplo: o que é ameaçador para o paciente, porque ele tem tanta necessidade de se defender, a agressividade contida, etc. . Observa-se na clínica que, com o tempo, as reações alérgicas se tornam mais suaves e cada vez menos freqüentes.
Avaliação: 5 | Votos: 41
Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected] E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Corpo e Mente clicando aqui. |
